ATOS ESTUDO E COMENTÁRIO

       
    
        ESTUDO BIBLICO EM ATOS DOS APOSTOLOS

                    A ação do Espírito Santo através da Igreja




Certamente haveremos de nos convencer de que, à semelhança daqueles dias, o Espírito Santo vem agindo na Igreja e através da Igreja, levando-a a ser o sal de um século insípido e a luz de um mundo em trevas. Mas não espere encontrar uma igreja sem problemas, conforme adverte-nos o pastor inglês John Stott: “A leitura de Atos não deve levar-nos a uma idealização da Igreja Primitiva, como se ela não possuísse nenhum defeito. Como veremos adiante, ela tinha muitos”.
Sim, não encontraremos uma igreja perfeita, mas uma igreja poderosa e militante que espalha o Evangelho de Cristo sem impedimento algum.

 AUTORIA, DATA E TEMA

Em seu Evangelho, Lucas fez um relato fidedigno e metódico pondo “em ordem a narração dos fatos”, diz ele, “que entre nós se cumpriram, segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde o princípio” (Lc 1.1,2). Já em Atos dos Apóstolos, pôs-se ele a narrar a expansão da Igreja de Cristo. Neste livro, Lucas atua também como o personagem que, de forma modesta, oculta-se na humildade do pronome da primeira pessoa do plural (At 20.6,13,15; 21.16; 27.8).
Conheçamos, pois, mais alguns detalhes dos Atos dos Apóstolos que devem ser conhecidos ainda, segundo F.B. Meyer, como “os Atos do Espírito do Cristo que ascendeu ao céu”.
 Autoria. Não possuímos muitas informações acerca do autor de Atos dos Apóstolos. Sabemos apenas tratar-se de um homem excepcional, culto e possuidor de um estilo literário de impressionante grandeza. Haja vista o prólogo de seu evangelho escrito num grego que se aproxima do clássico (Lc 1.1-4).
Lucas também era médico (Cl 4.14). E mui amado por todos.
Pelo que depreendemos de sua obra, veio ele a converter-se depois da ascensão do Senhor Jesus. A partir da segunda viagem missionária de Paulo, encontramo-lo a participar ativamente da evangelização dos gentios (At 16.10).
 Data de composição. Lucas concluiu os Atos dos Apóstolos entre os anos 61-63. Portanto, antes da execução de Paulo e bem antes da destruição de Jerusalém pelos romanos. Historiador consciencioso que era, jamais deixaria de mencionar ambos os fatos, houvesse ele escrito o livro após o ano 70. Acerca da historiografia lucana, manifesta-se A. N. Sherwin-White, emérito professor de história da Universidade de Oxford: “Para o autor de Atos, a confirmação da historicidade dos fatos é fundamental”.
 Tema. Podemos resumir assim o tema central dos Atos dos Apóstolos: A expansão triunfal do Evangelho de Cristo através da Igreja no poder do Espírito Santo.

 O CONTEÚDO DE ATOS DOS APÓSTOLOS

Assim podemos dividir o conteúdo de Atos dos Apóstolos: Eventos Pré-pentecostais (At 1); Evento Pentecostal (At 2); A expansão do Evangelho em Jerusalém (At 3-7); A expansão do Evangelho na Judeia e Samaria (At 8-12); A expansão do Evangelho entre os gentios (At 13-28). As divisões de Atos dos Apóstolos acompanham a ordem de Jesus em Atos 1.8.
 Eventos pré-pentecostais. Dois foram os principais eventos que precederam a descida do Espírito Santo no Dia de Pentecostes: a ascensão de Cristo e a escolha de Matias como ocupante do posto desprezado por Judas Iscariotes.
a) A ascensão de Cristo. A subida do Cristo ressurreto e glorioso ao céu, como veremos na próxima lição, não foi um artifício mitológico criado por Lucas, mas um fato histórico comprovado e testemunhado por centenas de pessoas (At 1.15; 1 Co 15.6).
b) A eleição de Matias. A escolha do substituto do Iscariotes tem de ser encarada como um capítulo importantíssimo da História da Igreja Cristã. Além do mais, foi o próprio Espírito Santo quem constrangeu a Pedro a presidir a reunião que culminou com a designação de Matias. A Igreja não poderia ser inaugurada com o colégio apostólico incompleto (At 1.15-20).
 Evento Pentecostal. Estando o Cristo já à destra do Pai e a vacância de Judas preenchida por Matias, só faltava mesmo a efusão do Espírito Santo sobre os discípulos, para que a Igreja fosse inaugurada como a agência por excelência do Reino de Deus. O fato está registrado em Atos capítulo dois. Na terceira lição, estaremos a discorrer com mais vagar sobre o evento.
 Eventos missionários. Lucas narra, com precisão, seis eventos missionários que mostram como a Igreja de Cristo expande-se de Jerusalém aos confins da terra: a expansão em Jerusalém, a expansão na Judeia e Samaria e a expansão entre os gentios, compreendendo as quatro viagens missionárias de Paulo.
a) A expansão em Jerusalém. Nenhum líder judeu poderia imaginar que, logo após a morte do Senhor Jesus, a Igreja Cristã, inaugurada no Pentecostes, esparramar-se-ia tão celeremente por toda Jerusalém. No Sermão do Pentecostes, quase três mil almas agregaram-se aos fiéis (At 2.41). Mais adiante, o número já sobe para quase cinco mil (At 4.4). Daí em diante, multiplicou-se tanto o número de conversos que até mesmo não poucos sacerdotes obedeciam a fé (At 6.7).
b) A expansão da Igreja na Judeia e Samaria. A morte de Estêvão foi apenas o início de uma perseguição que culminaria com a diáspora da igreja hebreia. Os irmãos, espalhados que foram pela arbitrariedade das autoridades judaicas, iam semeando a Palavra de Deus por toda a Judeia até chegar a desprezada Samaria (At 8.1-25). Nessa fase, destaca-se como evangelista o que fora escolhido como diácono: Filipe (At 8.5).
c) A expansão da Igreja entre os gentios. Se na parte inicial de Atos, a figura proeminente é Pedro, na segunda parte destacar-se-á Saulo de Tarso como o grande campeão de Cristo que, em três viagens missionárias, levou o Evangelho ao extremo ocidental do mundo então conhecido sem impedimento algum (At 13-28). 

 O PROPÓSITO DE ATOS DOS APÓSTOLOS

O livro de Atos dos Apóstolos foi escrito com o propósito de narrar e justificar a expansão universal da Igreja de Cristo no poder do Espírito Santo. É o seu intento também estimular os crentes de todas as gerações a prosseguir na universalização do Reino de Deus até a volta de Cristo.
 Narrar a expansão da Igreja. Como a Igreja de Cristo, inaugurada pelo Espírito Santo em Jerusalém, veio a tornar-se na universal e invisível assembléia dos santos? Foi justamente para responder a esta pergunta que Lucas escreveu os Atos dos Apóstolos. Metódica e sistematicamente, mostra ele como a Igreja transcendeu as fronteiras da Judeia para universalizar-se nos confins da terra (At 1.1-15).
 A justificar os Atos dos Apóstolos. De maneira sutil, porém bastante evidente, Lucas destaca o mandamento do Cristo que justifica não apenas a expansão da Igreja como a sua universalização: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8). Evangelizar e fazer missões é a nossa obrigação.
 Estimular aos crentes. Ao encerrar os Atos dos Apóstolos, deixa Lucas bem patente a todos nós que aqueles atos não foram encerrados com a prisão de Paulo em Roma, mas acham-se abertos e livres para que evangelizemos e façamos missões até a volta de Jesus sem impedimento algum.
Atos dos Apóstolos.“Os capítulos iniciais do Livro de Atos definem os alicerces do explosivo crescimento da jovem igreja. Por cerca de quarenta dias os discípulos foram ensinados, por Jesus, sobre ‘o Reino de Deus’ e sua responsabilidade de difundir a mensagem de Jesus ‘até aos confins da terra’ (1.1-8). A ascensão visível de Cristo ao céu foi seguida por um breve período de espera, durante o qual os discípulos escolheram um fiel seguidor de Jesus para assumir o lugar de Judas Iscariotes (1.9-26). Esta espera terminou no dia de Pentecostes.
[Os] primeiros capítulos de Atos apresentam os temas que percorrem todas as epístolas do Novo Testamento, e são vitais para nós hoje. O primeiro tema é o Espírito Santo. Sua vinda inaugura a igreja [...]. O segundo tema é a evangelização. Os primeiros cristãos são levados a proclamarem o Senhor [...]. O terceiro motivo é a comunhão. Os membros da jovem igreja são unidos por comprometimento compartilhado com Jesus. Eles adoram, estudam, repartem e oram juntos, em unidade que inspira profundo carinho de uns pelos outros. Embora devamos encarar o Livro de Atos como documento descritivo que retrata o que aconteceu no século I, em lugar de encará-lo como um documento prescritivo que nos instrui sobre como devemos viver hoje, estes três temas nos lembram de como dependência do Espírito, paixão pela evangelização e comprometimento com a comunhão são vitais para qualquer pessoa que procure seguir a Jesus Cristo em nossa época”.(RICHARDS, L. O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1.ed. RJ: CPAD, 2007, pp.251-2) 
A Eclesiologia em Lucas.“No pensamento de Lucas, a Igreja relaciona-se com algumas coisas antigas e novas. Ela está ligada às coisas antigas porque compartilha as promessas feitas e entrega essa mensagem ao mundo. Ela está ligada às coisas novas porque é uma estrutura totalmente nova por meio da qual, agora, Deus opera. Os apóstolos proclamavam nas sinagogas que Jesus é o cumprimento da Lei do Antigo Testamento, portanto, todo judeu que respondia as promessas devia vir a Jesus. A argumentação dos apóstolos era que o fim natural do judaísmo encontrava-se em Jesus. No início de Atos dos Apóstolos, os apóstolos não parecem considerar que foram chamados a se separar de Israel. Eles iam ao Templo e se reuniam lá (At 3.1-10; 4.1,2; 5.12). A prática deles era sensível em relação às preocupações judaicas (15.1-35; 21.17-26). [...] Até mesmo quando Paulo deixou os judeus para ir aos gentios, ele ainda ia à sinagoga, ou ao Templo, das cidades que viajava (13.46 — 14.1; 18.6 com 21.26) [...] Os judeus que ouviam Paulo ficavam informados que eles, para seguir até o fim seu compromisso com Deus, tinham de abraçar a mensagem da promessa inaugurada e se tornar membros da nova comunidade. Entretanto, os eventos forçaram a Igreja a se separar do Judaísmo, por causa da rejeição judaica. Como resultado disso, a Igreja emergiu como uma comunidade independente da sinagoga.
Lucas via essa comunidade que surgia como algo novo. Por isso, em At 11.15, Pedro, ao se referir aos eventos de 2.1-4, usa a expressão ‘ao princípio’. Agora, nos termos lucanos, ela é o início da realização da promessa, conforme as declarações de Pedro relacionadas com a primeira distribuição do Espírito (At 2.14-36) [...]. Assim, o surgimento da Igreja teve sua origem na vinda do Espírito Santo. Atos 11.15-18 torna a concessão do Espírito o marco inicial dessa nova era e desse novo grupo de fiéis. Lucas explica como esse grupo torna-se distinto do judaísmo e, mesmo assim, tem o direito de proclamar as promessas que costumam pertencer exclusivamente às sinagogas. Deus está presente nessa nova comunidade. Em Atos 11, o ponto adicional a respeito desse novo grupo é que Deus incluiu os gentios nesse círculo de bênçãos com sua intervenção direta (vv.11-18). Em Atos 2, os eventos da fundação da igreja fazem paralelo com os eventos da casa de Cornélio, registrados em Atos 10.1 – 11.18, mostrando, sem deixar a menor sombra de dúvida, que Deus agiu para incluir os gentios”.(ZUCK, R. et al. Teologia do Novo Testamento. 1.ed. RJ: CPAD, 2008, pp.156-57)


     MAIS NOTAS DOS ASSUNTOS JA TRATADOS ANTERIORMENTE.
Introdução ao estudo sobre a ação do Espírito Santo na Igreja e através da Igreja conforme a narrativa lucana
Lucas não se limitou a escrever os Atos dos Apóstolos. Fiel companheiro de Paulo, participou ele de muitos daqueles atos que os apóstolos prodigalizaram sob a unção do Espírito Santo. Cruzando fronteiras, singrando mares e transculturando-se até mesmo entre os bárbaros e incultos, esmerou-se como um dos maiores escritores de todos os tempos.

Em Atos dos Apóstolos, Lucas vai localizando eventos que rapidamente universalizam-se na conversão de pessoas e famílias das mais distintas nacionalidades. Como ficar indiferente àqueles acontecimentos tão únicos que se deram em Jerusalém, que se efetivaram em Samaria e imortalizaram-se em Antioquia? Da ascensão de Cristo no Monte das Oliveiras até a prisão de Paulo em Roma, tais fatos mostram o irresistível poder do Espírito Santo na vida da Igreja que, tendo como nascedouro Israel, reclamava agora, como herança, todas as nações da terra.

