Atos dos Apóstolos, de início, registra que a
obra de Jesus foi continuada pelo Espírito Santo, através dos apóstolos. Eles,
no entanto, não predominam no livro dos Atos, mas o Espírito Santo.O Jesus é o
assunto principal nos evangelhos e, em comparação, pouco é dito sobre o
Espírito Santo. Mas, em Atos, o Espírito Santo é o Consolador, Ajudador e
Mestre. Tudo na vida e na pregação dos apóstolos e dos crentes primitivos se
centralizava em Jesus como Salvador vivo e Senhor exaltado. O desejo de
estender o Evangelho até os confins da Terra era de Cristo (1.8). Mas o poder
para realizá-lo era do Espírito Santo, igual ao de Cristo.(2) Mesmo assim, percorre
pelo livro uma nova consciência do Espírito Santo. Provinha, não somente da sua
experiência pentecostal inicial, mas da consciência diária da presença, da
orientação e da comunhão do Espírito e de muitas manifestações do seu poder. O
batismo com o Espírito Santo nunca se tornou em mera lembrança de alguma coisa
que ocorrera no passado distante. Era uma realidade sempre presente.(3)
Jesus preparou, através do Espírito Santo os
apóstolos. Mas isso não significa que o Espírito não pudesse operar através de
outras pessoas, ou que a direção da Igreja fosse entregue aos apóstolos. O Espírito
Santo comandaria tudo. Ele usaria a quem desejasse. Muitos discípulos levaram o
Evangelho por onde passavam, após a morte de Estêvão, ao passo que os apóstolos
permaneceram em Jerusalém (Atos 8.1,4; 11.19-21). Ananias foi enviado para
impor as mãos sobre Saulo de Tarso (9.10,17). Tiago, irmão de Jesus, que não
era apóstolo, teve sua proposta aprovada no Concilio de Jerusalém, e assumiu a
direção da igreja em Jerusalém, no decorrer do tempo (Atos 15.13; Gálatas
2.12).
O livro de Atos demonstra, no entanto, que os
apóstolos foram as primeiras testemunhas da Ressurreição e dos ensinos de
Jesus. As condições impostas para a seleção de um sucessor de Judas esclarecem
isso, pois precisava ser um dos que costumeiramente reuniram com os doze e
viajavam com eles durante o ministério terrestre de Jesus, de modo que pudesse
ser testemunha dos ensinamentos de Cristo. Tinha, também, de ser testemunha da
Ressurreição e da doutrina que Jesus ensinou após esse evento (Atos 1.21-25).
Paulo fala de seu apostolado, não pelo fato de ter sido enviado por Cristo
"(apóstolo é um enviado com uma comissão), mas por ter sido testemunha, em
primeira mão, tanto da Ressurreição como das palavras de Jesus. Ele não recebeu
dos homens o Evangelho que pregava, mas do Senhor Jesus (Gálatas 1.11,12,16-19;
2.2,9,10). Na realidade, ele freqüentemente chamava a atenção ao fato de que
podia provar o que dizia, citando declarações de Jesus (1 Coríntios 7.10).
Além disso, as visitas dos apóstolos não eram
uma supervisão ou uma sanção apostólica, mas um desejo de estabelecer igrejas.
Foi assim que Pedro e João ajudaram a Filipe (8.14). Mas não disseram o que ele
deveria fazer em seguida. Primeiramente, um anjo, e depois o Espírito Santo
deu-lhe orientação (8.26,29). Quando alguns discípulos, cujos nomes não são
mencionados, levaram o Evangelho aos gentios em Antioquia, Barnabé foi enviado
para ajudá-los. Ele também era apóstolo (14.14), mas a ênfase recai no fato de
ser um homem bom e cheio do Espírito Santo e de fé (11.24). Logo, era o
Espírito Santo, e não os apóstolos, quem dava a orientação. Por essa razão,
temos razões justificáveis para nos referir a este livro como os Atos do
Espírito Santo.
Desde o princípio, percebe-se a preeminência do
Espírito Santo. Não somente as últimas palavras de Jesus foram dadas mediante o
Espírito Santo, mas também essas instruções tinham a ver com Ele.
Jesus solicitou que eles não saíssem de
Jerusalém (Atos 1.4). O derramamento no dia de Pentecoste jamais teria tido
aquele efeito, nem teria atraído tanta atenção, se apenas cinco ou seis pessoas
tivessem permanecido. Jesus queria que a Igreja tivesse um bom começo. Além
disso, o livro dos Atos ressalta repetidas vezes a união de um agir
"unanimemente", de maneira que o Espírito Santo cumpria a oração de
Jesus em João 17. Era importante que os discípulos estivessem juntos num só
lugar, a fim de que essa união fosse fomentada e suas bênçãos concretizadas.
A Promessa do Pai
Em seguida, Jesus mandou-lhes esperar a promessa
do Pai, identificada com o batismo no Espírito Santo. É assim chamada, porque
foi Ele quem providenciou o derramamento prometido, conforme Jesus já lhes
ensinara. Ele pediria ao pai e este enviaria o Espírito Santo.
É chamado de batismo para lembrar-lhes a
profecia de João Batista, registrada em todos os quatro evangelhos, de que
Jesus os batizaria com o Espírito Santo. Embora seja o Pai quem envia o
Espírito Santo, o Filho participa nessa obra, conforme já vimos, e é Ele o
Batizador. O nome "batismo" é usado, também, para compará-lo com o de
João e, ao mesmo tempo, para distingui-lo daquele. João batizava nas águas.
Jesus, com o Espírito Santo. O crente deve submeter-se a Jesus, entregar-se a
Ele, antes de ser batizado. Mas o contraste entre a água e o Espírito é grande
em todos esses textos. O batismo de Jesus nada tem a ver com a água.
O batismo de João era mera preparação para a
nova dispensação do Espírito Santo, ao passo que o batismo de Jesus realmente é
uma parte dela. Alguns pensam que a expressão "batismo no Espírito
Santo" não é usada nas epístolas a respeito dos crentes, e limitam o
batismo com o Espírito Santo à própria inauguração da nova dispensação no dia
de Pentecoste. Supõem, também, que outras referências em Atos ao batismo com o
Espírito Santo sejam meramente uma extensão daquela inauguração, primeiramente
aos samaritanos (onde é subentendido em Atos 8.15,16), e depois aos gentios na
casa de Cornélio (11.16).(4)
Baseados nisto, alguns entendem que o batismo
com o Espírito Santo foi dado uma só vez, e que não houve mais batismos, senão
"enchimentos". Supõem que Deus supriu à Igreja com o Espírito Santo
de uma só vez. Interpretando desse modo, a Igreja seria a fonte de onde tiramos
as reservas do Espírito.(5)
Deus, no entanto, não deu o Espírito Santo no
propósito de colocá-lo na Igreja como se Ele estivesse separado do Céu, ou no
sentido de doá-lo. Quando recebemos o Espírito Santo, não há falta dele no Céu.
Ele está no Céu, na Igreja e em nossos corações ao mesmo tempo. Deus é o
Doador, e Jesus, o Batizador. A Igreja não é um reservatório que recebeu uma
única doação do Espírito, para todo o sempre. (6) Jesus pede ao Pai, à medida
que nos apresentamos e este nos concede o Espírito Santo. É importante lembrar
que o batismo com o Espírito é imersão num relacionamento com uma pessoa
divina, e não em um fluido ou numa influência. É um relacionamento que pode
continuar a crescer e expandir-se. Sendo assim, o batismo é apenas um começo,
um envolvimento num ato distinto de obediência e de fé, da nossa parte.
Mas o que aconteceu no dia de Pentecoste não foi
somente batismo. Muitos outros termos são empregados, pois o Espírito Santo é
uma pessoa, e o batismo pode retratar um só aspecto da experiência. A Bíblia
emprega freqüentemente uma variedade de figuras de linguagem para ressaltar
vários aspectos da experiência e do relacionamento. A Igreja é uma noiva, uma
esposa, um corpo, um edifício, um templo, uma vinha, uma videira, uma coluna e
uma assembléia de cidadãos. Nenhuma figura de linguagem pode, isoladamente,
ressaltar tudo quanto ela é. Os cristãos são filhos, herdeiros, adotados,
renascidos, nova criação, servos, amigos, irmãos. Da mesma forma, nenhum termo
isolado pode ressaltar todos os aspectos dos nossos relacionamentos. Logo,
nenhum termo isolado pode ressaltar todos os aspectos do que aconteceu no dia
de Pentecoste.(7)
Foi, de fato, um batismo, mas a Bíblia também
diz que foi um enchimento. "E todos foram cheios do Espírito Santo"
(2.4). Foi um derramamento do Espírito sobre eles, conforme profetizou Joel
(2.28-32). Foi um recebimento (uma aceitação ativa) de uma dádiva (2.38); um
cair sobre (8.16; 10.44; 11.15); um derramamento do dom (10.45); e uma vinda
sobre (19.6). Com todos esses termos empregados, é impossível supor que o
batismo se refira a algo diferente de enchimento ou plenitude, ou que a
experiência pentecostal foi limitada ao dia de Pentecoste. Nem devemos supor
que a falta do uso da expressão "batismo no Espírito" nas Epístolas é
relevante.