Transcendendo a sombra de um império localizado e passageiro, Lucas visualiza o ideal de um reino universal e eterno que se concretiza na proclamação do Evangelho de Cristo. Somente um historiador com a sua magnitude gizaria um domínio que o Império Romano não seria capaz de resistir. Um domínio, aliás, construído não apenas de palavras, mas erguido sobre atos miraculados pelo Espírito Santo.

O que é o livro de Atos dos Apóstolos

Lucas não escreveu livros; redigiu dois tratados. Judiciosa e imparmente, redigiu-os. O próprio autor assim classifica suas obras: “Escrevi o primeiro tratado” (At 1.1). Temos diante de nós, por conseguinte, um dos maiores escritores de todos os tempos. Além de divinamente inspirado, sabia Lucas como trabalhar a palavra de maneira a realçar-lhe o belo. Diria Olavo Bilaque que o evangelista era um ourives de raro pendor.

São mui raros os historiadores que se destacam pela sublimidade do estilo, pela seleção dos vocábulos e pela arquitetura da frase. A maioria supõe que, ater-se aos fatos, é o suficiente para agradar ao leitor. Na língua portuguesa, temos um exemplo que merece ser citado quer pela exatidão de sua historiografia, quer pela formosura de sua prosa. Refiro-me a Oliveira Martins (1845-1994). A sua História de Portugal é uma obra que, além de bem pesquisada, teve o seu texto cinzelado com esmero e apuro. Apesar de seu engenho e arte, Martins não logrou superar o médico amado.

No evangelho, Lucas deixa bem claro a Teófilo que o seu propósito não é compor a biografia de Jesus, mas aprofundar-se na vida, ministério e paixão daquele que, nascido verdadeiro homem, era e é verdadeiro Deus. Pesquisando exaustivamente os fatos, cotejando documentos e entrevistando testemunhas oculares, logrou reconstituir com singular precisão as palavras e atos do Nazareno desde Belém de Judá até ao Calvário. Esse foi o seu primeiro tratado.

Mas, rigorosamente, o que é um tratado? É um estudo sistemático e metódico acerca de um personagem, de uma ciência ou de um evento histórico. A palavra grega traduzida por tratado é mui significativa. Logos é um estudo formal sobre determinado assunto, cuja natureza demanda rigorosa organização, a fim de conformar-se às exigências da comunidade acadêmica.

Pode o livro de Atos ser considerado um trabalho rigorosamente acadêmico? Na pena do Dr. Lucas, sim. Oferece-nos ele mais do que uma história; presenteia-nos com uma historiografia precisa e claríssima do Filho de Deus. Nenhuma academia que se preza haveria de reprovar-lhe os tratados: o terceiro evangelho e os Atos dos Apóstolos.

Aceito universalmente pela comunidade cristã, os Atos são, por conseguinte, um livro histórico, teológico, apologético e missiológico.
 

Atos: histórico, teológico, apologético e missiológico

O livro de Atos dos Apóstolos é uma obra histórica, teológica, apologética e missiológica. Se não, vejamos.

1) Histórico - O objetivo de Lucas, em Atos dos Apóstolos, é historiar os eventos que se sucederam na Igreja e através da Igreja, destacando sempre a Igreja de Cristo como a agência por excelência do Reino de Deus. Seu relato vai da ascensão de Jesus, no Monte das Oliveiras, até à prisão domiciliar de Paulo, em Roma. O autor revela, de maneira bem clara o seu objetivo:

“Escrevi o primeiro livro, ó Teófilo, relatando todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar até ao dia em que, depois de haver dado mandamentos por intermédio do Espírito Santo aos apóstolos que escolhera, foi elevado às alturas. A estes também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas provas incontestáveis, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando das coisas concernentes ao reino de Deus. E, comendo com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes. Porque João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias. Então, os que estavam reunidos lhe perguntaram: Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel? Respondeu-lhes: Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade; mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1.1-8).

A historiografia lucana é científica. Fruto de ampla pesquisa, revela-se metódica e expõe-se sistemática. Ele jamais se contentou com fontes que não fossem primárias. Além de escrever a história da Igreja Primitiva, desta mesma história participou. Ele oculta-se na majestade da segunda pessoa do plural, para revelar a singularidade da pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo na vida de seus apóstolos e evangelistas.

2) Teológico - Ao fazer história, Lucas dá-se a conhecer como grande e sublimado teólogo. A teologia vai aparecendo em sua obra de forma progressiva, observando sempre o ritmo de sua narrativa. Assim, realça ele o Reino de Deus através da Igreja no poder do Espírito Santo. Não era a sua intenção elaborar um tratado teológico. Mas, ao narrar as ações dos apóstolos do Cristo, fez-se teólogo. Como dissociar a História Sagrada da teologia bíblica e cristocêntrica?

3) Apologético - Os Atos dos Apóstolos são também um livro apologético. Em primeiro lugar, os discípulos de Jesus defenderam as verdades cristãs diante das autoridades judaicas que, de forma blasfema e arbitrária, tudo fizeram por matar a Igreja em seu nascedouro. Tendo em vista tal ameaça, o Espírito Santo instrumentalizou a Pedro e a João como os dois primeiros apologetas da Igreja (At 4.1-30). Em seguida, levanta o diácono Estevão que apresenta, diante dos mesmos potentados, uma brilhantíssima apologia de Nosso Senhor Jesus Cristo como o Cristo profetizado no Antigo Testamento (At 7).

Doutor dos gentios, o apóstolo Paulo faz seguidas defesas do Cristianismo diante dos gentios, realçando duas grandes doutrinas: o monoteísmo e a soteriologia cristológica. Haja vista o seu discurso no Areópago diante dos filósofos estóicos e epicureus (At 17.1-30). Esse pronunciamento pode ser considerado o mais perfeito enunciado do verdadeiro conhecimento de Deus.

4) Missiológico - Apesar de missionário, os Atos dos Apóstolos não são um tratado missiológico. Lucas, porém, ao narrar os primeiros empreendimentos evangelizadores da Igreja Cristã, deixa bem patente que aquela geração de crentes tinha em si, já bastante cristalizada, uma teologia de missões. Evangelizar, para eles, não era apenas uma demanda teológica, mas uma questão de obediência ao Senhor ressurreto e assunto.

Os cristãos primitivos não faziam distinção entre missões nacionais e estrangeiras. Tendo diante de si a Grande Comissão que nos confiou o Cristo, puseram-se a proclamar ousadamente o Evangelho em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria. Ignorando fronteiras, quer étnicas, quer culturais, chegaram aos extremos do mundo até então geografado.

Para os cristãos de Atos dos Apóstolos, a missiologia não se acomodava no âmbito da teoria, mas dinamizava-se numa prática que levava a Igreja a forçar as portas do inferno através da proclamação do Evangelho de Cristo.

No próximo artigo, falaremos um pouco sobre a vida e obra do autor de Atos: o médico amado, historiador e missionário Lucas.
  

Lucas, o médico amado e grande historiador da Igreja Primitiva

Não temos muitas informações acerca do autor de Atos dos Apóstolos. Sabemos apenas tratar-se de um homem singularmente culto e possuidor de um estilo literário de impressionante grandeza. Lendo-lhe o prólogo do terceiro evangelho, apreendemos de imediato a imparidade de seu engenho e a peregrinação de sua arte (Lc 1.1-4).

Pelo que depreendemos de suas obras, veio ele a converter-se depois da ascensão do Senhor Jesus. Mas, a partir da segunda viagem missionária de Paulo, ei-lo a participar ativamente da evangelização das gentes, pois destas era filho.

1) Um autor gentio a serviço do Rei dos judeus - Um artista da palavra que realçou a precisão. Basta ler a Epístola de Paulo aos Colossenses para se concluir ter sido Lucas um gentio de ascendência cultural grega (Cl 4.1-14). É possível fosse ele também cidadão romano.

Por conseguinte, Lucas é o único autor não hebreu das Sagradas Escrituras. Através de sua pena, sempre bela e terça, o Evangelho universaliza-se naquelas comunidades gregas, romanas e bárbaras que iam, pouco a pouco, sucumbindo à mensagem poderosa da cruz enunciada pelo apóstolo Paulo de Antioquia até Roma.

2) Um historiador que teologizou o avanço da Igreja -
 Quem não se encanta com os relatos de Heródoto? Filho do quinto século antes de Cristo, é ele alcunhado de o Pai da História. Pois fugindo ao mito e evitando os redimensionamentos de Homero e Hesíodo, buscou mostrar os gregos como estes realmente eram: seres humanos sujeitos às fraquezas, mas capazes de inacreditáveis façanhas. Apesar de todo o seu esforço, Heródoto não conseguiu evitar as hipérboles. Lucas, porém, lograria o que não alcançara o seu ilustre compatriota. Nos Atos dos Apóstolos, mostra o sobrenatural da operação do Espírito Santo na vida de homens naturalmente frágeis e limitados.

Fez Lucas, em seu evangelho, um relato fidedigno e metódico de “todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar até ao dia em que, depois de haver dado mandamentos por intermédio do Espírito Santo aos apóstolos que escolhera, foi elevado às alturas” (At 1.1-2). Já em Atos dos Apóstolos, pôs-se ele a narrar a expansão da Igreja de Cristo. Neste livro, a propósito, Lucas  participa não somente como autor, mas também como o personagem que, de forma modesta, oculta-se nas famosas seções do pronome da 1ª pessoa do plural (At 20.6, 8, 13,15; 21.16; 27.8 etc).

3) Um artista da palavra - 
Há historiadores que se contentam em reconstituir o passado, registrar o presente e futurar o porvir. Todavia, não se preocupam com o estilo. Poucos são os que, à semelhança de Alexandre Herculano, Oliveira Martins e Winston Churchill, fazem da historiografia uma obra de arte. Lucas pertencia a este seleto grupo. Tanto em seu evangelho como em Atos, vai ele não somente trabalhando, como também lapidando o texto. E de tal forma o lapida, que temos a impressão de estar diante de uma pedra de peregrino valor.

Em sua pena, o koinê ganha os mesmos contornos que a linguagem clássica cunhou na poesia de Homero, no teatro de Sófocles, na oratória de Demóstenes e nos diálogos de Platão. Lucas é um escritor por excelência. Mas não permitia que a beleza do texto empanasse a verdade dos fatos que, desde a ascensão de Nosso Senhor, se iam sucedendo na Igreja e através da Igreja, até a prisão de Paulo.

4) Um médico que compreendeu a verdadeira dimensão da fé -
 Lucas é o maior exemplo de que a verdadeira ciência pode conviver harmonicamente com a religião do Único e Verdadeiro Deus. Médico formado com todos os rigores acadêmicos da época, ele sabia como viver em harmonia com a natureza que nos deixou o Criador e não tinha dificuldade alguma em conviver com o sobrenatural e com os milagres que o Senhor opera no âmbito de sua obra. Se por um lado, deleitava-se em curar os enfermos que encontrava durante as incursões missionárias de que tomou parte; por outro, não lhe causava nenhuma estranheza quando Paulo impunha as mãos sobre os doentes e os curava das mais estranhas e malignas moléstias.

Nesse tempo, a medicina era bastante desenvolvida entre os gregos e os romanos. A escritora canadense Taylor Caldwell ao romancear a vida de Lucas, revela que os médicos formados nas academias gregas achavam-se habilitados, inclusive, a fazer operações plásticas. Aliás, no tempo dos macabeus, não eram poucos os israelitas que, na ânsia de se helenizarem, recorriam a procedimentos que lhes disfarçavam o sinal da circuncisão.

O ambiente que Lucas frequentou, antes de converter-se a Cristo, era academicamente sofisticado. A ciência ali era levada a sério. Sem eles, não teriam nossos cientistas alcançando tanto êxito. Entre os gigantes daquela época, achava-se o evangelista Lucas.

Lucas não era apenas médico. Conheciam-no todos como o médico amado (Cl 4.14). Seguindo certamente as recomendações de Hipócrates, o pai da medicina, tudo fazia para que os seus pacientes vissem-no também como um amigo. Num consultório do Rio de Janeiro, tive a impressão de que o Dr. Lucas lá estivesse. Pois um quadro trazia uma confissão simples, mas profundamente filosófica e ética: “Fui procurar um médico; achei um amigo. Eis aí o princípio de minha cura”. Como necessitamos de médicos que, à semelhança de Lucas, se dediquem aos doentes sem fazer das doenças uma fonte de renda.

Quando de meu transplante hepático, encontrei vários médicos e enfermeiros que procuravam, em suas limitações, imitar o médico amado. No Hospital Geral de Bonsucesso, no Rio de Janeiro, havia muitos discípulos de Lucas. E lá também estava o Médico que não somente nos emprestava a sua amizade, mas que nos garante a vida: Jesus Cristo, a quem Lucas anunciava quando exercia amorosamente a medicina.

Deveria Lucas, por conseguinte, ser o patrono não somente dos médicos, mas de todos os que se aplicam à ciência. Na prática, ele demonstrou que o cientista realmente sábio não encontra fronteiras entre a ciência e a religião; sua fronteira é o amor que consagra àquele que é a fonte de todo conhecimento e sabedoria.

5) Um missionário que não se limitou a escrever a história - 
Lucas é conhecido como médico e evangelista. No entanto, era ele também um missionário. Integrante da equipe de Paulo, andejou as vias romanas, singrou mares, enfrentou naufrágios. E em Roma prestou a necessária assistência ao apóstolo, a fim de que este não se visse de todo desamparado. Num momento de consolo, o doutor dos gentios mostra o quanto Lucas lhe é leal: “Somente Lucas está comigo” (2 Tm 4.11).

Não seria exagero se Lucas recebesse de igual modo o título de apóstolo, pois como apóstolo acompanhou Paulo em três de suas quatro viagens missionárias. Como apóstolo, escondeu-se ele na majestade da segunda pessoa do plural, a fim de singularizar o Senhor Jesus Cristo.
 

Onde e quando foi escrito Atos dos Apóstolos

As evidências internas de Atos dos Apóstolos levam-nos a concluir tenha Lucas escrito o livro por volta do ano 61. Paulo ainda vivia quando o autor encerrou a obra e, logo em seguida, remeteu-a ao excelentíssimo Teófilo. Somos obrigados a supor que ele encontrava-se em Roma assistindo o apóstolo em sua prisão domiciliar.

Mas, antes de entrarmos a fazer tais considerações, vejamos o tema do livro de Atos.

1) Tema - Podemos resumir assim o tema central dos Atos dos Apóstolos: A expansão triunfal do Evangelho de Cristo através da Igreja no poder do Espírito Santo.

Por intermédio das atuações evangelizadoras dos apóstolos, aprendemos como a fazer missões nacionais e transculturais. Em sua narrativa missio-teológica, Lucas conscientiza-nos a  prosseguir a evangelizar povos e nações até aos confins da terra sem impedimento algum.

2) De Roma para o mundo - Capital do Império, avultava-se Roma como a mais luxuriante das cidades. Nessa época, quem imperava era o perverso, sanguinário e bestificado Nero. Um deus sem divindade era esse imperador. Embora tratado de senhor por todos os seus súditos, de seus vícios fazia-se escravo.

Deuses e homens confundiam-se pelas ruas, praças e demais logradouros de Roma. Aqui estavam os mais ilustres poetas, os mais requisitados oradores, os mais destacados militares e os cientistas que, herdeiros dos gregos, versavam sobre as últimas descobertas. Em uníssono, todos não se ocupavam a não ser de ouvir as novidades que chegavam das províncias com aqueles barcos e navios que aportavam nas sempre belas costas italianas.
Entre tanta gente ilustre e assinalada, achava-se o Dr. Lucas. Nalgum lugar bem periférico de Roma, quem sabe, redigia os atos daqueles apóstolos que, de Jerusalém e de Antioquia, navegaram por ondas tão bravias e irreconciliáveis, espalhando em cada litoral do Mediterrâneo, a boa semente do Evangelho de Cristo.

3) Data da composição do livro - Se os Atos dos Apóstolos tivessem sido escritos após a execução de Paulo pelas autoridades romanas, certamente Lucas, excelente historiador que era, teria feito menção ao fato. Aceita-se geralmente que Paulo foi executado no ano 64. Logo, Atos foi composto entre 61 e 63. O ano 61 está mais de acordo com os acontecimentos que se deram logo após a prisão do apóstolo em Roma. Teria ele realizado o seu intento de visitar a Espanha? (Rm 15.14,28).

Por conseguinte, os Atos dos Apóstolos também foram escritos antes da queda de Jerusalém que se deu no ano 70.
 

Sobre o primeiro leitor de Atos

Lucas endereçou tanto o seu evangelho como os Atos dos Apóstolos a um nobre romano, de ascendência grega, conhecido simplesmente como Teófilo. Em grego, este nome significa aquele que ama a Deus. Acerca desse personagem, temos várias hipóteses.

1. Um novo convertido. Do prólogo do Evangelho de Lucas, logo depreendemos: Teófilo, de fato, era um homem nobre e de elevada posição social. Haja vista que Lucas usa um vocativo mui próprio às autoridades: “excelentíssimo Teófilo” (Lc 1.3).

Já em Atos, Teófilo é tratado não como autoridade, mas como alguém bem próximo de Lucas: “ó, Teófilo” (At 1.1). O que se conclui de ambas as passagens? Teófilo veio a converter-se com a leitura do Evangelho de Lucas e, agora, já parte do corpo místico de Cristo, lê os Atos dos Apóstolos, a fim de se inteirar de tudo o que o Espírito Santo estava fazendo na Igreja e através da Igreja.

Que exemplo deixa-nos Lucas. Para ganhar uma única alma, escreve todo um evangelho, narrando tudo o que Jesus fez e expondo de forma sistemática tudo o que o Mestre ensinou. Nesse empreendimento, não poupou estilo nem arte. Por que não agimos com esse mesmo amor? Quantas pessoas não poderíamos nós ganhar para Cristo com uma única carta? Ou com um singelo bilhetinho? Ou ainda com um e-mail que não nos furtaria nem dois minutos? Sim, dois minutos que irão proporcionar a um amigo, irmão ou vizinho, toda uma eternidade ao lado de Cristo.

2. O financiador da obra. Nos tempos bíblicos não eram poucos os mecenas. Aqueles homens ricos e mui abastados que, amantes das artes, resolviam subsidiar um escritor, um pintor ou um escultor. Por isso supõem alguns estudiosos ter sido Teófilo um desses financiadores. Sabendo dos pendores literários de Lucas e de seu projeto em reconstituir a vida, ministério e paixão de Nosso Senhor, achou por bem subsidiá-lo. Mais adiante, Lucas brinda-o com o relato da expansão da Igreja de Cristo no poder do Espírito Santo.

Esta hipótese, porém, não resiste a uma análise mais aprofunda e sistemática.

3. A comunidade cristã primitiva. Alguns acham que Teófilo não passa de um emblema da comunidade cristã primitiva. Logo que o seu nome significa, em grego, aquele que ama a Deus, dizem que tanto o terceiro evangelho, como os Atos dos Apóstolos, foram destinados a todos os que receberam a Cristo Jesus como seu bastante salvador e, agora, dedicam-lhe um amor que se acha acima de todos os amores.

Apesar da piedade desta teoria, ela também não resiste a uma pesquisa mais consistente. Na verdade, era Teófilo alguém das relações pessoais de Lucas. Alguém que veio a converter-se com a leitura das obras desse escritor tão genial que foi o médico amado.
 

A narrativa teológica e apologética do livro de Atos

Sempre exato e preciso em suas informações, Lucas divide sua narrativa em episódios rigorosamente encadeados, objetivando mostrar o avanço sistemático e logístico da Igreja de Cristo, embora pareça que esta, logo no início, haja se expandido de maneira espontânea.

Como bom teólogo que era, Lucas vai apresentando provas e evidências que dão foro às doutrinas cristãs. Nisto, destaca-se ele também como um dos maiores apologistas das Sagradas Escrituras.

Sua pneumatologia, por exemplo, apesar de não sistematizada, é mais do que desenvolvida. Apresenta o Espírito Santo não como uma força impessoal, mas como a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. No que tange ao batismo com o Espírito Santo, Lucas prova, em três distintas ocasiões, que o fenômeno observado em Atos capítulo dois é de fato acompanhado pela evidência física do falar noutras línguas (At 2.4; 10.44-47; At 19.6). O mesmo se dá com as demais doutrinas. E a sua cristologia? Quer diante da comunidade judaica, quer diante da grega, ele mostra, através da ação dos santos apóstolos, que Jesus era e é verdadeiro homem e verdadeiro Deus.

Assim podemos dividir os Atos dos Apóstolos: eventos pré-pentecostais, eventos pentecostais, a expansão da Igreja em Jerusalém, na Judéia e Samaria e entre os gentios.

Eventos pré-pentecostais

Dois foram os principais eventos que precederam a efusão do Espírito Santo no Pentecostes: a ascensão de Nosso Senhor e a eleição de Matias para ocupar o lugar menosprezado por Judas Iscariotes. Não podemos olvidar da Comissão Missionária que Jesus Cristo confiou aos seus discípulos.

1. A comissão missionária. Antes de ascender aos céus o Senhor Jesus deixa aos seus discípulos duas recomendações. Em primeiro lugar, não deveriam eles se preocupar com o eventual advento do império de Israel que, na época de Salomão, alcançou a sua maior expressão política, econômica e social. Deveriam eles, agora, ater-se à expansão do Reino de Deus. Após a efusão do Espírito, começariam eles por Jerusalém, percorreriam toda a Judéia e Samaria até que viessem a alcançar os confins da terra.

A recomendação do Senhor Jesus era mais do que clara; era explícita: “Respondeu-lhes: Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade; mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1.7,8).

Essa ordem do Cristo justifica toda a narrativa do livro. Os Atos dos Apóstolos existem porque o Senhor Jesus determinou aos discípulos permanecerem em Jerusalém até que, do alto, fossem revestidos do poder de Deus. Batizados já com o Espírito Santo, não permaneceriam inertes, contemplativos. Mas, começando de Jerusalém, alcançariam os longes desta terra que nos deu o Senhor. Os Atos dos Apóstolos, por conseguinte, existem porque os discípulos obedeceram ao mandato do Cristo. É o que justifica a existência do livro.

2. Ascensão de Cristo. A subida do Cristo ressurreto e glorioso ao céu, não foi um engenho mitológico criado por Lucas, mas um fato histórico testemunhado por centenas de pessoas (At 1.15; 1 Co 15.6).

A ascensão do Senhor tem de ser vista também de duas perspectivas doutrinárias: paracletológica (At 1.4,5) e escatológica (At 10.11). Ou seja: a efusão do Espírito Santo, que se deu no Dia de Pentecostes (At 2) e a parousia que se dará a qualquer momento, conforme garantem as mesmas Escrituras.

3. A eleição de Matias. A eleição de Matias para ocupar o posto desprezado por Judas Iscariotes é o segundo evento pré-pentecostal mais importante registrado por Lucas (At 1.12-26).


A escolha do substituto de Judas tem de ser encarada como um capítulo importantíssimo da História da Igreja Cristã. Além do mais, foi o próprio Espírito Santo quem constrangeu a Pedro a presidir a reunião que culminou com a escolha de Matias. A Igreja não poderia ser inaugurada com o colégio apostólico incompleto.


                             A ascensão de Cristo e a promessa de sua vinda 

Jesus Cristo de Nazaré é apresentado nos Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas (Sinóticos) e João como muito mais que um rabino judeu, um grande professor ou um ousado profeta do século I. Os quatro evangelistas afirmaram que Jesus Cristo é o tão esperado Messias de Israel, o seu Libertador e o Deus encarnado! Dessas afirmações, denota-se a seguinte sentença: “Toda a humanidade será julgada um dia, com base nas suas respostas a este Jesus” (Jo 1.1-14 cf. 8.12-19). Qual Jesus lhe foi apresentado? O que está morto ou o ressurreto? A resposta, positiva ou negativa, a essas questões é fundamental para determinar em que a sua fé está baseada. Nossa oração é que ela esteja no “Cristo, o Filho do Deus vivo”(Mt 16.16).  
O Cristianismo só é possível quando se recebe, como verdade absoluta e irrecorrível, todos os fatos da História da Salvação. Os que buscam subtrair o sobrenatural da Bíblia Sagrada, considerando-o um mero recurso literário, atentam-lhe contra a origem divina. Por conseguinte, se não aceitarmos a História Sagrada na íntegra, seremos forçados, por uma questão de lógica e congruência, a rejeitá-la por inteiro.
No campo da teologia bíblica, não se pode dissociar o dogma da verdade histórica: aquele sem esta não passa de um mito. Por conseguinte, só é possível acreditar no Jesus Histórico se recebermos como verdade inquestionável tanto a sua concepção virginal como a sua ressurreição e ascensão física aos céus, onde está à destra de Deus. Na teologia autenticamente bíblica, não se pode separar o Cristo Histórico do Cristo anunciado na mensagem dos apóstolos.

A HISTORICIDADE DA ASCENSÃO DE CRISTO

A ascensão de Cristo, por conseguinte, não pode ficar circunscrita ao dogma teológico; é teologia e dogma, mas é também um fato histórico incontestável. Lucas deixa bem claro que a sua narrativa é baseada em provas incontestáveis (At 1.3).
Data da ascensão. De maneira geral, aceita-se que o Senhor Jesus foi assunto aos céus no ano 34 de nossa era. As pequenas divergências cronológicas não desmerecem nem desacreditam o fato histórico (Mc 16.6; At 2.32; 1 Ts 4.14).
 Lugar da ascensão. Jesus encontrava-se no Monte das Oliveiras com os seus discípulos quando ascendeu aos céus. Situado a leste de Jerusalém, a 818 metros em relação ao nível do mar, acha-se este monte intimamente ligado à vida e ao ministério Cristo.
 As testemunhas da ascensão. Depreende-se que aproximadamente 120 pessoas hajam presenciado a ascensão de nosso Senhor (At 1.15). Quanto à sua ressurreição, afirma Paulo, foi testemunhada por mais de quinhentos irmãos, a maioria dos quais ainda vivia quando Paulo escreveu a sua Primeira Epístola aos Coríntios (1 Co 15.6,7). Quem poderia, num tribunal, contestar o depoimento de tantas testemunhas? Aliás, segundo a Bíblia, a declaração de duas ou três testemunhas oculares já era mais do que suficiente para encerrar qualquer polêmica (Dt 17.6; 19.15; Mt 18.16; 1 Tm 5.19).