Talvez seja possível, porém, ver no termo
batismo outra comparação com João Batista. Ele continuava a batizar nas águas,
enquanto as pessoas vinham a ele pedir o batismo. Devemos reconhecer que o
batismo é algo que acontece aos indivíduos. Embora todos fossem cheios no mesmo
momento no dia de Pentecoste, a própria plenitude foi uma experiência
individual. Devemos esperar, portanto, que Jesus, tendo em vista a profecia de
João Batista, continue a batizar com o Espírito Santo, enquanto os cristãos
venham a Ele para recebê-lo.
Esperando
A ordem de Jesus, para que os discípulos não se
ausentassem de Jerusalém, foi necessária somente para essa ocasião. Não havia
mais necessidade de protelação, depois do dia de Pentecoste. Mas o Pentecoste,
com seu simbolismo de colheita, era importante no que o propósito do batismo no
Espírito era poder para o serviço, especialmente nas searas deste mundo (1.8).
Foi um período de preparação? Alguns entendem
assim. Mas a evidência é que a preparação foi feita durante os 40 dias, pelo
próprio Jesus. Ele os ensinou, lidou com Pedro, renovou a comissão deles, e
depois ordenou-lhes que não iniciassem o ministério até que fossem revestidos
de poder. Esse não era um empreendimento humano. Não deviam empregar sua
própria engenhosidade para conquistar novas maneiras de difundir o Evangelho.
Deviam ser guiados pelo Espírito Santo que assumiria o comando.
Dedicaram-se às orações e súplicas no período de
espera; todos participavam unanimemente. Já estavam unidos uns com os outros em
Cristo (1.14). Todos continuavam alegres e (especialmente nas orações da manhã
e da tarde) estavam continuamente no Templo, louvando e bendizendo
(agradecendo) a Deus (Lucas 24.52). O Espírito Santo já operava na vida deles,
mas ainda esperavam pelo batismo, o revestimento de poder (Lucas 24.49).
Além disso, dedicavam-se à Palavra, e o Espírito
Santo, que falou por intermédio de Davi, dirigiu-lhes para a profecia sobre
Judas (1.16). Quando o Espírito Santo dirige a atenção à Palavra, espera que
ela seja correspondida, e, portanto, eles fizeram algo a respeito e escolheram
Matias como substituto de Judas. (Alguns argumentam que essa escolha foi
precipitada, pois Matias não é mais chamado pelo nome. Mas a maioria dos
discípulos também não é mencionada pelo nome em Atos, e Matias, certamente, é
incluído como parte dos doze em Atos 6.2).
Vento e Fogo
Não façamos distinção entre as plenitudes do
Antigo e do Novo Testamento, nem entre o batismo inicial e "os
enchimentos" que se seguem. Embora a experiência pentecostal fosse um
avanço singular, nem o livro de Atos nem as epístolas paulinas contêm qualquer
sugestão de que o Espírito Santo fosse diferente do Espírito de Deus que atuou
nos santos do Antigo Testamento.(8)
Os sinais que antecederam o derramamento
pentecostal fazem uma conexão entre ele e as experiências do Antigo Testamento,
bem como com as promessas daquela aliança. O dia de Pentecoste era a festa da
colheita dos frutos da terra. Para a Igreja, marcava o dia em que a colheita
espiritual, esperada há tanto tempo, começaria. Mas, antes de vir o
derramamento do Espírito Santo, dois sinais incomuns estabeleceram maior
relação com o simbolismo do Antigo Testamento. Primeiro, vem do céu um som,
como de um vento veemente e impetuoso. Embora não houvesse vento físico, o som
encheu a casa. No Antigo Testamento, o vento era um símbolo constante do
Espírito Santo. O som de um vento impetuoso, de um vento que traz em si poder,
sugere que era mais do que "o respirar do Espírito" na regeneração
que traz a nova vida. Mais uma vez, trata-se do poder para o serviço.
Surgiram, então, "línguas repartidas como
que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles". A palavra
"repartidas" significa "distribuídas". Apareceu algo
semelhante a uma grande chama sobre os discípulos. Em seguida, desfez-se, e
repartiu-se em várias línguas que pousaram sobre as cabeças de cada um deles.
Esse não foi, em nenhum sentido, um batismo de
fogo. Nem era julgamento ou purificação, como alguns supõem.(9) Tratava-se de
pessoas cujos corações e mentes tinham sido abertos para os ensinamentos do
Jesus ressurreto, pessoas cheias de alegria e de louvor a Deus, pessoas que já
tinham sido purificadas, que já atentavam a sua Palavra, que já estavam de
comum acordo. O fogo aqui deve ser relacionado, não com o julgamento ou a
purificação, mas com o simbolismo do Antigo Testamento.
O Antigo Pacto registra um progressivo
desenvolvimento no tocante à adoração. Antes, era realizada diante de um altar,
como no caso de Abraão. Depois, Deus ordenou que seu povo edificasse o
Tabernáculo no deserto. O fogo desceu do Céu sobre um sacrifício que ali
estava, como prova de que Jeová aceitava o novo santuário. Mas isso só
aconteceu uma vez. O evento se repete quando Salomão edificou o Templo.
Novamente, o fogo desceu e consumiu o sacrifício, como aprovação daquela obra.
Mas também aconteceu uma só vez. Os prédios edificados por Zorobabel e Herodes
eram reconstruções do mesmo Templo, de modo que o sinal não mais se repetiu.
O Templo estava para ser destruído. (Deus
concedera-lhe mais alguns anos de existência, até 70 d.C.) Os cristãos, unidos
fraternalmente, eram sacrifícios vivos (Romanos 12.1), além de sacerdotes e
pedras vivas para o Templo (1 Pedro 2.5). Este novo edifício tem duplo sentido.
O Corpo dos cristãos em união é o templo (santuário) para a habitação de Deus,
pelo seu Espírito Santo (Efésios 2.21,22; 1 Coríntios 3.16). Além disso, o
corpo de cada um, individualmente, é um templo ou santuário do Espírito Santo
(1 Coríntios 6.19). A aparência do fogo veio sobre o grupo, para indicar a
aceitação, por Deus, do Corpo Místico como um templo. Depois, repartiu-se, como
línguas sobre cada cabeça, para demonstrar a aceitação, por Deus, do corpo de
cada um deles como um templo do Espírito Santo.
Esses sinais não faziam parte do batismo
pentecostal, nem dos dons do Espírito. Não foram repetidos, da mesma forma que
o fogo veio uma só vez sobre cada santuário nos tempos do Antigo Testamento.
Na casa de Cornélio, as línguas de fogo não estavam presentes, embora Pedro
tenha identificado a experiência com a promessa de Jesus de que seriam
batizados com o Espírito Santo, e o tivesse chamado "o mesmo dom",
idêntico com o que os 120 receberam quando o Espírito Santo foi derramado no
Pentecoste (Atos 11.15-17). As línguas de fogo mostram que antes de o Espírito
Santo ter sido derramado, os crentes foram reconhecidos por Deus como o templo,
o corpo de Cristo. A Igreja agora estava em plena existência, tendo o Cristo
glorificado como sua Cabeça. Os membros do Corpo agora estavam prontos para
receber a promessa.
Todos Foram Cheios
Em algumas denominações, muitas pessoas supõem
que o batismo com o Espírito Santo no dia de Pentecoste e o falar em outras
línguas foram limitados aos 12 apóstolos. Mais do que 12 línguas foram faladas,
no entanto.(10) A ênfase do derramamento sobre toda a carne exclui essa
limitação. Todos os 120 presentes foram cheios, todos falaram noutras línguas,
e o som das línguas foi "publicamente conhecido" (2.6). Pedro também,
ao falar perante uma grande multidão em Jerusalém depois da experiência na casa
de Cornélio, disse que veio sobre eles o mesmo dom "que a nós, quando
havemos crido no Senhor Jesus Cristo". Isso sugere que o Espírito Santo
caiu da mesma maneira, não somente sobre os apóstolos e o restante dos 120, mas
também sobre os 3.000 que creram, depois de Pedro ter pregado a mensagem no
Pentecoste. Fica claro que essa experiência não era para a minoria
favorecida.(11).
Outras Línguas
Um só sinal fazia parte do batismo pentecostal.
Todos os que foram cheios do Espírito Santo começaram a falar em outras
línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. Isso quer dizer
que faziam uso das suas línguas, dos seus músculos. Falavam. Mas as palavras
não brotavam das suas mentes ou do seu pensamento. O Espírito lhes concedia que
falassem, e expressavam as palavras com ousadia, em voz alta, e com unção e
poder.
Isso é interpretado de várias maneiras. Alguns
se detêm no versículo 8 ("Como pois os ouvimos, cada um, na nossa própria
língua em que somos nascidos?") e supõem que todos os discípulos falaram
em sua língua materna, aramaico, e que se tratava de um milagre de audição ao
invés de fala. Mas os dois versículos anteriores são muito claros. Cada um os
ouvia falar na sua própria língua, sem o sotaque galileu.
Outros chegam a um meio-termo, e dizem que os
discípulos falavam em línguas desconhecidas, que o Espírito Santo interpretava
nos ouvidos de cada um dos ouvintes em sua própria língua. Mas Atos 2.6,7
exclui essa interpretação, também. Os 120 falavam em idiomas que foram
compreendidos por pessoas de diversas nações. Esse fato testemunhou a universalidade
do dom e da unidade da Igreja.
Outro equívoco é a suposição de que essas
línguas eram propícias para a pregação e o ensino do Evangelho, a fim de
favorecer sua rápida disseminação. Mas não há evidência de semelhante emprego
de línguas. Teria sido útil para Paulo em Listra, onde ele não entendia o
idioma, e tinha de pregar e ensinar em grego (Atos 14.11-18).
No dia de Pentecoste, o falar em outras línguas
realmente atraiu a multidão, mas o que foi ouvido não consistia em discursos
nem pregações. Tratava-se, pois, das grandezas (obras grandiosas, magníficas,
sublimes) de Deus. É possível que houvesse exclamações de louvor, dirigidas a
Deus. Certamente era adoração, e não pregação. Se fosse pregação, teria levado
à salvação de pelo menos alguns (1 Coríntios 1.21). Mas ninguém foi salvo por
causa das línguas.
Pelo contrário, as pessoas se maravilhavam
(ficaram atônitas) e em suspense (perplexas, sem jeito), totalmente sem
compreender de que se tratava (2.12). Entendiam o significado das palavras, mas
não o propósito. Ficaram confusas com o que ouviram.
Outros começaram a zombar, dizendo que os que
falavam (homens e mulheres) estavam cheios de vinho (não suco de uva, mas de um
vinho inebriante, feito de uva doce). O alvo da zombaria deles era o que
ouviam. Há quem fala bastante, e em voz alta, quando bebe. Não devemos, no
entanto, supor que havia algum tipo de frenesi que caracterizava a devassidão
das bebedeiras pagas. Os 120 mantinham pleno controle das suas faculdades. Sua
emoção principal ainda era alegria. E todos pararam de falar, quando os
apóstolos se puseram de pé.
A medida que os 120 falavam em línguas, a
zombaria aumentava; por isso, Pedro levanta-se e começa a falar (2.15). À
proporção que a multidão crescia, ficou mais difícil distinguir cada idioma. É
possível, também, que muitos, os quais se ajuntaram à multidão, não estavam
perto de quem falava um idioma que lhes era compreensível. Com a confusão,
cessaram-se as línguas, uma bênção para os cristãos, um sinal para os
incrédulos, mas não realizaram, nem poderiam realizar, a obra do Espírito
Santo, a de convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Até esse
momento, somente os cristãos haviam recebido a plenitude. O Espírito Santo, que
os levou a glorificar a Deus em outras línguas, revelou-lhes as verdades aos
seus corações, de modo que sua alegria e emoção brotavam de uma renovada
apreciação de Deus e de Cristo.(12)
A obra do Espírito Santo, de convencer o mundo,
começou quando Pedro se colocou em pé e falou. O que proferiu não foi um
sermão. Ele não o estudou, nem se preparou, nem fez três divisões em sua
preleção. "Levantou a voz" traduz o mesmo verbo que é usado em 2.4,
quando o Espírito Santo concedia que falassem em línguas. Desta vez, porém, o
Espírito Santo usou Pedro em seu próprio idioma, o aramaico, que a multidão
entendia. Em outras palavras, em vez de um sermão, era a manifestação do dom de
profecia (1 Coríntios 12.10; 14.3). Os 120 glorificavam a Deus a respeito das
suas obras. Porém, Pedro falava aos homens para edificação e exortação (Atos
2.40).
A Profecia de Joel é Cumprida
Depois de provar que os 120 não estavam
embriagados, Pedro declarou que o que viam e ouviam (2.33) era o cumprimento de
Joel 2.28-32. Parte da profecia registra o que aconteceria com os 120. A
promessa sobre o derramamento do Espírito Santo cumpria-se diante dos olhos
deles. Filhos e filhas de Israel profetizavam, cheios do Espírito Santo e
falavam sob sua unção. (Línguas compreensíveis são consideradas equivalentes da
profecia).
A citação de Pedro sobre os sinais de sangue,
fumaça e trevas perturba alguns. Muitos os interpretam como simbólicos.(13)
Outros supõem que já se cumpriram nas três horas de trevas em que Jesus esteve
pendurado na cruz. Parece, no entanto, que os sinais são mencionados como um
meio de associar o derramamento pentecostal com o fim dos tempos. Esse dom do
Espírito Santo seria as primícias do porvir (Romanos 8.23).
O coração humano irregenerado não tem idéia das
coisas que Deus preparou para os que o amam. Mas Ele nos revelou mediante o seu
Espírito (1 Coríntios 2.9,10). A alegria, plenamente nossa quando contemplarmos
a Jesus, não será novidade. Já a experimentamos, pelo menos em certa
quantidade. Todos os que provaram (realmente saborearam) o dom celestial, e se
fizeram participantes do Espírito Santo, já experimentaram a boa palavra de
Deus, e as virtudes (poderes, milagres) do século vindouro (Hebreus 6.4,5).(14)
Joel registra também o juízo e o fim dos tempos. Chegará ao clímax com as
multidões no vale da decisão (a decisão de Deus, não a delas).
Baseados nesses fatos, alguns afirmam que a
profecia de Joel não se cumpriu no dia de Pentecoste. O profeta, segundo dizem,
esperava que o derramamento viesse em conexão com a restauração de Israel e o
julgamento no dia do Senhor. Certo escritor declara que Pedro não quis dizer
literalmente que "Isto é o que foi dito pelo profeta Joel". Sua
intenção era dizer: "Isto é algo semelhante àquilo". Noutras
palavras, o derramamento no dia de Pentecoste era apenas semelhante ao que acontecerá
no fim dos tempos.(15)
Pedro, no entanto, realmente disse que
"Isto é aquilo". Joel, assim como os demais profetas do Antigo
Testamento, não sabia a diferença de tempo entre a primeira e a segunda vinda
de Cristo. Ele registra tudo no mesmo contexto de livramento e julgamento,
assim como fez João Batista. Pedro reconhece que há uma diferença. Mas ele,
juntamente com os demais discípulos, não tinha a idéia de que o período de
tempo seria tão longo. E Jesus nada lhes contou a respeito (Atos 1.6).
Para Pedro, a era messiânica viria num futuro
imediato. Nem se preocupou com o fato de que a totalidade da profecia de Joel,
que ele citou, ainda não fora cumprida. Os 120 não sonhavam às 9 horas da
manhã. Nem tinham visões, enquanto falavam em línguas (embora isso não seja impossível).
É improvável que houvesse algum escravo entre os 120. Mas isso era apenas o
começo. O resto viria no tempo certo, inclusive os sinais e juízos profetizados
por Joel.
Para ressaltar esse fato, Pedro, sob a
inspiração do Espírito Santo, falou do significado da expressão nos últimos
dias em Joel 2.28.0 derramamento era para "os últimos dias"; logo, os
últimos dias começaram com a ascensão de Jesus (Atos 3.19-21). Noutras
palavras, a Bíblia reconhece que a Era da Igreja é "os últimos dias".
É a última era antes da restauração de Israel e o estabelecimento do reino de
Cristo na Terra, a última era antes dele vir em chama de fogo para tomar
vingança dos que não conheceram a Deus e rejeitaram o Evangelho (2
Tessalonicenses 1.7-10).
Mesmo depois de muitos anos, os cristãos
primitivos ainda alimentavam essa esperança. A exclamação de Paulo no final de
suas viagens missionárias foi: "É já hora de despertarmos do sono; porque
a nossa salvação [inclusive a nossa herança eterna] está agora mais perto de nós
do que quando aceitamos a fé. A noite é passada, e o dia é chegado" (Rm
13.11,12).