 A TEOLOGICIDADE DA ASCENSÃO DE CRISTO

No âmbito da Teologia Cristã, primeiro temos o fato, depois, o dogma. Doutra forma, repetimos, não teríamos uma doutrina, mas uma inconsistência histórico-teológica. Eis que podemos confiar no ensino da ascensão de nosso Senhor. Vejamos, em primeiro lugar, o que é a ascensão de Cristo.
 Ascensão de Cristo. Subida corpórea e física do Cristo ressurreto e glorioso aos céus, para junto do Pai, após haver cumprido o seu ministério terreno. Sua ascensão foi, de fato, corpórea, porque a sua ressurreição foi física e não aparente. É claro que o seu corpo, à semelhança do que ocorrera no Monte da Transfiguração, foi elevado aos céus já revestido de glória, poder e celestialidade. Quando do arrebatamento, teremos um corpo semelhante (1 Co 15.50-58; 1 Jo 3.2).
Teologicamente, a ascensão de Cristo acha-se ligada a duas importantes doutrinas: a paracletologia e a escatologia.
 A perspectiva paracletológica. Antes de ascender aos céus, prometeu o Senhor Jesus aos discípulos, ainda preocupados com a restauração do Reino de Israel, que seriam eles revestidos pelo Espírito Santo (At 1.8). Aos que buscavam a libertação política de um país, o Rei dos reis entrega, como herança, todas as nações da terra. Não mais um império na terra, mas o Reino de Deus no mundo. E isso no poder do Espírito Santo.
 A perspectiva escatológica. A narrativa da ascensão de Cristo traz, em si, o cerne da escatologia cristã. A sua subida aos céus é uma consequência teológica tanto de sua morte quanto de sua ressurreição. E acreditar nesta implica, para o cristão, esperançar-se no retorno do Senhor que, estrugida a última trombeta, ressuscitará os que nEle morreram e os que nEle vivem (1 Ts 4.14-17).
A sua ascensão foi sucedida por uma declaração escatológica. Aos discípulos que, maravilhados, observavam a elevação do Filho de Deus, prometem os dois seres angelicais: “Varões galileus, por que estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir” (At 1.11).

 A ASCENSÃO DE CRISTO EM NOSSA DEVOÇÃO

Além de sua beleza e sublimidade teológica, a ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo enleva-nos a devoção, estreitando-nos a comunhão com o Senhor. Vejamos, pois, alguns fatores devocionais que nos proporcionam o Cristo que ascendeu aos céus.
 A posição do Cristo que ascendeu. Ascendido às alturas sob os olhares interrogativos e desolados de seus discípulos e apóstolos, o Senhor Jesus assentou-se à destra do Pai. Ao registrar-lhe a ascensão, o evangelista Marcos garante tratar-se não de um engenho fantasioso, mas de um evento histórico: “Ora, o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu e assentou-se à direita de Deus” (Mc 16.19). Vários autores sagrados fazem menção ao acontecimento (At 2.33; 7.56; Hb 10.12; 12.2; 1 Pe 3.22).
Cristo está à destra de Deus. Alegremo-nos. Junto ao Todo-Poderoso encontra-se um que nos compreende. À nossa semelhança, Ele sabe o que é padecer (Is 53.3). Eis porque está sempre a interceder por nós como o Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque (Sl 110.4). Não se desespere, Cristo o compreende.
A eficácia salvífica do Cristo que ascendeu aos céus. À destra de Deus, o Senhor Jesus atua como o mediador da nova aliança firmada em seu sangue, através da qual obtivemos eterna salvação (Hb 5.9). Sim, somente em seu nome é que o ser humano logra a redenção de sua alma, como reafirmou o apóstolo Pedro: “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4.12).
À destra de Deus, o Senhor Jesus salva e justifica o pecador, proporcionando-lhe a bem-aventurança de ser adotado pelo Pai como filho (Rm 5.1; Ef 1.5).
Cristo assunto, nosso Advogado. Consola-nos saber que, à destra de Deus, temos um advogado sempre pronto a defender-nos as causas junto ao Juiz de toda a terra. Eis como o discípulo do amor descreve essa função do Senhor: “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo. E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1 Jo 2.1,2).
Se você pecou, não se desespere. Arrependa-se e confie no Advogado que temos, junto, ao Pai.A ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo é um fato comprovadamente histórico. Como é bom saber que, junto ao trono do Todo-Poderoso, temos um intercessor e advogado sempre pronto a interceder por nós. Amém! E um dia, mais rápido do que supomos, virá o Senhor arrebatar-nos, para que estejamos sempre com Ele nos céus ao lado do Pai. Amém! 
 “A Teologia da Ressurreição de Cristo.Soteriologia da ressurreição. Para que o pecado do homem seja expiado, deve haver uma vida perfeita de justiça, vivida em completa obediência à santa lei de Deus, para ser oferecida ‘sem mácula’. Cristo realizou esta importante obra através de sua vida (Rm 5.19; 10.4; Hb 4.15; 5.8,9). [...] Deus mostrou sua absoluta satisfação com a obediência ativa e passiva de Cristo, ressuscitando o seu Filho dos mortos, e assim atestando que sua obra que visava alcançar a nossa justificação foi aprovada e aceita (Rm 4.25).
Escatologia da ressurreição. A ressurreição revela a vitória completa e final sobre a morte e o pecado, e sobre os seus efeitos no homem e na criação. Pelo fato de Cristo ter ressuscitado, os crentes também ressuscitarão em corpos transformados (1 Co 15). Por meio deste mesmo fato, a natureza também será libertada da maldição. Esta é a explicação da ressurreição do crente ou a manifestação dos filhos de Deus através da ‘redenção do nosso corpo’, e a remoção da ‘servidão da corrupção’ na segunda vinda de Cristo serem mencionados como ocorrendo simultaneamente em Romanos 8.18-23”.(Dicionário Bíblico Wycliffe. RJ: CPAD, 2009, p.1669) 
 “A Ressurreição.Além de 1 Coríntios 15, há mais de uma dúzia de outras referências à ressurreição de Cristo nas incontestáveis epístolas paulinas, escritas antes dos anos 50 (Rm 4.24,25; 6.4,9; 8.11,34; 10.9; 1 Co 6.14; 2 Co 4.14; 5.15; Gl 1.1; 1 Ts 1.10; etc). Em segundo lugar, não há alternativa que explique adequadamente por que os primeiros cristãos judeus (isto é, não apenas gentios) alteraram o seu dia de adoração de sábado para domingo, especialmente quando a sua lei fazia da adoração no sábado (Sabbath) um dos Dez Mandamentos invioláveis (Êx 20.8-11). Alguma coisa objetiva, assombrosamente significativa e com data de alguma manhã de domingo em particular deve ter gerado a mudança. Em terceiro lugar, em uma cultura em que o testemunho das mulheres era frequentemente inadmissível em um tribunal, quem inventaria um ‘mito’ relacionado à fundação, em que todas as primeiras testemunhas de um evento difícil de crer eram mulheres? Em quarto lugar, os relatos contidos do Novo Testamento diferem dramaticamente das bizarras descrições apócrifas da ressurreição, inventadas no século II e depois. Em quinto lugar, nos primeiros séculos do cristianismo, nenhum sepulcro jamais foi venerado, separando a resposta cristã à morte do seu fundador de praticamente todas as outras religiões da história da humanidade. Finalmente, o que teria levado os primeiros cristãos judeus a rejeitar a interpretação que lhes foi dada como herança de Deuteronômio 21.23, de que o Messias crucificado, pela própria natureza da sua morte, demonstrou que Ele estava se colocando em uma posição de maldição diante de Deus? Novamente, é mais fácil crer em um evento aceito como sobrenatural do que tentar explicar todos estes fatos estranhos através de alguma outra lógica”.(BLOMBERG, C. L. Questões Cruciais do Novo Testamento. 1.ed. RJ: CPAD, 2010, pp.66-67) 


                            O derramamento do Espírito Santo no Pentecostes 

A plenitude do Espírito Santo é chamada de “a promessa do Pai”. Há muitas promessas no texto bíblico, mas esta promessa específica tem a ver diretamente com o derramamento do Santo Espírito. Profetas como Ezequiel (39.29), Joel (2.28), Isaías (32.15; 44.3) e João Batista (Mt 3.11; Lc 3.16), proclamaram, durante seus ministérios, um futuro derramamento do Espírito Santo sobre a casa de Israel, e sobre toda a carne, como o evento que marcaria os últimos dias. Essa promessa foi corroborada pelo Rei dos reis e o maior de todos os profetas: Jesus Cristo (At 1.4-8). 
Atualmente diversos estudiosos, com pressupostos cessacionistas, negam o batismo com o Espírito Santo com a evidência inicial de falar em outras línguas, bem como a atualidade dos dons espirituais. Porém, as supostas provas apresentadas por eles não se sustentam ante a hermenêutica bíblica. No Centenário das Assembléias de Deus no Brasil, urge reafirmarmos este artigo de fé que nos tem caracterizado desde Daniel Berg e Gunnar Vingren: “Cremos na atualidade do batismo com o Espírito Santo e dos dons espirituais” Como não admitir uma realidade bíblico-teológica tão evidente? E como desprezar a experiência de milhões de crentes que, desde o Pentecostes, vêm recebendo o batismo com o Espírito Santo com a evidência inicial e física do falar em outras línguas?

 O BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO

O teólogo pentecostal inglês, Donald Gee (1891-1966), testemunha-nos acerca de sua experiência pentecostal: “Um louvor crescente afluia agora em minha alma, até que comecei a falar em outras línguas publicamente. Cantava muito em línguas. Toda a minha experiência cristã foi revolucionada”. Mas o que é o batismo com o Espírito Santo?
 O batismo com o Espírito Santo. Prometido pelo Senhor Jesus Cristo, o batismo com o Espírito Santo é o revestimento de poder que nos introduz numa nova dimensão espiritual, habilitando-nos a proclamar o evangelho com mais eficácia, a devotar a Deus um amor mais ardente e sacrifical e a ter uma vida mais santa e irrepreensível (Lc 24.49; At 1.8).
 A evidência inicial e física do batismo com o Espírito Santo. O batismo com o Espírito Santo é evidenciado pelo falar noutras línguas. Lucas realça o fato em pelo menos três ocasiões distintas (At 2.1-3; 10.45-48; 19.1-7).

FUNDAMENTOS DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO

Ao contrário do que supõem os inimigos da Obra Pentecostal, o batismo com o Espírito Santo não é uma prática destituída de doutrina; acha-se assentada num forte e inamovível fundamento bíblico-teológico. Os escritores do Antigo e do Novo Testamento referem-se ao derramamento do Santo Espírito nestes últimos dias que começaram no Pentecostes.
 Moisés. Pressionado pelos encargos de sua missão, Moisés queixa-se a Deus para que o alivie daquele insuportável fardo (Nm 11.24,25). Responde-lhe o Senhor, então, que haverá de repartir-lhe o Espírito entre setenta varões idôneos e incorruptíveis.
E os setenta puseram-se a profetizar, inclusive Eldade e Medade, que se encontravam fora do arraial. Josué, porém, já enciumado pelo profeta, fez-lhe uma recomendação carente de oportunidade acerca de ambos: “Senhor meu, Moisés, proíbe-lho” (Nm 11.28). Voltando-se para seu valoroso servo, o servo de Jeová repreendeu-o: “Tens tu ciúmes por mim? Tomara que todo o povo do SENHOR fosse profeta, que o SENHOR lhes desse o seu Espírito!” (Nm 11.29).
Nesta passagem de Números, os israelitas já podiam ter um vislumbre, embora pálido, do que seria o Pentecostes.
Isaías. Conhecido como o evangelista do Antigo Testamento, Isaías vaticina a efusão do Espírito Santo: “Porque derramarei água sobre o sedento e rios, sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade e a minha bênção, sobre os teus descendentes” (Is 44.3).
 Joel. Ele recebe o justo epíteto de profeta pentecostal, descerra a História da Salvação e mostra a descida do Espírito Santo como a inauguração do período conhecido como os derradeiros dias: “E há de ser que, depois, derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões. Há de ser que todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo” (Jl 2.28,32a).
João Batista. O predecessor de Nosso Senhor Jesus Cristo prediz o batismo com o Espírito Santo: “E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; não sou digno de levar as suas sandálias; ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3.11).
 Jesus. O Filho de Deus promete a efusão do Espírito: “E, estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que (disse ele), de mim ouvistes. Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias” (At 1.4,5).

 O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO NA HISTÓRIA DA IGREJA

O batismo com o Espírito Santo não é um modismo teológico nem uma criação eclesial do Século 20. É uma promessa feita pelo Pai, ratificada pelo Filho e operada pelo Consolador. A história da Igreja Cristã mostra que, do Pentecostes em Jerusalém, aos dias de hoje, houve continuidade na dispensação dessa tão inefável promessa.
Eis o testemunho de Agostinho (354-430): “Nós faremos o que os apóstolos fizeram quando impuseram as mãos sobre os samaritanos, pedindo que o Espírito Santo caísse sobre eles: esperamos que os convertidos falem novas línguas”.
Poderíamos citar outros testemunhos. Mas falta-nos espaço. O que diremos de Lutero? Wesley? Finney? 


OS OBJETIVOS DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO

William W. Menzies, um dos mais notáveis teólogos das Assembléias de Deus dos Estados Unidos, leciona acerca da experiência pentecostal: “O batismo com o Espírito Santo permite-nos experimentar uma plenitude espiritual (Jo 7.37-39; At 4.8), uma reverência mais profunda por Deus (At 2.43; Hb 12.28) e uma intensa consagração por Cristo, por sua Palavra e pelos perdidos” (Mc 16.20).
 Poder e unção a fim de proclamar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. O evangelista, missionário e teólogo metodista Stanley Jones é incisivo (1884-1973): “A vida do cristão começa no Calvário, mas o trabalho eficiente, no Pentecostes”.
Os apóstolos do Cordeiro, antes do Pentecostes, andavam de timidez em timidez. Já revestidos de poder, correram a alcançar Jerusalém, a Judeia e os confins da terra com o evangelho. E o que diremos de Daniel Berg e Gunnar Vingren que, intrépida e corajosamente, percorreram o Brasil empunhando a flama pentecostal? (At 1.8).
Reverência diante das coisas de Deus. A efusão do Espírito Santo levou os discípulos, agora como Igreja, a devotar uma reverência ainda maior ao Senhor Jesus Cristo: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. Em cada alma havia temor, e muitos prodígios e sinais se faziam pelos apóstolos” (At 2.42,43).
O autêntico avivamento pentecostal plenifica nossa reverência a Deus.
 A experimentação da plenitude espiritual. Não podemos conformar-nos com a nossa vida espiritual. Deus tem muito mais a dar-nos, conforme promete o Senhor Jesus: “Se alguém tem sede, que venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre. E isso disse Ele do Espírito, que haviam de receber os que nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado” (Jo 7.37-39).
 “Falar em Línguas (Glossolalia)
Glossolalia’ é um termo técnico freqüentemente utilizado para o falar em línguas; é uma forma combinada das palavras gregaslalia (‘discurso’, ‘fala’) e glossa (‘língua’, ‘linguagem’). O fenômeno de falar em línguas, ao contrário do vento e do fogo, é integral para os discípulos que são cheios do Espírito. ‘E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia a verbalização inspirada’ (At 2.4 — [tradução do autor]).
O registro diz que os discípulos ‘começaram [archomai] a falar noutras línguas’ (At 2.4). Não existe indicação de que os discípulos tenham iniciado, ou de que eles mesmos ‘começaram’ o falar em línguas. [...] O significado de ‘eles começaram a falar em línguas’ é simplesmente ‘eles falaram em línguas’. [...] Os discípulos em Pentecostes falaram em línguas ‘conforme o Espírito ia dando-lhes verbalização inspirada’ [tradução do autor], não sob o próprio ímpeto deles. A expressão ‘conforme’ (kathos) pode ser traduzida como ‘na medida em que’ (Ver Mc 16.17; At 2.4; 10.46; 19.6; 1 Co 12.10,28,30; 13.8; 14.2,4-6,13,14,18,19,22,23,26)”.(PALMA, A. D. O Batismo no Espírito Santo e Com Fogo. Os Fundamentos Bíblicos e a Atualidade da Doutrina Pentecostal.1.ed. RJ: CPAD, 2002, pp.61-63) 
O Testemunho Pessoal de Donald Gee.“[...] numa noite de quarta-feira, em março de 1913, toquei órgão no culto de meio de semana na igreja Congregacional (que terminava às 21h pontualmente), e depois corri para desfrutar do restante da reunião de Highbury New Park. Depois do término da reunião (aproximadamente às 22h30min), o irmão que vinha dirigindo o culto, um respeitável pastor irlandês, colocou-me à prova numa espécie de catecismo.
— Tem certeza da salvação?
— Sim.
— Já é batizado? — Sim.
— Já é batizado com o Espírito Santo?
— Não.
— E por que não?
Expliquei-lhe minha aversão a ‘esperas’ que pareciam uma eternidade. Ele incentivou-me dizendo que isso não era necessário. E, abrindo sua Bíblia, leu para mim Lucas 11.13, e depois Marcos 11.24. Então perguntou-me se eu acreditava nesses versículos. Garanti-lhe que sim e, no momento em que demonstrei-lhe minha fé, era como se Deus jorrasse do Céu para o interior do meu coração, uma certeza absoluta de que essas promessas estavam sendo realmente cumpridas em mim. [...]
Desde aquele instante, minha alegria e satisfação foram intensas, [...]. Experimentei uma nova plenitude acima das palavras, e descobri que tornava-me cada vez mais difícil adequar à minha voz todo o louvor existente em minha alma. Essa situação continuou durante duas semanas aproximadamente [...].
Um louvor crescente afluía agora em minha alma, também nas reuniões, até que comecei a falar em outras línguas publicamente. Cantava muito em línguas também quando a pequena congregação era levada pelo Espírito Santo a esse fim durante nossos momentos de oração e adoração. Toda minha experiência cristã foi revolucionada. Eu não procurava mais aqui e ali por uma satisfação espiritual — eu a havia encontrado. Todo meu prazer estava na oração, no estudo da Bíblia e nos irmãos em Cristo. Isso aconteceu apenas seis semanas antes do meu casamento, e um velho pastor batista, que veio para tentar questionar-me sobre minha recente bênção, teve de admitir que nunca havia conhecido um rapaz tão próximo de um acontecimento feliz, e ainda assim tão interessado nas coisas espirituais. Minha esposa, felizmente, sentia tudo da mesma forma que eu; e nós nos alegrávamos juntos”.(GEE, D. Como receber o Batismo no Espírito Santo. Vivendo e testemunhando com poder. 1.ed. CPAD, 2001, pp.13-15) 

                                       Comunhão na Igreja

Um dos sinais da atuação do Espírito Santo na Igreja Primitiva era a comunhão entre os seus membros. Mais que oferecer parte ou o todo dos bens que possuíam, os cristãos mantinham-se unidos por um vínculo comum: eles pertenciam ao corpo místico de Cristo — a Igreja de Deus. A comunhão faz da Igreja um organismo espiritual perfeito de homens e mulheres que, apesar de suas procedências étnicas e diversidades culturais, sentem-se e agem como irmãos. Somente seremos reconhecidos como filhos de Deus se cuidarmos uns dos outros e mutuamente nos socorrermos.
A comunhão levou aqueles crentes a partilharem o que tinham, abrindo as portas para a atuação do Espírito Santo. Assim, ia o Senhor acrescentando o número dos santos tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria até os confins daquelas terras.

 A COMUNHÃO DOS SANTOS

A comunhão observada na Igreja de Cristo não é um mero fenômeno social. É o resultado da ação direta do Espírito Santo na vida daqueles que recebem a Jesus como o seu único e suficiente Salvador (Ef 2.19). É uma comunhão, aliás, que ultrapassa ao ajuntamento da congregação dos filhos de Israel que, nos momentos de crise, reuniam-se como se fossem um só homem (Jz 20.1). Hoje, a Igreja permanece unida, universal e invisível, no Espírito Santo e assim estará para todo o sempre.
 O que é a comunhão. A comunhão é o “vínculo de unidade fraternal mantida pelo Espírito Santo e que leva os cristãos a se sentirem um só corpo em Jesus Cristo” (Dicionário Teológico, CPAD). A palavra grega koinonia traz a ideia de cooperação e relacionamento espiritual entre os santos. A comunhão da Igreja Primitiva era completa (At 2.42). Reuniam-se em oração e súplica, mas também reuniram-se para socorrer os mais necessitados.
A comunhão de sua igreja tem como modelo os cristãos de Jerusalém? Ou não passa de um mero ajuntamento social?
A unidade do corpo de Cristo. Eis um dos mais preciosos capítulos da doutrina da Igreja: sua unidade. O apóstolo Paulo tinha uma perfeita compreensão desse mistério (Ef 4.1-7). Somente pelo Espírito Santo podemos compreender a unidade de judeus, árabes, gregos e bárbaros que, apesar de suas diferenças culturais e étnicas, não apenas sentem-se e agem como irmãos, mas acham-se espiritualmente vinculados num só corpo pela ação direta e distintiva do Espírito Santo.
Cada membro, neste corpo, tem uma função específica, mas todos trabalham pelo bem comum: “Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também” (1 Co 12.12). Quando um de seus membros sofre, todos sofrem com ele. Por isso, preocupamo-nos uns com os outros e mutuamente nos socorremos (Ef 4.1-6). Você tem preservado a unidade do Corpo de Cristo? Ou tem promovido divisões e dissensões entre os santos?
 A comunhão da Igreja agrada a Deus. Deus quer e exige que seu povo permaneça unido (1 Co 1.10). Em sua oração sacerdotal, o Senhor Jesus roga ao Pai pela unidade de seus discípulos (Jo 17.11). Portanto, se mantemos o vínculo da comunhão, agradamos a Deus (Ef 4.3). Sim, esse é o vínculo da perfeição que tem como base o amor, conforme ensina o apóstolo Paulo: “com toda humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor” (Ef 4.2).

A COMUNHÃO CRISTÃ CARACTERIZA-SE PELA UNIDADE

A comunhão cristã constitui-se num grande mistério. É algo que a própria sociologia não pode explicar. Nem o próprio Israel de Deus, no Antigo Testamento, logrou alcançar tamanha perfeição e excelência. Aliás, as diferenças entre as doze tribos tornou-lhes impossível a unidade (1 Rs 12.1-16). Vejamos, pois, em que consistia a comunhão da Igreja Primitiva. Que este seja o nosso modelo até que o Cristo de Deus venha buscar-nos.
 Unidade doutrinária. Não pode haver perfeita união sem unidade doutrinária. Informa-nos Lucas que os cristãos primitivos “perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At 2.42). Não era uma doutrina qualquer; tratava-se do ensinamento emanado do colégio apostólico constituído pelo Senhor Jesus Cristo. Paulo, ao discorrer sobre o mistério do corpo de Cristo, fala de uma só fé (Ef 4.5) que deve ser preservada zelosamente pelos santos (Jd v.3).
Na autêntica comunhão cristã, por conseguinte, não há lugar para heresias nem apostasias. Estejamos, pois, sempre alertas. Nestes últimos dias, muitos aparecerão em nosso meio dissimulando suas inverdades doutrinárias, com o único intuito de destruir a comunhão dos santos (2 Ts 2.3; 2 Pe 2.1).
Unidade na própria comunhão. A unidade doutrinária conduz a uma comunhão perfeita. Isto significa que não pode haver genuína comunhão cristã com dois ou três pensamentos teológicos díspares e contrastantes. As seitas aparecem quando um indivíduo, ou grupo, apresenta uma doutrina contrária aos profetas e apóstolos de Nosso Senhor. Lembra-se da doutrina de Balaão? (Jd v.11; Ap 2.14). E dos ensinos de Jezabel? (Ap 2.20). Muitos são os que mergulham nas profundezas de Satanás e apresentam-se como especialistas no conhecimento de Deus (Ap 2.24).
Se quisermos, portanto, uma comunhão perfeita, lutemos por manter a sã doutrina. A heresia causa divisão. Ou melhor: a heresia em si já é uma divisão. Esta recomendação de Paulo não deve ser esquecida: “Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o” (Tt 3.10).
 Unidade no partir do pão. Os crentes primitivos mantinham uma comunhão tão intensa entre si que se reuniam com alegria e singeleza de coração para celebrar a Santa Ceia. Era o seu “partir do pão” (At 2.42). Eles em Cristo e Cristo em cada um deles. Pode haver comunhão mais plena? Não era simplesmente uma cerimônia; era a festa na qual lembravam a morte e ressurreição de Jesus — a expressão mais sublime do amor divino.
Voltemos a participar, ou melhor, a celebrar a Santa Ceia como a reunião mais importante e solene da Igreja. Todas as vezes que nos congregamos com essa finalidade, lembramo-nos de que Cristo morreu e ressuscitou e certificamo-nos de que, em breve, virá Ele arrebatar-nos.
 Unidade nas orações. Informa-nos Lucas, também, que a comunhão da igreja Primitiva tinha como base a oração. O autor sagrado é enfático: “e nas orações” (At 2.42). Isto significa que as reuniões de clamor e intercessão eram-lhes frequentes e poderosas. Haja vista que, certa ocasião, a força da oração daqueles santos chegou a abalar a estrutura do prédio em que estavam reunidos (At 4.31). Sem oração, a comunhão da Igreja perde a sua força e influência. Sua igreja é uma comunidade de clamor e intercessão? Ela ainda move o coração de Deus? É hora de clamar!