Pedro viu, também, que os "últimos
dias" trazem a oportunidade para tempos de refrigério. Atos 3.19 pode ser
traduzido: "Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para perdão dos vossos
pecados, para que venham tempos de refrigério (ou reavivamento) da presença do
Senhor, e que Ele envie Jesus Cristo que já vos foi determinado (ou nomeado
como vosso Messias)".
A interpretação de Pedro sobre a profecia de
Joel demonstra que esperava um cumprimento contínuo da profecia, até o fim dos
"últimos dias". Isso significa, também, que o derramamento, segundo
Joel, acontecerá até o fim desta era. Enquanto Deus chamar as pessoas à
salvação, Ele derramará seu Espírito Santo sobre elas: "Porque a promessa
[isto é, a promessa do Antigo Testamento em Joel] vos diz respeito a vós, a
vossos filhos, e a todos os que estão longe; a tantos quantos Deus nosso Senhor
chamar" (At 2.39).
Tendo em vista esse fato, e a promessa de Jesus
de que os discípulos seriam batizados com o Espírito Santo, a obra de batizar
deveria continuar. Atos 2.38 se refere, na realidade, ao conteúdo da promessa
como "o dom do Espírito Santo". Fica claro, então, que o cumprimento
da profecia de Joel não se limita ao dia de Pentecoste ou a qualquer outra
ocasião.
Que Faremos?
Quando o Espírito Santo convenceu a muitos, e
revelou a culpa deles, perguntaram: "Que faremos?" A resposta de
Pedro também fez parte do pronunciamento profético do Espírito Santo na forma
de exortação: "Arrependei-vos [mudando de opinião e de atitude básica
quanto ao pecado, à justiça e ao juízo], e cada um de vós seja batizado em nome
de [segundo a autoridade de] Jesus Cristo [conforme é expressada em Mateus
28.19], para [por causa de] perdão dos pecados; e recebereis [tomareis] o dom
do Espírito Santo" (At 2.38). Tenhamos em mente que o batismo nas águas é
um testemunho, uma declaração, do que já aconteceu no íntimo de cada um. Esse
batismo não produz e nem transmite o perdão dos pecados. A expressão grega faz
um paralelo com o batismo de João, "para o arrependimento", que
significa "por causa do arrependimento", conforme demonstra o
contexto.
A palavra de Pedro foi, primeiramente, para o
arrependimento, significando a mudança da incredulidade para a fé. Porque creram,
foram purificados e perdoados. O batismo nas águas declarou a sua identificação
com Cristo na sua morte (Romanos 6.3). Logo, o próximo passo era (tomar, de
modo real e ativo) o batismo com o Espírito Santo.
Fazendo Discípulos
Desde o dia de Pentecoste, vemos o Espírito
Santo operando na Igreja - no ensino, nos milagres, nas plenitudes, nos
batismos, mas, acima de tudo, na disseminação do Evangelho e no estabelecimento
da Igreja.
A primeira evidência da obra do Espírito Santo
foi a capacitação dos apóstolos a fazer discípulos, verdadeiros estudantes, dos
3.000 que se converteram. Esse discipulado foi desenvolvido mediante vários
tipos de experiências: conhecimento da doutrina dos apóstolos, comunhão, partir
do pão e orações (Atos 2.42).
Parte dessas atividades realizava-se no Templo,
pois muitos crentes o freqüentavam diariamente (Atos 2.46), e os apóstolos lá
compareciam todos os dias, ensinando e contando as boas novas de Cristo (do
Messias) Jesus (3.1,12-26; 5.42). Mas faziam a mesma coisa diariamente, de casa
em casa (5.42).
A doutrina dos apóstolos não era apenas teórica,
no entanto. O Espírito Santo era realmente quem ensinava. Ele usava o
ensinamento da verdade para levá-los à comunhão cada vez mais estreita, não
meramente uns com os outros, mas primeiramente com o Pai e o Filho (1 João
1.3,7; 1 Coríntios 1.9). Essa comunhão também era um compartilhar espiritual,
uma comunhão no Espírito Santo (2 Coríntios 13.13; Filipenses 2.1). Pode ter
sido incluída, ali, a participação da Ceia do Senhor. Mas a ênfase aqui não
recai sobre o ritual. O resultado da obra do Espírito Santo foi levar o povo a
uma nova união (Atos 4.32). Conforme indica Ezequiel 11.19, um só coração, a
união de mente e de propósito, acompanha a nova experiência no Espírito.(16)
Essa comunhão, essa união no Espírito, deu-lhes
fé, amor e solicitude uns pelos outros, que os levava a compartilhar seus bens
com os que precisavam. (Ver Tiago 2.15,16; 1 João 3.16-18; 4.7,8,11,20). Nesse
sentido, "tinham tudo em comum" (Atos 2.44,45). Não se tratava de
comunismo. "Comum" simplesmente significa "repartido".
Ninguém dizia: "Isso é tudo meu. Você não poderá ter parte nisso".
Sempre que viam um irmão passando necessidade, compartilhavam tudo quanto
tinham (4.32). Alguns realmente vendiam propriedades e davam o dinheiro da
venda aos apóstolos, para distribuição (2.44; 4.37). Mas não eram obrigados a
fazer isso (Atos 5.4).
Boa parte desse compartilhar era realizada na
comunhão à mesa. Ao partirem o pão, nos seus lares, dividiam a comida com
alegria e simplicidade de coração, louvando a Deus, e gozando do favor com o
povo, ou seja, com a maioria da população dos judeus em Jerusalém (Atos
2.46,47). E o Senhor acrescentava à Igreja todos os dias os que iam sendo
salvos!
Períodos de oração também marcavam o discipulado
deles. Estavam regularmente no Templo, para as orações da manhã e da tarde. Um
prolongado tempo era dedicado a oração, quando enfrentavam a oposição e o
perigo (Atos 2.42; 4.24-30; 12.5,12).
Os milagres, sinais que indicam a natureza e o
poder de Jesus, e maravilhas que mostram a presença de Cristo no meio deles,
fortaleciam os crentes. Também fizeram com que o medo, um espírito de temor e
reverência, viesse sobre o povo (Atos 2.43). Mas o poder do Espírito Santo,
expresso nos milagres, fazia parte da vida espiritual. As pessoas não percebiam
que viviam em dois níveis - espiritual e natural. O Espírito Santo envolvia
suas vidas por inteiro.
A adoração, a comunhão com Deus, o partir do
pão, o evangelismo e os milagres, todas essas coisas concretizavam uma
experiência unificada no Espírito Santo.(n)
A atuação do Espírito Santo na maioria dos
crentes encorajava, assim, sua obra na minoria. As necessidades e os perigos
que tinham em comum levavam-nos a congregar-se juntos. Era necessário o
testemunho no Templo. Também era preciso o testemunho nos grupos que se reuniam
nos lares. Desde o início, o Espírito Santo os ajudava a manter o equilíbrio
sem incorrer nas formas vazias do ritualismo.
Plenitudes Renovadas
Evidência marcante de supervisão na Igreja pelo
Espírito Santo era a concessão dos dons espirituais, com o propósito de
satisfazer novas necessidades e de enfrentar novos desafios. O livro de Atos
cita alguns exemplos destas bênçãos sobre indivíduos em particular, e sobre a
coletividade. Por falta de espaço, Atos cita apenas alguns exemplos do que
acontecia freqüentemente. A cura do coxo na Porta Formosa é uma amostra dos
muitos sinais e maravilhas realizados pelos apóstolos (Atos 2.43; 3.1-10).
O primeiro exemplo de renovação do poder é o de
Pedro diante do Sinédrio que condenara Jesus à morte. Amedrontado, Pedro
anteriormente negara o seu Senhor. Dessa vez, colocando-se em pé, cheio do
Espírito Santo, deu uma resposta que proclamou a verdade e glorificou a Jesus
(Atos 4.8,10-12). A forma do verbo grego indica claramente que essa foi de
fato, uma nova plenitude. Ervin supõe que não podia ser assim, porque Pedro já
recebera a plenitude.(I8) Mas a idéia não é que tenha perdido alguma coisa da
plenitude anterior. Deus simplesmente aumentou a sua capacidade e derramou
sobre ele o Espírito Santo de novo, com toda a sua sabedoria e poder.
A mesma forma do verbo é usada em Atos 13.9,
quando Paulo, "cheio do Espírito Santo", enfrentou Elimas, o
encantador, e o repreendeu. Paulo não repreendia usualmente as pessoas dessa
maneira. Mas a repreensão era do Espírito Santo, de forma especial. O castigo
sobre Elimas foi, portanto, a mão de Deus, o poder divino, e passou a ser a
obra do Espírito Santo para convencer o procônsul (governador provincial) de
Chipre. Não foi o milagre por si só que o convenceu, no entanto. O acontecido
simplesmente deu testemunho do ensino e da pregação, ungidos pelo Espírito, que
lhe antecederam (13.7,12).