Os eventos pentecostais do capítulo 2 de Atos

Estando o Cristo já à destra do Pai e a vacância de Judas devidamente preenchida por Matias, só faltava mesmo o Senhor Jesus efundir o Espírito Santo sobre os apóstolos e os discípulos, para que a Igreja fosse inaugurada como a agência por excelência do Reino de Deus. O fato está registrado em Atos capítulo dois. Vejamos alguns eventos que marcaram aquele tão inefável Dia de Pentecostes.

1. A efusão do Espírito Santo. Estando os discípulos reunidos num só lugar, eis que o Senhor Jesus infunde-lhes de seu Espírito. Já batizados no e com o Espírito Santo, começaram eles a falar noutras línguas, enaltecendo a Deus (At 2.4, 11). Cumpria-se ali a profecia de Joel (2.28-31). Assim, era inaugurada a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. A Igreja nasceu pentecostal e pentecostal continua, pois a efusão do Espírito Santo não é apenas um evento eclesiológico, mas principalmente escatológico.

2. O primeiro sermão da Igreja. Inquirido por uma pergunta pentecostal: “Que quer isto dizer” (At 2.12). Levanta-se, então, Pedro e põe-se a pregar. O seu sermão não é apenas teológico; é também apologético. Em sua irresistível teologia e em sua apologia irretocável, o apóstolo enuncia uma mensagem soteriológica que frutifica aproximadamente três mil almas (At 2.41). A verdadeira mensagem evangélica, por conseguinte, há de ser teológica sim, mas haverá também de ser apologética. Somente assim gerará resultados soteriológicos.

3. A singularidade da comunhão cristã. O derramamento do Espírito Santo gera, naquelas quase três mil almas convertidas, uma comunhão desconhecida até mesmo por uma sociedade solidária e irmã como a judaica. Constrangidos pela Lei de Moisés, eram os judeus obrigados a manterem-se como irmãos. Mas nem sempre logravam esse ideal. Haja vista a constância com que os profetas denunciavam a injustiça social em Israel.

A Igreja de Cristo, porém, vai além da solidariedade. Rapidamente consolida-se como uma comunidade de comunhão plena tanto com Deus quanto com os seus próprios membros. Nem mesmo Platão, em sua república, fora capaz de gizar uma sociedade como a da Igreja Primitiva. Eis como Lucas descreve o viver de nossos primeiros irmãos: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” (At 2.42-47).

O que os comunistas e outros utópicos apenas conseguem imaginar no sonho, os cristãos primitivos lograram conseguir num único dia. Somente o Espírito Santo pode operar dessa maneira na vida dos filhos de Adão.

A expansão da nascente Igreja do Senhor

A expansão da Igreja Cristã, em Atos dos Apóstolos, pode ser divida em duas etapas distintas: a primeira, de forma espontânea, vai de Jerusalém a Samaria; a segunda, de forma planejada e intencional, vai de Antioquia a Roma, sem impedimento algum.

1. A expansão da Igreja em Jerusalém. Nenhum líder judeu poderia imaginar que, logo após a morte do Senhor Jesus, iria a Igreja Cristã, inaugurada no Pentecostes, esparramar-se por toda Jerusalém. No Sermão do Pentecostes, quase três mil almas agregaram-se aos fiéis (At 2.41). Mais adiante, o número já sobe para cinco mil (At 4.4). Daí em diante, multiplicou-se tanto o número de conversos que até mesmo não poucos sacerdotes obedeciam a fé: “Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé” (At 6.7).

2. A expansão da Igreja na Judéia e Samaria. A morte de Estevão foi apenas o início de uma perseguição que culminaria com a diáspora da igreja hebréia. E os irmãos, espalhados que foram pela arbitrariedade das autoridades judaicas, iam espalhando a Palavra de Deus por toda a Judéia até chegar a desprezada Samaria (At 8.1-25).

Assim, de forma espontânea, iam eles semeando a boa semente do Evangelho por toda a Judeia e Samaria. Nessa fase, destaca-se como evangelista o que fora escolhido como diácono: Filipe.

3. A expansão da Igreja entre os gentios. Se o avanço da Igreja Cristã de Jerusalém a Samaria dera-se de forma espontânea, agora o Espírito Santo levará os seus apóstolos a expandir o Reino de Deus de maneira intencional, metódica e bem planejada (At 13.1-4; 16.6,7; 21.4; . 
Na parte inicial de Atos, a figura proeminente é Pedro. Na segunda parte, destacar-se-á Saulo de Tarso como o grande campeão de Cristo que, em quatro viagens missionárias, levou o Evangelho ao extremo ocidental do mundo então conhecido sem impedimento algum (At 28.31).

Apesar de suas limitações locais, a Igreja de Cristo, sob o poder do Espírito Santo, universaliza-se em suas conquistas e faz-se irresistível como Reino de Deus. Foi o que demonstraram os apóstolos de Nosso Senhor. Em menos de quarenta anos,  cumpriram eles integralmente a comissão missionária que lhes confiara o Senhor. Isto não significa, porém, hajam eles evangelizado toda a terra. Mas de tal forma expandiram o Cristianismo que, num tempo tão exíguo, conseguiram dar-lhe foros de uma religião realmente universal. Houvera a Igreja se limitado a Jerusalém, seria ela vista, hoje, como uma mera seita  judaica. Ou melhor: talvez nem existiria.

A vocação da Igreja é ser universal, invisível e perfeita. É local, mas a sua glória é que ela não é local. Ainda que visível, fermenta o mundo em sua invisibilidade. Quanto à sua imperfeição, é justamente nesta que a perfeição de Cristo mostra-se plena.



OS FRUTOS DA COMUNHÃO CRISTÃ

Estes são os frutos gerados pela comunhão cristã, conforme facilmente depreendemos da leitura do capítulo dois de Atos dos Apóstolos:
 Temor a Deus. A verdadeira comunhão frutifica, na vida da igreja como um todo e na vida de cada crente em particular, um santo temor a Deus. Lucas destaca: “Em cada alma havia temor” (At 2.43). E o temor a Deus, como todos sabemos, é o princípio do saber (Pv 1.7).
Quando os crentes temem e amam a Deus, a igreja mostra-se sabia não apenas diante do Senhor, mas também do mundo. Ainda há temor a Deus em seu coração?
 Sinais e maravilhas. Pentecostais que somos, acreditamos piamente que Deus ainda opera sinais e maravilhas entre o seu povo. Mas, para que isso ocorra, é urgente que vivamos uma perfeita comunhão com o Pai e com cada um de seus filhos. Lucas realça que, na Igreja Primitiva, o sobrenatural era algo bastante natural entre os crentes: “e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos” (At 2.43). O segredo? A comunhão.
Assistência social. Uma igreja que cultiva a verdadeira comunhão cristã não permitirá que nenhum de seus membros passe necessidade. Eis o que testemunha o autor sagrado: “Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam suas propriedades e fazendas e repartiam com todos, segundo cada um tinha necessidade” (At 2.44,45). Não se tratava de um comunismo cristão, mas da autêntica comunhão que o Espírito Santo nos esparge na alma. O comunismo só espalha o medo, a miséria e o ateísmo. A Igreja de Cristo não precisa dessa ideologia para socorrer os seus membros; ela tem o amor de Deus.
 Crescimento. Uma igreja que cultiva a comunhão e não se acha dividida só tem a crescer: “[...] E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar” (At 2.47b). A Igreja como a agência por excelência do Reino de Deus não pode ficar estagnada. Haverá de crescer local e universalmente.
Adoração. A Igreja Primitiva era também uma comunidade de adoração “louvando a Deus e caindo na graça de todo o povo” (At 2.47). Sim, a Igreja que louva a Deus jamais deixará de ser reconhecida, até mesmo por seus inimigos, como um povo especial. Voltemos ao altar da verdadeira adoração. Louvemos a Deus com salmos e hinos. Abramos a Harpa Cristã e celebremos os grandes atos de Deus.

Sua igreja cultiva a verdadeira comunhão? É hora de voltarmos ao cenáculo e reviver os tempos de refrigério e avivamento. Somente uma igreja que experimenta a verdadeira comunhão com Cristo e com os seus membros em particular, sobreviverá nestes tempos difíceis e trabalhosos. O Espírito Santo quer operar em nosso meio. Mas só o fará se estivermos vivendo a genuína comunhão cristã. 
 “No Pentecostes, depois da vinda do Espírito Santo, o grupo de 120 explodiu! Em um dia três mil pessoas adotaram a fé, e passaram a servir a Cristo. Elas foram agregadas à igreja, isto é, imediatamente se uniram à comunhão de crentes. Os três mil novos crentes se reuniram com os outros como eles, pessoas de pensamento e fé semelhantes. Lucas ressaltou a natureza cotidiana das reuniões da igreja. Os crentes se reuniam tanto no templo ([...]), como em casa, para o partir do pão e, supostamente, para comunhão, para darem atenção às necessidades e para a prática da oração. Uma má interpretação comum sobre os primeiros cristãos (que eram judeus) era que eles rejeitavam a religião judaica. Mas estes crentes viram a mensagem e a ressurreição de Jesus como o cumprimento de tudo o que eles conheciam, e do Antigo Testamento e em que criam. A princípio, os crentes de origem judaica não se separaram do restante da comunidade judaica. Eles ainda iam ao Templo e às sinagogas para adorarem e aprenderem mais sobre as Escrituras. Mas a sua fé em Jesus Cristo criou um grande atrito com os judeus que não acreditavam que Jesus fosse o Messias. Assim, os crentes judeus eram forçados a se reunirem nas suas casas para compartilharem as suas orações e os ensinos a respeito de Cristo. No final do século I, muitos desses crentes judeus foram excomungados das suas sinagogas”.(Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Vol.1. RJ: CPAD, 2009, pp.632-34)

                           “A Comunhão dos Santos na Bíblia

A comunhão dos santos é uma expressão teológica e historicamente forte. Quer na comunidade de Israel, quer na Igreja Primitiva, seu conceito não é um mero casuísmo; é uma prática que leva o povo de Deus a sentir-se como um só corpo”.“A comunhão dos Santos em Israel.Nos momentos de emergência nacional, levantavam-se os hebreus como um só homem. Isto mostra que, se um israelita sofria, os demais padeciam; se uma tribo via-se em perigo, as outras sentiam-se ameaçadas. A fim de manter o seu povo unido, suscitava-lhe o Senhor líderes carismáticos como Gideão e Davi.
O amor entre os israelitas era realçado na Lei e nos Profetas. Os hebreus, por exemplo, não podiam emprestar com usura para seus irmãos. Quando da colheita, eram obrigados a deixar, aos mais pobres, as respigas. Foi o que aconteceu a moabita Rute.
Quando a comunhão dos santos em Israel era quebrantada, instalava-se a injustiça social, a opressão e a violência. Para conter todas essas misérias, erguia Deus os seus profetas que, madrugando, repreendiam os injustos, buscando reconduzi-los aos princípios da Lei de Moisés”. 
“A Comunhão dos santos em o Novo Testamento
Ao retratar a comunhão entre os santos, escreve o português Camilo Castelo Branco: ‘O amor de Deus é inseparável do amor do próximo. É impossível no coração humano o incêndio suavíssimo do amor de Deus, quando o grito da miséria não desperta no coração a mágoa das aflições do próximo’.Mais adiante, acrescenta Camilo: ‘Vede como eles se amam diziam os pagãos, quando a sociedade cristã repartia seus haveres em comunas, onde grande despojado de suas galas, vinham sentar-se ao lado dos pobres, vestido de uma mesma túnica, e nutrido por um semelhante quinhão nos ágapes da caridade’.
Sem a comunhão dos santos não pode haver cristianismo. Aliás, protestou alguém certa vez: ‘O amor é a única forma de nos sentirmos realmente cristãos’. Todos os escritores do Novo Testamento, a exemplo do Salvador, realçaram a comunhão dos santos.No Sermão do Monte, ensinou Jesus os seus discípulos a se amarem uns aos outros; doutra forma: não seriam contados entre os seus seguidores”.(ANDRADE, C. As Disciplinas da Vida Cristã. RJ: CPAD, 2008, pp.117-19) 

                                   Sinais e maravilhas na Igreja 

Por que os sinais e maravilhas eram tão comuns à Igreja Primitiva? Qual o segredo daqueles cristãos? Não havia segredo algum. Havia uma obediência amorosa e consciente à Grande Comissão que o Senhor Jesus confiou aos seus discípulos. Quanto mais evangelizavam e faziam missões, mais o Cristo neles operava por intermédio do Espírito Santo.
O mesmo não ocorre hoje com as igrejas que levam a sério o imperioso “ide” de Cristo? Leia com atenção os últimos versículos do Evangelho de Marcos e constate, em nossa própria realidade, o cumprimento pleno desta promessa: “E estes sinais seguirão aos que crêem: em meu nome, expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e imporão as mãos sobre os enfermos e os curarão” (Mc 16.17,18).
Vejamos, pois, o papel e as funções dos sinais e maravilhas, operados pelo Espírito Santo, na vida da Igreja.

 SINAIS E MARAVILHAS, A AÇÃO SOBRENATURAL DA IGREJA

O milagre tem de ser visto não como algo que ficou nos tempos bíblicos, mas como um recurso que o Espírito Santo nos coloca à disposição para que glorifiquemos a Deus e disseminemos o evangelho de Cristo.
 Definição. Os sinais e maravilhas descritos na Bíblia, principalmente em o Novo Testamento, são operações extraordinárias e sobrenaturais de Deus no âmbito das coisas naturais. São uma suspensão das leis da natureza. Somente o que criou todas as coisas pode agir natural e sobrenaturalmente em todas as coisas, porque tudo lhe é possível (Mc 10.27).
 Objetivos do milagre. Dois são os objetivos do milagre: glorificar a Deus e expandir-lhe o Reino (Mc 2.12; Lc 5.26; Jo 11.4). Em Atos, os prodígios operados pelos apóstolos abriram-lhes as portas da Palavra, a fim de que anunciassem com poder e destemor o evangelho. Haja vista o ocorrido na Porta Formosa (At 3.1-11). E o ocorrido em Listra? (At 14.8-18). A intervenção sobrenatural de Deus visa também beneficiar o ser humano. Alguém que é curado do câncer, por exemplo, enaltece o nome do Senhor pelo favor imerecido.
O milagre, por conseguinte, não tem por objetivo criar um espetáculo. Foi por isso que o Senhor emudeceu-se e nada fez ante a curiosidade de Herodes (Lc 23.8,9). Somente os que buscam a própria glória transformam os sinais e maravilhas em um show.

Em Atos capítulo três, Pedro e João dirigiam-se ao Santo Templo a fim de orarem, quando se depararam com aquele coxo de nascença que, diariamente, era trazido ao lugar sagrado para esmolar (At 3.2). Observemos que os apóstolos subiam juntos à Casa de Deus para buscar ao Senhor. Se juntos clamavam ao Senhor, juntos estavam prestes a realizar um grande milagre.
 Oração e milagre. Sem oração não há poder. Moisés e Jesus, que operaram grandes e portentosos sinais, viviam em constante oração e jejum (Êx 24.12-18; Mt 4.2). Se nós obreiros desta geração quisermos também realizar milagres e maravilhas é mister que, juntos, à hora da oração, subamos ao templo. A mão do nosso Deus não está encolhida para efetuar o sobrenatural.
 Quando nem ouro nem a prata fazem a diferença. Ao ver os apóstolos, esperava o coxo receber deles alguma coisa. Todavia, declarou-lhe Pedro: “Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda” (At 3.6).
Hoje, há muitas igrejas ricas e poderosas. Algumas destas, porém, já não conseguem mostrar o poder que operava nos apóstolos. Sim, elas possuem muita prata e muito ouro, mas nenhum poder. O ouro e a prata somente são eficazes quando utilizados na expansão do Reino de Deus. Caso contrário, de nada valem diante daquele que disse: “Minha é a prata, e meu é o ouro, disse o Senhor dos Exércitos” (Ag 2.8). Portanto evangelizemos e façamos missões!
O milagre na Porta Formosa. O mendigo achava-se justamente na Porta Formosa do Santo Templo (At 3.2). Que contraste! Diante de toda aquela suntuosidade, um mendigo. A porta era formosa e rica, mas achava-se fechada para aquele homem enfeado pela doença e empobrecido por sua condição social. 

O MILAGRE ABRE A PORTA DA PALAVRA

Realizado o milagre, o que fizeram os apóstolos? Certamente não trabalharam o seu marketing pessoal nem foram abrir uma igreja independente. Sabendo que a excelência estava em Cristo e não em si, aproveitaram a ocasião a fim de proclamar o evangelho. Como tem você agido quando Deus usa-o na realização de um milagre ou prodígio? Chama a glória toda a si? Ou glorifica o Senhor da glória? Observe o modo como os apóstolos trataram o prodígio.
A proclamação da Palavra é mais importante que o milagre. Não resta dúvida de que um portento fora realizado. Era notório a todos (At 4.16). Era algo simplesmente inegável. Todavia, os apóstolos estavam prestes a mostrar que aquela ocasião era mais do que propícia à proclamação da Palavra de Deus. Hoje, temos muitas terças e quintas-feiras de milagres. Mas que todos os dias sejam dedicados à pregação do evangelho. O Senhor Jesus estará presente entre nós operando sinais e prodígios diariamente.
A proclamação da Palavra deve ser feita a tempo e a fora de tempo. É o que recomenda Paulo a Timóteo: “Conjuro-te, pois diante de Deus e do Senhor Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino, que pregues a palavra, instes a tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina” (2 Tm 4.1,2).
Por conseguinte, Pedro e João aproveitaram a oportunidade a fim de proclamar o Evangelho de Cristo tanto para o povo quanto para os sacerdotes. Leia com vagar os capítulos três e quatro de Atos dos Apóstolos. E veja quantas portas a pregação da Palavra foram abertas através do milagre operado pelos apóstolos na Porta Formosa. Tem você aproveitado as oportunidades para anunciar a mensagem da cruz? Ou acha que o milagre não passa de um espetáculo? É chegado o momento de se pregar a tempo e fora de tempo que Cristo Jesus morreu e ressuscitou para salvar o pecador. 
Os sinais seguem aos que crêem. Mas quando estes seguem aqueles, a igreja começa a ter problemas. Vejamos, pois, os milagres e prodígios como oportunidades para anunciarmos o Evangelho de Cristo até aos confins da terra.
Por acaso não agiam assim os apóstolos de Nosso Senhor? Por que, então, agiríamos de outro modo? À semelhança de Pedro e João, declaremos com autoridade e ousadia: “Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda” (At 3.6). 
“A natureza teológica de um milagre.Cada uma destas três palavras que se referem a eventos sobrenaturais (sinal, maravilhas e poder) delineia um aspecto do milagre. Um milagre é um evento incomum (maravilha) que transmite e confirma uma mensagem incomum (sinal) por intermédio de uma habilidade incomum (poder). Do ponto de vista divino privilegiado, o milagre é um ato de Deus (poder) que atrai a atenção do povo de Deus (maravilhas) para a Palavra de Deus (por meio de um sinal). [...] Eles são normalmente utilizados como sinais para confirmar um sermão; como maravilhas para verificar as palavras de um profeta; como milagre para ajudar a estabelecer a sua mensagem (Jo 3.2; At 2.22). Um milagre, portanto, é uma intervenção divina, ou uma interrupção, no curso regular do mundo que produz um evento com um objetivo definido, o qual, apesar de incomum, não ocorreria (ou não poderia ocorrer) de outra forma. Nessa definição, as leis naturais são compreendidas como sendo a forma normal regular e geral pela qual o mundo funciona. Entretanto, o milagre ocorre como um ato incomum, não-padronizado e específico de um Deus que transcende o universo. Isto não significa que os milagres são contrários às leis naturais; significa simplesmente que eles são originados em uma fonte que está além da natureza”.(GEISLER, N. Teologia Sistemática. Vol.1. 1.ed. RJ: CPAD, 2010, pp.43-44)

                        A importância da disciplina na Igreja

Numa igreja descompromissada com a sã doutrina, crentes como Ananias e Safira seriam até homenageados por sua “liberalidade e altruísmo”. Mas numa igreja que prima pelo ensino, não subsistiriam. Haveriam de ser desmascarados, repreendidos e fulminados pelo próprio Deus, pois Ele sonda-nos a mente e o coração. A falta de doutrina, pois, acaba por induzir toda uma congregação à hipocrisia e à mentira.No episódio de Ananias e Safira, Lucas destaca o valor da disciplina na Igreja de Cristo. Por conseguinte, vejamos porque o ensino é imprescindível ao povo de Deus.

 A DISCIPLINA E SUA NECESSIDADE

 Definindo a disciplina. O que é disciplina senão ensino? Mas possui ela também o seu lado grave: a correção (Pv 15.10). Seu objetivo é conscientizar-nos quanto às consequências de nossas atitudes (Gl 6.7). A falta de disciplina pode conduzir à morte. Foi o que aconteceu a Ananias e a Safira.
 A disciplina no Antigo Testamento. Por intermédio de seus profetas, Deus mostra ao seu povo o valor e a imprescindibilidade da disciplina (Jó 5.17). Ele requer que todos os seus filhos sejam ensinados na Lei e nos Profetas (Sl 25.8). A disciplina é tão preciosa quanto à própria vida (Pv 6.23). Eis o que diz Salomão: “O que ama a correção ama o conhecimento, mas o que aborrece a repreensão é um bruto” (Pv 12.1).
Nestes tempos tão difíceis e trabalhosos, nós pais somos coagidos a não aplicar a disciplina aos nossos próprios filhos. É claro que também somos contra os maus tratos impingidos às crianças. Mas que estas têm de ser disciplinadas, não o podemos negar. A recomendação é do próprio Deus: “O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina” (Pv 13.24 — ARA). Por que os educadores contrários à educação cristã, ao invés de nos constrangerem com as suas impropriedades, não saem em defesa das crianças abandonadas e prostituídas que fervilham nossas cidades? É necessário e urgente resgatar a infância abandonada e proporcionar-lhe uma vida digna e segura.
A disciplina em o Novo Testamento. Embora vivamos sob os termos da Nova Aliança, Deus em nada mudou quanto ao padrão disciplinar de seu povo. Haja vista o Sermão do Monte. Agora, além de o Senhor ratificar o sétimo mandamento, por exemplo, requer tenhamos nós um coração puro (Mt 5.27,28). Por conseguinte, viver sob a lei do Espírito requer uma disciplina ainda maior.
Por quebrarem a disciplina, Ananias e Safira foram severamente punidos pelo Senhor.


 A OFERTA DE ANANIAS E SAFIRA

Disposto a dedicar-se integralmente ao cumprimento da Grande Comissão, Barnabé vende a sua propriedade e entrega todo o dinheiro aos apóstolos. Lucas, ao registrar o fato, realça o desprendimento daquele levita natural da ilha de Chipre, que haveria de prestar relevantes serviços ao Reino de Deus (At 4.36,37).
Ananias e Safira, imitando a Barnabé, também vendem a sua propriedade. Ao contrário deste, o casal retém parte do dinheiro, e repassa o restante aos apóstolos, como se aquele depósito representasse o valor total da propriedade. Eles, porém, seriam desmascarados, repreendidos e mortalmente punidos. Não se pode mentir a Deus.
 O pecado contra o Espírito Santo e a Igreja. O pecado de Ananias e Safira não foi um requinte social como eles supunham; constituiu-se numa ofensa contra o Espírito Santo (At 5.9). Ajamos, pois, com muito cuidado, porque o Senhor chamar-nos-á a prestar contas de todas as palavras frívolas que proferirmos (Mt 12.36).
Se formos disciplinados na Palavra de Deus, jamais cairemos no erro de Ananias e Safira: mentira, hipocrisia e roubo. Como vem você agindo? Tem se dado à mentira? Cuidado. Os mentirosos não terão guarida no Reino de Deus (Ap 22.15).
Uma oferta como a de Caim. Nossa atitude diante do Senhor é sempre mais importante do que a nossa oferta. Vejamos a história de Abel e Caim. Ambos trouxeram o fruto do seu trabalho a Deus. O primeiro teve a sua oferenda aceita, pois justo era o seu coração. Quanto ao segundo, por ser iníquo, foi rejeitado (Gn 4.6,7). Antes de atentar para a oferta, o Senhor contempla o ofertante.
Ananias e Safira poderiam ter vendido a propriedade pelo valor que bem entendesse e haver dado todo o montante, ou parte deste, à Igreja. Pedro deixou-lhes isso bem patente (At 5.4). Mas como o casal, buscando a própria honra, não mentiram somente a Pedro, mentiram também ao próprio Deus (At 5.3). 