Depois do primeiro testemunho de Pedro diante do
Sinédrio, ele e João "foram para os seus", para o Cenáculo, onde se
hospedavam e se reuniam. Então, depois de orarem, "moveu-se o lugar em que
estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com
ousadia a Palavra de Deus" (Atos 4.31). Mais uma vez, a forma do verbo indica
uma nova plenitude. O Sinédrio lhes ordenara "que absolutamente não
falassem, nem ensinassem no nome de Jesus". Uma nova plenitude lhes deu a
ousadia, a coragem e a alegre confiança de falar a Palavra claramente. Aqui,
também, a terminologia não é o que importa. Plenitudes renovadas, novos
enchimentos, novas unções, novas atuações do Espírito, novas manifestações da
mão ou do poder de Deus sempre estão disponíveis nas necessidades.
Lutas Internas
Além das perseguições, a Igreja enfrentava lutas
internas. Ananias e Safira tentaram obter prestígio na Igreja ilicitamente.
Essa foi a primeira manobra política que, às vezes, coloca igrejas nas mãos de
pessoas não-espirituais. Realmente, foi Satanás que encheu seus corações para
mentirem ao Espírito Santo, que é a mesma coisa que mentirem a Deus (Atos
5.3,4). O discernimento ou conhecimento de Pedro a respeito do que fizeram foi
uma manifestação do Espírito Santo.
O julgamento divino contra eles não somente
livrou a Igreja do perigo, mas também insuflou o temor a Deus nos crentes e nos
incrédulos. Os cristãos foram despertados para uma nova unidade no Espírito. Os
demais cidadãos de Jerusalém não ousaram juntar-se com eles sem mais, nem
menos. Mas eram somente os insinceros que sentiam esse medo. Os altos padrões
de verdade e de honestidade levavam a maioria do povo a ter os apóstolos em
grande estima. Demonstravam isso ao trazerem seus enfermos para serem curados.
"E a multidão dos que criam no Senhor, tanto homens como mulheres, crescia
cada vez mais" (Atos 5.13-16).
Cheio do Espírito Santo e de Sabedoria
Outra luta surgiu quando queixas e invejas
ameaçavam dividir a Igreja (Atos 6.1). A medida que o número dos crentes
aumentava, surgiam também as dificuldades. O fundo para o qual Barnabé fizera
sua contribuição era usado para ajudar os necessitados. Duas vezes, Paulo
trouxera ofertas para reforçar a tesouraria em épocas viúvas não tinham pensão
nem emprego. A Igreja, portanto, usava esse fundo para cuidar delas.
Entre elas, havia as que vieram para Jerusalém,
provenientes de outros países, e que somente falavam o grego. Como constituíam
a minoria, ficaram sensíveis ao que julgavam menosprezo; talvez fossem tímidas
quanto ao reivindicar a sua devida parte. Mas, ao chamarem a atenção por causa
disso, quase provocaram uma divisão na Igreja.
Os apóstolos, orientados pelo Espírito Santo,
pediram a Igreja que elegessem sete homens para cuidar dos necessitados. Deviam
ser de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria (prática). O
Espírito Santo atuou maravilhosamente nos corações da maioria que os escolhidos
pertenciam, segundo parece, à minoria que falava o grego. Todos, pelo menos,
tinham nomes gregos, e a possibilidade de as viúvas que falavam o grego serem
negligenciadas foi, portanto, dissipada. Essa evidência de sabedoria do
Espírito foi seguida por outro crescimento da Palavra de Deus (ou seja: dos
seus efeitos), e por mais uma multiplicação da Igreja (Atos 6.7).
Mais Ministérios
Estêvão e Filipe são exemplos de que essa
plenitude do Espírito Santo, da sabedoria e da fé levava a mais um ministério
(Atos 6.5,8,10). Os sinais e as maravilhas que operavam entre o povo eram nas
mesmas proporções dos que foram operados pelos apóstolos (6.8; 8.5-8). Embora o
testemunho de Estêvão o levasse à morte, ele permaneceu cheio do Espírito Santo
até o fim, e testificou da glória de Jesus como seu Senhor (7.55,56).(19)
Filipe, por outro lado, foi levado pelo Espírito
Santo, não somente para testemunhar na S amaria, mas também para evangelizar um
eunuco etíope (8.29,38). Um antigo manuscrito grego diz que o Espírito Santo
veio, então, sobre o eunuco, e lhe deu outro motivo para continuar jubiloso o
seu caminho.(20) Ao mesmo tempo, o Espírito Santo arrebatou e conduziu Filipe
até a beira-mar. Passando por Cesaréia, fez dessa cidade seu
"quartel-general" para o prosseguimento de seu ministério. Anos mais
tarde, era chamado o evangelista. E não negligenciou a evangelização de sua
família. Suas quatro filhas eram cheias do Espírito Santo e profetizavam (Atos
21.8,9).
Barnabé também foi chamado um homem bom (nobre,
digno), cheio do Espírito Santo e de fé. Ele, também, exerceu um ministério
ininterrupto. Sendo assim, não só existiam plenitudes específicas para
necessidades especiais; havia uma riqueza contínua, um revestimento constante e
poderoso do Espírito Santo, que destacava alguns como cheios do Espírito.(21)
Rompendo Barreiras
Inicialmente, o Evangelho propagou-se somente
entre os judeus e os prosélitos. Embora o Antigo Testamento prometesse bênçãos
e restauração para todas as nações, os judeus desconsideravam esse fato.
Preconceitos de longa data levantavam obstáculos entre eles e os samaritanos,
de um lado; e os gentios, do outro. Uma das obras mais importantes do Espírito
Santo para a propagação do Evangelho foi o rompimento dessas barreiras.
O primeiro passo foi dado como resultado da
morte de Estêvão. Ao invés de impedir o testemunho a respeito de Cristo, a
perseguição resultante simplesmente espalhou a chama em todas as direções (Atos
8.1). O livro de Atos menciona uma dessas direções como exemplo. Filipe foi
para Samaria. Ali, sua pregação e seus milagres convenceram o povo. Muitos
foram batizados nas águas para testemunho de sua fé (8.12). Nenhum deles,
porém, recebeu o batismo com o Espírito Santo. Não houve a experiência de o
Espírito "descer" sobre eles como no dia de Pentecoste (Atos
8.16,20).
Para os que sustentam que tudo é recebido
através do batismo nas águas, este fato apresenta uma dificuldade. Alguns
supõem que o Espírito Santo foi recebido e que a deficiência foi corrigida
rapidamente. Mas é impossível explicar por que houve essa deficiência nesse
caso. Outros supõem que a fé dos samaritanos não era real, ou que não era
salvífica até que Pedro e João chegassem e orassem. Filipe, no entanto, era um
homem cheio do Espírito e de sabedoria. Ele, com certeza, teria discernimento e
sabedoria suficientes para não batizar as pessoas antes que verdadeiramente
cressem em Jesus.
Outros sugerem que talvez Filipe não tivesse
pregado a eles o Evangelho integral. Porque os samaritanos tinham rivalidade
com os judeus, é possível que os preconceitos de Filipe o tenham impedido de
contar aos samaritanos a respeito de todos os benefícios que Cristo, como
Salvador e Batizador com o Espírito Santo, oferece ao crente. Entretanto, não
se pode conceber esta idéia mediante o que achamos em Atos. Os discípulos não
seriam capazes de esconder uma parte da mensagem. Disseram: "Não podemos
deixar de falar do que temos visto e ouvido" (Atos 4.20). Filipe pregava a
Palavra, anunciava a Cristo (8.4,5). Os samaritanos creram no que ele ensinava
sobre o reino (soberania) de Deus e do nome (autoridade) de Jesus. Essas coisas
estão, muitas vezes, associadas com a promessa do Espírito Santo. Filipe deve
ter incluído a exaltação de Jesus ao trono e à promessa do Pai.
O problema parece estar com os próprios
samaritanos. Reconheciam que tinham sido enganados, não somente por Simão, o
mago, mas também por falsas doutrinas. É possível que, decepcionados, achassem
difícil dar o passo seguinte da fé. Quando Jesus deparava com a fé, produzida
por sua Palavra. Ele a chamava de grande, e as coisas aconteciam (Mateus 8.10).
Quando a fé se colocava acima dos empecilhos e das provações, Jesus a chamava
também de grande, e as coisas aconteciam (Mateus 15.28). Mas quando a fé era
fraca, Ele não destruía o pouco que havia: Ele a ajudava, às vezes, mediante a
imposição de suas mãos.
Quando os apóstolos vieram, impuseram sobre os
samantanos as mãos, e eles receberam o batismo com o Espírito Santo (8.15,17).
Simão, o mago, ao contemplar isso, recaiu na sua antiga cobiça e ofereceu
dinheiro em troca da autoridade de impor suas mãos nas pessoas para receberem o
Espírito Santo.
A repreensão que Pedro fez a Simão, porque este
pensava que o dom de Deus pudesse ser comprado por dinheiro, é freqüentemente
interpretada no sentido do mago desejar colocar o dom à venda. Mas essa
explicação não parece encaixar-se nos fatos, pois os apóstolos nada cobravam,
pois reconheciam que vinha da parte de Deus. Parece, pelo contrário, que Simão
simplesmente queria restaurar o seu prestígio entre o povo, ao tornar-se um
distribuidor autorizado do dom do Espírito Santo. Assim como alguns teólogos
modernos(22) entendeu erroneamente o que acontecera, e concluiu apressadamente
que a imposição das mãos era necessária para o batismo com o Espírito Santo.
Muitos outros trechos demonstram que não há necessidade disso. No Pentecoste e
na casa de Cornélio, não houve imposição de mãos. Quando Ananias impôs as mãos
em Saulo (o apóstolo Paulo), foi para a cura e não para o batismo com o
Espírito Santo (23)
O que Pedro dá a entender é que tudo quanto é
necessário para orarmos pelo próximo, é recebermos primeiro para nós mesmos o
dom. Simão, ao invés de reconhecer a sua necessidade e pedir ajuda, ofereceu
dinheiro para alcançar o dom. Não compreendia esse assunto; não tinha parte nem
sorte nele.
Alguma coisa, porém, aconteceu, quando Pedro e
João impuseram as mãos sobre os crentes; senão, Simão não compraria algo que
surgia da autoridade deles. Simão já vira os milagres de Filipe. O dom da
profecia seria exercido no idioma dele, de sorte que o sobrenatural não se
destacaria. Permaneceria apenas o que atraiu a atenção da multidão no dia de
Pentecoste: O Falar noutras línguas conforme o Espírito lhes concedia que
falassem (Atos 2.4,33). As línguas, aqui, não eram a causa do problema. Por
isso Lucas nada diz a respeito delas, para chamar a atenção do erro de Simão.
Semelhantemente, Ananias disse que Jesus o
enviou, a fim de que Paulo recuperasse a vista e fosse cheio do Espírito Santo
(9.17). Mesmo assim, a narrativa que se segue não oferece pormenores a respeito
de como Paulo recebeu a plenitude, nem menciona que ele falou noutras línguas.
Mas, da mesma forma, nos versículos anteriores que registram as instruções que
o Senhor deu a Ananias, Lucas não registra a promessa de que Paulo seria cheio
do Espírito Santo (9.11-16). Conforme acontece freqüentemente, Lucas não
registra detalhes, principalmente quando algo que aconteceu fica claro noutras
passagens. (Por exemplo, ele não menciona o batismo nas águas, quando registra
uma conversão). Logo, o que está escrito em Atos 2.4 por certo é aplicável
aqui, pois Paulo afirmou posteriormente: "Dou graças ao meu Deus, porque
falo mais línguas do que vós outros" (1 Co 14.18).
Evidência Convincente
Em certa ocasião, a evidência da plenitude do
Espírito, ou do batismo com o Espírito Santo, tornou-se de grande valia. Nenhum
outro preconceito, nenhuma outra barreira à comunhão nunca foi tão grande como
à que existia entre os judeus e os gentios. Embora Jesus tivesse preparado seus
discípulos para a divulgação do Evangelho em todas as nações, e dado ordens
nesse sentido, eles, segundo parece, entendiam que se tratava apenas dos judeus
espalhados entre as nações. O preconceito de Pedro era tão grande, que o Senhor
lhe repetiu uma visão três vezes, a fim de torná-lo sensível à voz do Espírito
para entrar na casa do centurião romano, Cornélio (Atos 10.16,19).
Pedro sabia que tal fato não seria aceito por
seus companheiros, de Jerusalém. O tornar-se cristão nunca remove imediatamente
os preconceitos. Então, convidou seis cristãos judeus como testemunhas (10.23;
11,12).
Enquanto ele pregava, o Espírito Santo desceu
sobre todos, estando presentes os amigos e os parentes de Cornélio. Os companheiros
de Pedro ficaram atônitos, porque o dom do Espírito Santo era concedido também
aos gentios (10.45). A evidência que os convenceu foi que "os ouviam falar
línguas, e magnificar a Deus".
Pedro não se enganara quanto à recepção dele em
Jerusalém. Tão logo retornou, muitos o criticaram, por ele ter entrado na casa
de um gentio e sentado à mesa, onde lhe serviram alimentos impuros (11.3).
Pedro contou, então, que o Espírito Santo veio sobre os gentios como também
sobre eles no princípio. Enfatizou, também, que se tratava do cumprimento da
promessa de Jesus, de que batizaria com o Espírito Santo sem acepção de
pessoas. Era, na realidade, o dom idêntico ao que eles tinham recebido
(11.15-17).(24) Com isso, os de Jerusalém cessaram suas objeções, e reconheceram
que "até aos gentios deu Deus o arrependimento para a vida" (11.18).
Mediante esta evidência, Pedro, então, afirmou:
"Pode alguém porventura recusar a água, para que não sejam batizados
estes, que também receberam como nós o Espírito Santo?" (10.47). Alguma
coisa demonstrou que aquele acontecimento era idêntico ao que se registrou em
Atos 2.4, antes dos cristãos em Jerusalém se darem por satisfeitos. Pedro não
disse: "Espero que tenham recebido o derramamento, a experiência
transbordante do Pentecoste"; "Os gentios o aceitaram pela fé, de
modo que acho que o receberam, creio que receberam". Ele sabia que tinham
recebido a plenitude, não porque eles testificavam, mas por causa da
manifestação do Espírito Santo através deles. O Espírito Santo ofereceu a
evidência: "Falavam em línguas, e magnificavam a Deus" (exatamente
como em Atos 2.4,11).
Obviamente, o falar em línguas foi a evidência
convincente. E nestes dias em que vivemos, quando tantas pessoas buscam,
esperam, crêem, e depois duvidam do recebimento do batismo no Espírito, talvez
ainda seja necessária uma evidência maior!
Há, no entanto, outros pormenores na
interpretação desse trecho.
Alguns supõem que o fato de o Espírito Santo
descer sobre os gentios, enquanto Pedro ainda pregava, significa que a sua
experiência de conversão e derramamento do Espírito Santo era idêntica à do
Pentecoste. Já notamos, no entanto, que em Jerusalém e Samaria, os que
receberam o dom já eram crentes antes de o Espírito Santo ter sido derramado
sobre eles. Posto que Pedro identifica o que aconteceu na casa de Cornélio como
o dom do Pentecoste, deve haver alguma distinção entre sua conversão e o dom do
Espírito Santo.
A solução se acha em Atos 10.36,37. A palavra
que Cornélio e seus amigos conheciam a respeito de Jesus tinha sido divulgada
por todaaJudéia. "Vós" (v.37)é enfático. Isso parece indicar que
esses mesmos gentios conheciam os fatos a respeito de Jesus, que incluiriam a
promessa do Espírito Santo. A palavra de Deus prometida a Cornélio, por
intermédio de Pedro, não era simplesmente o Evangelho, mas as boas-novas
"de que todos os que nele [em Cristo] crêem, receberão o perdão dos
pecados pelo seu nome" (10.43).
Alguns acreditam que Cornélio não somente
conhecia o Evangelho, mas também desejava aceitar a Jesus. Porque o Evangelho
era pregado somente aos judeus, é possível que ele tenha desejado converter-se
ao Judaísmo, a fim de, posteriormente, tornar-se cristão. Quer seja assim,
quer não, fica claro que ele conhecia o Evangelho. Fica claro, ainda, que
Deus, através de um anjo, o deixou preparado para aceitar a mensagem que Pedro
traria (10.22,30-33). Isso significa, também, que os corações desses ouvintes
estavam receptivos para acolher o que Deus preparara para eles. Em uma fração
de segundo, creram e foram salvos. Em outro breve momento, receberam o
derramamento, que Pedro entendeu ser o batismo com o Espírito Santo. Logo,
embora não houvesse um longo período de tempo, tudo indica que foram dois
eventos separados.
Pedro, no Concilio de Jerusalém (Atos 15.8), informou
que o dom do Espírito Santo foi a maneira de Deus dar testemunho dos gentios.
Isso subentende que já eram convertidos. O batismo com o Espírito Santo
testificou quejá eram crentes. Atos 15.9 menciona que Deus purificara os seus
corações pela fé. Mas o propósito de Pedro, ao mencionar esse fato no fim do
seu relato, não era o de indicar a ocasião em que aconteceu, mas para lhe dar
ênfase. A questão em pauta em Atos 15.9 era a da necessidade de os gentios
guardarem a Lei e serem circuncidados; por isso Pedro não estabelece um relato
cronológico dos eventos.
Outros supõem que Atos 10.47 indica que a água
era necessária para completar a experiência. Mas os seus corações foram purificados
pela fé, e não pela água (Atos 15.9).(25) O batismo nas águas, aqui referido,
era tanto um reconhecimento pela Igreja de que Deus aceitara esses gentios,
como um testemunho diante do mundo de que eles realmente se tornaram membros da
Igre-ja.(26) Assim, pelo Espírito Santo, a barreira foi rompida. Os gentios
eram agora membros da Igreja em pé de igualdade com os judeus.(27)
Alguns problemas, quando estão ligados a
preconceitos, tendem, porém, a surgir. A conferência de Jerusalém se tornou
necessária, quando os judeus cristãos voltaram a impor restrições aos gentios e
à sua salvação. Mas quando Pedro relembrou a obra do Espírito Santo em
Cesaréia; Paulo e Barnabé testificaram a respeito do que Deus realizava entre
os gentios, e Tiago transmitiu a palavra de sabedoria no Espírito Santo, os
crentes concordaram (Atos 15.8,9,12-29). A presença do Espírito Santo no meio
deles foi suficiente para a solução de quaisquer problemas, e estavam dispostos
a atribuir a Ele o crédito por isso (Atos 15.28). (28)
Recebestes vós já o Espírito Santo?
Em Éfeso, falar noutras línguas é mencionado em
conexão com certos discípulos que Paulo encontrou ali (Atos 19.1-7).
Embora o livro de Atos quase sempre use a
palavra discípulo no sentido de um seguidor de Jesus, um cristão, Paulo sentia
que, nesse caso, faltava algo. Sem dúvida, esses homens professavam ser
seguidores de Jesus. Porém, Paulo lhes perguntou se tinham recebido o Espírito
Santo "depois de terem crido".
A maioria das versões bíblicas registra que se
deve traduzir: "quando crestes". O grego diz literalmente:
"tendo crido, recebestes?" O crer, em grego, é um particípio passado;
enquanto que receber é o verbo principal. Posto que o particípio freqüentemente
revela seu relacionamento com o verbo principal, o fato de crer estar no tempo
passado significa que antecedia o receber, "depois de terem crido"
(trad. ingl. King James).
Muitos estudiosos da língua grega afirmam, no
entanto, que o particípio aoristo freqüentemente indica uma ação que ocorre ao
mesmo tempo que a do verbo principal, especialmente se este também estiver no
aoristo, como em 19.2. Dunn vai além, ao declarar que o particípio aoristo, que
indica ação anterior ao recebimento, só demonstra seu domínio inadequado da
gramática grega (inclusive os tradutores da King James).(29)
Dunn chama a atenção às expressões
"respondeu e disse", que realmente são idiomáticas e não esclarecem a
interpretação de outros trechos. Alguns outros exemplos que ele oferece
realmente demonstram que a ação do particípio e do verbo principal ocorrem ao
mesmo tempo. Outros exemplos não parecem ser tão conclusivos. Hebreus 7.27
realmente parece dizer: "Isto fez ele, uma vez, tendo oferecido a si
mesmo"; isto é: quando se ofereceu a si mesmo. Mateus 27.4: "Pequei,
traindo o sangue inocente", parece ser coincidente, mas o uso não é o
mesmo que em Atos 19.2.0 pecado é definido como traição. É difícil imaginar que
o receber o Espírito Santo é definido como crer em Atos 19.2, especialmente
porque outros trechos indicam que o recebimento envolve um derramamento
específico do Espírito.
Outro trecho usado por Dunn é 1 Coríntios 15.18:
"Tendo dormido em Cristo, estão perdidos". Paulo, no entanto, não
afirma que o estar perdido é a mesma coisa que o dormir. Pelo contrário, o
dormir seria seguido pela perdição, se Jesus não ressuscitasse. Dunn também
entende que Atos 1.8 é ação coincidente: "Recebereis a virtude, tendo
vindo sobre vós o Espírito Santo". Em certo sentido, é possível que o
poder tenha vindo com o Espírito Santo, que é considerado o poder. Mas o mesmo,
no livro de Atos, surge quando há necessidade dele. Logo, é o resultado da
vinda do Espírito Santo, ao invés de ser a mesma coisa.
Outro exemplo é Atos 10.33: "Bem fizeste,
tendo vindo". "Ter vindo" define aquilo que Cornélio queria
dizer por "fazer bem". Mas "tendo crido" define o que Paulo
queria dizer por "receber o Espírito"? Além disso, Atos 27.3 está
longe de ser tão coincidente como Dunn quer que creiamos. Seria melhor
traduzido: "Júlio, tendo tratado Paulo com hospitalidade, lhe permitiu ir
ver os amigos". Parece provável que houve hospitalidade antes da permissão
de visitar os amigos.
Dunn ignora outros exemplos que são ainda menos
coincidentes. Ao falar a respeito de sete irmãos (Mateus 22.25), os saduceus
disseram do primeiro: "tendo casado, morreu". Obviamente, o texto não
quer dizer que casar-se e morrer são a mesma coisa, nem que aconteceram ao
mesmo tempo. Eram eventos distintos entre si, e o casamento antecedeu a morte,
provavelmente por algum tempo.
Semelhantemente, Atos 5.10 diz [lit.]:
"tendo levado a ela [Safira], sepultaram-na". Mais uma vez, levar
para fora não era a mesma ação do enterrar. O enterrar seguiu ao levar para
fora, numa simples seqüência histórica. Eram, no mínimo, dois eventos distintos
entre si, embora não houvesse um longo período de tempo entre eles.
Outros exemplos se acham em Atos 13.51:
"Tendo sacudido contra eles o pó dos seus pés, partiram para Icônio"
[lit.]; 16.6: "E passaram pela Frígia e pela província de Galácia, tendo
sido impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a palavra na Ásia" [lit.];
16.24: "O qual, tendo recebido tal ordem, os lançou no cárcere
interior". Nesses casos, e em muitos outros, a ação do particípio antecede
a ação do verbo principal.
Sendo assim, embora haja casos em que a ação do
particípio aoristo esteja coincidente com aquela de um verbo aoristo, essa não
é uma concepção aceitável. A impressão dada por Atos 19.2 é que, visto que
esses discípulos alegavam ser crentes, o batismo com o Espírito Santo deveria
ter sido o passo seguinte, um passo distinto depois do ato de crer, embora não
necessariamente separado deste por um longo período.
A resposta desses discípulos: "Nós nem
ainda ouvimos que haja Espírito Santo". O significado, no entanto, não
parece ser que nunca ouviram falar na existência do Espírito Santo. Que judeu
piedoso ou gentio interessado poderia ter sido tão ignorante? É mais provável
que a expressão seja comparável com João 7.39. Ali, a frase está condensada:
"Ainda não era Espírito" [lit.]; significa que a era do Espírito
Santo com o derramamento prometido ainda não chegara. Sendo assim, esses
discípulos afirmavam que não sabiam da disponibilidade do batismo com o
Espírito Santo.(30) Na realidade, vários manuscritos e versões do Novo
Testamento dizem: "Nem ainda ouvimos que alguns já estão recebendo o
Espírito Santo".
Paulo, então, descobriu que esses discípulos
foram batizados com o batismo de João que era apenas preparatório. Diante
disso, foram batizados no nome (no serviço e na adoração) do Senhor Jesus.
Depois, "as mãos de Paulo tendo sido impostas sobre eles, veio-lhes o Espírito
Santo; e começaram a falar línguas e a profetizar" [lit.].
É melhor entender aqui, também, que a imposição
das mãos era um meio de encorajar a fé deles, e que precedia a vinda do
Espírito Santo, e era uma ação separada. Em seguida, para enfatizar que esses discípulos
tinham recebido a plena experiência do batismo com o Espírito Santo, Lucas
declara que falavam em línguas e profetizavam. (O verbo grego talvez
subentenda que falavam assim).
Guiado pelo Espírito
Uma das evidências mais importantes da obra do Espírito
Santo, tanto na Igreja como nas vidas dos indivíduos, era a maneira de o
Espírito guiá-los. Vários incidentes na vida de Pedro e Filipe já foram
mencionados. Mas a orientação do Espírito Santo destaca-se ainda mais nas
experiências do apóstolo Paulo.
A palavra dada aos líderes em Antioquia era
muito específica (Atos 13.1-4). Esses homens eram profetas e mestres, usados e
dotados pelo Espírito Santo, homens que edificavam a igreja, tanto espiritual
como numericamente. Porque tinham consciência das suas necessidades
espirituais, bem comodas da igreja, costumavam dedicar, juntos, tempo ao jejum
e à oração. Sabiam que deviam ministrar ao Senhor (permanecer diante dele em
intercessão e na busca da sua presença e poder) para poderem ministrar ao povo.
Numa dessas ocasiões, o Espírito Santo falou
(através da palavra profética). Ele ordenou que fossem separados Saulo e
Barnabé para a obra que designara. Então, depois de jejuarem e orarem, os
despediram. O versículo 4 enfatiza que foram enviados pela intervenção do
Espírito Santo. O motivo da profecia foi que Paulo e Barnabé já haviam aceitado
responsabilidades alusivas à igreja em Antioquia. Não era preciso o Espírito
Santo convencê-los a irem; a igreja é que devia deixá-los ir. Os líderes, ao
imporem as mãos sobre eles, fortaleceram sua fé e demonstraram que a igreja os
apoiaria em oração. Mas não lhes disseram para onde deviam ir. O próprio
Espírito Santo ordenou que fossem para Selêucia e, depois, para Chipre.
Posteriormente, Paulo reconheceu que os presbíteros
estavam no mesmo nível dos apóstolos. O Espírito Santo os constituiu bispos
("superintendentes", pastores das igrejas locais) para apascentar
(pastorear, alimentar) a igreja [assembléia] de Deus. Eles, também, tinham seu
ministério e sua vocação dirigidos pelo Espírito Santo. De igual modo, Ele era
a fonte dos dons administrativos que necessitavam para dirigirem a igreja (1
Coríntios 12.28).
Constrangido pelo Espírito Santo
Ser dirigido pelo Espírito Santo significa mais
do que desfrutar da liberdade, da ousadia e das vitórias que Ele concede. Acima
de tudo, não há liberdade para as expressões egoístas ou arbitrárias da nossa
própria vontade.(31) Pelo contrário, os que são chamados e dirigidos pelo
Espírito Santo, poderão descobrir que não somente são libertos pelo Espírito,
como também se tomam (voluntariamente) seus prisioneiros. Aceitam os limites e
restrições que Ele estabelece. Reconhecem que Ele sabe o que faz, e que as
restrições são necessárias para os seus propósitos.
Um exemplo notável se acha durante a segunda
viagem missionária de Paulo. O Espírito proibiu a Paulo, juntamente com Silas e
Timóteo, de falar a Palavra na província romana da Ásia. É provável que também
se tratas se de uma expressão verbal profética, posto que o texto grego indica
uma ordem direta do Espírito Santo. Imaginemos o impacto que esta ordem teve
sobre o apóstolo que dizia: "Ai de mim, se não anunciar o evangelho!"
(1 Co 9.16).
Na realidade, Deus deu a Paulo, na sua terceira
viagem missionária, um grandioso ministério na província da Ásia. Desta vez,
porém, Deus tinha uma outra direção para ele seguir. Mesmo assim, o Espírito
Santo não lhe deu orientação certa. De modo que Paulo continuava pelo caminho
que estava diante dele. Ao chegarem próximo de Mísia, tornou-se necessária a
tomada de uma decisão. A estrada para o norte brevemente chegaria ao fim. Posto
que ainda não havia uma direção do Espírito Santo, Paulo voltou-se para o
leste, e pretendia (tomando passos específicos) ir para a Bitínia. Foi então
que o Espírito de Jesus [conforme dizem vários manuscritos antigos] orientou-o.
Mais uma vez, foi mediante a recusa específica de deixá-los ir naquela direção
(Atos 16.6-8).
Paulo, então, voltou seus passos ao oeste, em
direção à Europa, somente porque o Espírito Santo o impedia de ir em qualquer
outra direção. Em Trôade, encontrava-se no lugar onde o Senhor podia lhe dar
outra orientação, mediante a ida para a Macedônia. Os obstáculos do Espírito
Santo prepararam Paulo a aceitar isso como a vontade do Senhor. Na Macedônia,
Paulo não duvidava que o Senhor o enviara, nem sequer quando foi encarcerado em
Filipos (Atos 16.9,25).
Quando ele fez sua última viagem a Jerusalém,
foi "constrangido pelo Espírito" (Atos 20.22 - trad. ingl. New
International Version). Ir a Jerusalém não era seu desejo pessoal. Queria ir a
Roma e, depois, seguir viagem até a Espanha (Romanos 1.10-13; 15.23,24). Mas
foi conduzido pelo Espírito Santo a Jerusalém. Esse mesmo verbo é usado a
respeito de presos. Posteriormente, Paulo foi a Roma, acorrentado, como
prisioneiro do governo romano (embora ele sempre se considerasse um prisioneiro
de Cristo). Mas nessa ocasião em pauta, era mesmo um prisioneiro do Espírito
Santo que o levou a Jerusalém, a fim de entregar aos cristãos locais uma oferta
das igrejas na Macedônia e na Grécia (Romanos 15.25-27).
Isso não queria dizer que Paulo estivesse
indisposto a ir, embora o Espírito Santo testemunhasse, de cidade em cidade,
que prisões e perseguições o esperavam. Paulo não seria demovido do seu
propósito de obedecer a Deus. Antegozava completar com alegria a sua carreira
(Atos 20.23,24).
Maiores detalhes de como o Espírito Santo
testificava são apresentados no capítulo seguinte de Atos. Em Tiro, enquanto o
navio era descarregado, Paulo e seus amigos passaram sete dias com os cristãos
locais. Eles, "pelo Espírito", diziam a Paulo que não subisse a
Jerusalém (21.4). Aqui, porém, a palavra grega traduzida "pelo" não é
a mesma usada nos trechos anteriores para traduzir a atuação direta do Espírito
Santo. Pode significar "uma conseqüência do Espírito", ou "por
causa do que o Espírito dissera". O próprio Espírito Santo certamente não
proibia Paulo de seguir viagem. (32) Ele constrangia Paulo a ir. Ele não
contradiz a si mesmo.
Os detalhes do que aconteceu em Cesaréia, o
próximo porto onde Paulo desembarcou, esclareceram o cenário (Atos 21.10-14).
O profeta Agabo desceu de Jerusalém, tomou o
cinto de Paulo, e usou-o, para transmitir a mensagem do Espírito Santo de que
Paulo seria amarrado pelos judeus em Jerusalém e entregue aos gentios. Por
causa dessa profecia, todos rogaram que ele não prosseguisse a viagem. Sem
dúvida, foi o que aconteceu em Tiro. As pessoas, ao ouvirem a mensagem do
Espírito Santo, expressaram seus próprios sentimentos para que Paulo não fosse.
Ele, no entanto, declarou que estava disposto,
não somente a ser amarrado, mas até mesmo morrerem Jerusalém, por amor ao nome
do Senhor Jesus. Paulo sabia que a vontade de Deus era que ele fosse.
Finalmente, disseram: "Faça-se a vontade do Senhor". Isto é:
reconheciam que realmente era da vontade de Deus que ele continuasse a viagem.
Era, na realidade, importantíssimo que os
cristãos soubessem que era da vontade de Deus que Paulo fosse amarrado. Ainda
havia judaizantes que se opunham ao evangelho que ele pregava, e que queriam
obrigar os gentios a se tornar judeus antes de se tornarem cristãos. Diziam,
com efeito, que os cristãos gentios não eram realmente salvos.
Se Paulo tivesse ido a Jerusalém sem essas
advertências, e sem conscientizar as igrejas sobre o que estava para acontecer,
os judaizantes poderiam ter entendido que a prisão dele era um castigo divino.
Assim, poderia ter surgido muita confusão nas igrejas. Mas o que realmente
aconteceu foi que o Espírito Santo, em tudo isso, testificava de Paulo e do
evangelho que ele pregava. Ao mesmo tempo, a própria Igreja foi protegida das
forças divisionárias. O Espírito Santo é, na verdade, o Guia e Protetor que a
Igreja necessita.
O livro de Atos enfatiza, portanto, que o
Espírito Santo, pela própria natureza das coisas, está intimamente ligado com
todos os aspectos da vida da Igreja e dos cristãos. Jesus é o Salvador. Jesus é
o que batiza, cura. Jesus é o Rei Vindouro. Mas é o Espírito Santo que no-lo
revela e opera em nós tudo quanto Ele prometeu que faria. Somos batizados com o
Espírito Santo, revestidos pelo poder do Espírito, discipulados pelo Espírito,
orientados e refreados pelo Espírito. E nada disso é restrito aos apóstolos ou
aos demais líderes. No livro de Atos, cada crente é uma testemunha. Cada crente
tem a plenitude. Cada crente tem a alegria do Senhor. Que quadro maravilhoso do
que a Igreja deve ser!
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