O EXTREMO DA DISCIPLINA

Ananias e Safira conheciam muito bem a doutrina dos apóstolos e não ignoravam o Antigo Testamento. Nas sinagogas, ouviam sábado após sábado, a leitura da Lei, dos Escritos e dos Profetas. Chegaram eles a conhecer a Jesus? É bem provável. Por conseguinte, não foram eles punidos inocentemente. Ao mentirem a Pedro, sabiam estarem ofendendo o Espírito Santo. Eles sabiam que esse pecado era gravíssimo (Mt 12.32).
 A sentença de morte. Confrontado pelo apóstolo Pedro, Ananias viu-se desmascarado. Naquele momento, aliás, vê-se ele diante do tribunal divino e do Senhor recebe a sentença pela boca do apóstolo: “Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a, não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus” (At 5.3,4).
Informa Lucas que, ouvindo a reprimenda de Pedro, Ananias caiu por terra fulminado. O mesmo aconteceria à sua esposa três horas depois (At 5.10). O casal que contra o Senhor peca unido, unido também perecerá. Não poderiam eles andar no temor e na disciplina divina?
 A maldição é retirada do arraial dos santos. Se Ananias e Safira não houvessem sido confrontados e punidos, a Igreja de Cristo, como um todo, sofreria por causa do anátema. Lembra-se do caso de Acã? Quando o pecado é revelado e a liderança não faz uso da disciplina, segundo os padrões bíblicos, toda a igreja sofre debaixo da maldição do pecado. Leia com atenção e temor o capítulo sete de Josué. Tomemos cuidado, pois Deus não mudou. Ele continua o mesmo. Aliás, vejamos esta advertência de Pedro: “Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus?” (1 Pe 4.17) 
 “O tolo despreza a correção de seu pai, mas o que observa a repreensão prudentemente se haverá” (Pv 15.5). A disciplina é uma prova de amor. Deus requer que seus filhos andem de conformidade com a sua Palavra. Se errarmos, Ele certamente disciplinar-nos-á. No entanto, cuidado: Deus não se deixa escarnecer.
Ananias e Safira, simulando uma justiça que não possuíam, mentiram para o próprio Deus. Por isso foram mortalmente punidos. Andemos, pois, no temor do Senhor. “O delito de Ananias não foi reter parte do preço do terreno; poderia ter ficado com tudo se quisesse; seu delito foi tentar impor-se sobre os apóstolos com uma mentira espantosa unida à cobiça, com o desejo de ser visto. Se pensarmos que podemos enganar a Deus, fatalmente enganaremos a nossa própria alma. Como é triste ver as relações que deveriam estimular-se mutuamente às boas obras, endurecerem-se mutuamente no que é mau! Este castigo, na realidade foi uma misericórdia para muitas pessoas. Ele faria as pessoas examinarem a si mesmas rigorosamente, com oração e terror da hipocrisia, cobiça e vanglória, e a continuarem agindo assim. Impediria o aumento dos falsos crentes. Aprendamos com isto quão odiosa a falsidade é para o Deus da verdade, e não somente evitar a mentira direta, mas todas as vantagens obtidas com o uso de expressões duvidosas e de significado duplo em nosso falar”.(HENRY, M. Comentário Bíblico. 1.ed. RJ: CPAD, 2002, p.891) 
O Pecado de Acã.“Certamente Acã descobriu que o pecado é uma emoção passageira. Houve a emoção de obter alguma coisa secretamente. Ele teve a emoção de conhecer uma coisa que os outros não conheciam. Ele teve a emoção de ser procurado. Finalmente, chegou a emoção de ser o centro das atenções, de ser ‘a manchete do dia’. Há pessoas dispostas a trocar suas vidas por essas compensações.
Mas a emoção teve vida curta. O que ele fizera foi logo descoberto por todos. O que ele havia escondido foi rapidamente manifesto a toda a sua nação. Aquilo que ele considerou valioso mostrou-se impotente para ministrar-lhe. Aquilo que ele teve orgulho tornou-se sua vergonha. Sua alegria transformou-se em tristeza. Sua emoção momentânea terminou numa morte violenta. Com ele pereceu tanto aquilo que ele havia roubado quanto o que era legitimamente seu. Ele recebeu o salário do pecado. Ele foi ‘sem deixar de si saudades’ (2 Cr 21.20).
Este evento evidencia o princípio de que somente aqueles que vivem vidas submissas diante de Deus recebem ajuda do Senhor. Acã recusou-se a se submeter ao plano de Deus. Ele carecia da santidade que daria permanência ao seu programa de vida.
O fato de que ‘nenhum de vós vive para si e nenhum morre para si’ (Rm 14.7) é ilustrado pela vida de Acã. Um homem pode contaminar uma comunidade tanto para o bem como para o mal. Paulo dá a essa ideia um cuidadoso desenvolvimento em sua carta aos coríntios. Ele conclui: ‘De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele’ (1 Co 12.26).
A vida de Acã também nos ensina que o pecado nunca está oculto aos olhos de Deus. O Senhor sabe o que os olhos veem, o que o coração deseja e o que os dedos manipulam. Ele também sabe dos inúteis esforços do homem de tentar enganá-lo. Mais cedo ou mais tarde, um ser humano deverá encarar seus atos e prestar contas de todos eles.
Outra verdade importante é encontrada no fato de que, assim que o pecado foi expiado, a porta da esperança se abriu. O povo sentiu mais uma vez a segurança de que poderia avançar. Esta verdade continua em ação. Aquele que aceita o sacrifício de Cristo pelo pecado imediatamente olha para a vida com esperança e segurança”.(MULDER, C. O. et al. Comentário Bíblico Beacon. 1.ed. Vol.2. RJ: CPAD, 2005, p.45) 

                                    Assistencia Social.

O diaconato foi instituído a partir de uma contingência. Tudo aconteceu quando os crentes de expressão grega, inconformados por estarem suas viúvas sendo preteridas na distribuição diária, puseram-se a murmurar contra os hebreus. Buscando extinguir a dissensão, propuseram os apóstolos à “multidão dos discípulos” a escolha de sete homens notáveis por sua reputação, para que se encarregassem daquele “importante negócio”. Dessa forma, poderiam os pastores da Igreja dedicar-se à oração e ao ministério da Palavra de Deus. O que parecia um problema local redundou numa solução universal.
Se evangelizar e fazer discípulos são a incumbência primária da Igreja Cristã, socorrer aos necessitados não lhe é tarefa secundária. Aprendamos, pois, com os santos apóstolos a cumprir integralmente a missão que nos confiou o Cristo de Deus. Tem você se ocupado com os mais carentes? Jesus não os esqueceu. Ordena-nos o Senhor ainda hoje: “Dai-lhes vós de comer”.

 AS DORES DO CRESCIMENTO

No Dia de Pentecostes, quase três mil almas converteram-se ao Senhor (At 2.14-39). Apesar de um crescimento tão surpreendente, os discípulos “perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações” (At 2.42). O que isso evidencia? A completa dedicação da liderança ao discipulado e à sã doutrina. Tem você se consagrado à evangelização e ao ensino? Somente assim pode a sua igreja crescer. Esteja, contudo, preparado para os incômodos e as dores que acompanham o crescimento. Foi o que experimentou a Igreja em Jerusalém.
 A urgência da assistência social. Em razão do crescente número de conversos, os apóstolos não mais tiveram condições de atender devidamente às demandas sociais da Igreja (At 4.4; 6.1). Era necessário organizar o ministério cotidiano. Se de início não havia necessitado algum, agora já apareciam as queixas de um segmento muito importante da irmandade: os gregos. Eram estes, segundo podemos depreender, israelitas provenientes da Diáspora.
A Igreja em Jerusalém sentia, agora, as dores do crescimento. Somente as igrejas que não crescem são poupadas de tais desconfortos.
Como está o trabalho de assistência social de sua igreja? Todos estão sendo socorridos? O ideal é que, em nosso meio, ninguém seja esquecido (At 4.34).
 A murmuração dos gregos. Os crentes de expressão grega puseram-se a reclamar de que suas viúvas estavam sendo preteridas na distribuição diária (At 6.1). Fez-se murmuração o que era queixume. Para esvaziar aquele clima de insatisfação que já começava a generalizar-se, os apóstolos foram divinamente orientados a instituir o diaconato. Por que permitir que seja a discórdia espalhada entre os irmãos? Busquemos a sabedoria do alto. E assim teremos condições de pacificar os ânimos e manter a unidade do povo de Deus.

A INSTITUIÇÃO DO DIACONATO

Com a murmuração dos gregos a ressoar-lhes aos ouvidos, os apóstolos reuniram a “multidão dos discípulos”, objetivando solucionar aquele problema. Por que deixá-lo avolumar-se e enfermar toda a congregação?
A participação da Igreja nas decisões. Os apóstolos, convocada a Igreja, propuseram a escolha de sete varões, para se encarregarem da assistência material e social aos santos. Requeria-se fossem os candidatos homens de “boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria” (At 6.3). Afinal, iriam eles lidar com o povo de Deus. Em sua Primeira Epístola a Timóteo, Paulo destaca a importância desse ministério: “Porque os que servirem bem como diáconos adquirirão para si uma boa posição e muita confiança na fé que há em Cristo Jesus” (1 Tm 3.13).
O ministério diaconal. Apesar de o capítulo seis de Atos não mencionar uma única vez a palavra “diácono”, não resta dúvida de que o ofício foi instituído naquela ocasião. É mister ressaltar o destaque de dois daqueles obreiros: Estêvão e Filipe (At caps. 6, 7 e 8). Não fossem os diáconos, como haveriam os apóstolos de se dedicarem à edificação do corpo de Cristo?
Há que se mencionar o diácono Atanásio (295-373) que, na História da Igreja Cristã, é honrado como o pai da ortodoxia.
Que o Senhor nos dirija na escolha de homens íntegros, sábios e cheios do Espírito Santo, para que nos auxiliem no exercício do pastorado. 

                                    ASSISTÊNCIA SOCIAL 

Era imperioso aos apóstolos devotarem-se à oração e ao ensino da Palavra de Deus. Doutra forma, como haveriam de edificar a Igreja na sã doutrina? Todavia, estavam eles mais do que cientes: as obras de misericórdia são também importantes. Que os crentes, pois, sobressaiamos igualmente pelas boas obras (Mt 5.16; At 9.36; Ef 2.10). Não alerta Tiago que a fé sem as obras é morta? (Tg 2.17). A assistência social na Igreja Cristã não será menosprezada.
O “importante negócio”. O trabalho assistencial foi considerado pelos apóstolos um “importante negócio” (At 6.3). Por isso houveram-se eles com diligência na escolha dos melhores homens para exercê-lo. Na Igreja de Cristo, o socorro aos necessitados também é visto como prioridade.
Havendo incumbido os diáconos de zelar pelo socorro aos pobres, a Igreja Primitiva demonstra ser possível exercer o serviço cristão em sua plenitude. Em sua despensa havia tanto o pão que desce do céu como o pão que brota da terra. Que exemplo às igrejas de hoje! A ordem do Senhor não será esquecida: “Dai-Ihes, vós mesmos, de comer” (Mt 14.16).
 Servindo à Igreja de Cristo. Tanto os doze apóstolos como os sete diáconos porfiaram em servir à Igreja. Os primeiros com a oração e a Palavra; os segundos, com o ministério cotidiano. Um não pode subsistir sem o outro. Sanada a dificuldade com a assistência às viúvas gregas, informa-nos Lucas: “Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé” (At 6.7 — ARA). 
“A Comunhão Quebrad.Os crentes se dedicam a formar uma comunidade de comunhão (At 2.42), que acha expressão em compartilhar as possessões com os necessitados. Como exemplo positivo de comunhão, Lucas chamou atenção a Barnabé (At 4.36,37); em contraste, Ananias e sua esposa são exemplos negativos (At 5.1-11). No capítulo 6, Lucas informa um desarranjo na comunhão causado pela negligência da comunidade para com suas viúvas gregas. No meio de tremendo progresso da Igreja, este problema coloca a unidade eclesiástica em sério perigo. Nesta época, a comunidade cristã consiste em dois grupos: os judeus gregos (hellenistai, ‘crentes de fala grega’) e os judeus hebreus (hebreaioi, ‘crentes de fala aramaica’). Os judeus gregos de Atos 6 são crentes que foram fortemente influenciados pela cultura grega. [...] Os cristãos de fala aramaica são mais fortes nas tradições religiosas palestinas e mostram mais restrição em atitude para com a lei judaica e o templo. Sendo mais agressivos na abordagem, os judeus helenísticos provocavam raiva. Em pelo menos uma ocasião a pregação agressiva de um crente de fala grega na sinagoga helenista em Jerusalém termina em apedrejamento. Os judeus helenistas apresentavam o evangelho com tal zelo que eventualmente os oponentes os compelem a fugir de Jerusalém para salvar a própria vida (At 8.1-3)” (Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. 2.ed. RJ: CPAD, 2004, p.657).
 “O Descontentamento Social.Afirma o eminente teólogo da Universidade de Salamanca Lorenzo Turrado: ‘A queixa dos helenistas, a julgar pela iniciativa tomada pelos apóstolos, parece que tinha sério fundamento’. A situação que se desenhava deixou os apóstolos mui preocupados. Como israelitas, sabiam eles que a injustiça e a desigualdade sociais eram intoleráveis aos olhos de Deus (Dt 15.7,11). Não foi por causa da opressão que o Senhor desterrara a Israel? A palavra de Ezequiel não tolera dúvidas: ‘O povo da terra tem usado de opressão, e andado roubando e fazendo violência ao pobre e ao necessitado, e tem oprimido injustamente ao estrangeiro’ (Ez 22.29). Infelizmente, a questão social continua a ser descurada por muitos ministros do Evangelho. Acham eles que a desigualdade social é um problema que cabe apenas ao governo resolver. Mas a Bíblia não ensina assim. Embora a Igreja de Cristo seja um organismo espiritual e desfrute da cidadania celeste, ela é vista como uma comunidade administradora de uma justiça que tem de exceder a do mundo (Mt 5.20). O comentário é de Broadman: ‘Os cristãos têm infligido quase tantas feridas à comunhão quanto os perseguidores externos, abrigando em si preconceitos raciais, religiosos e de classe. Esse preconceito leva à discriminação, e a discriminação destrói a unidade dos crentes. Estas distinções não deviam ter entrado na Igreja, naquela época, e não devem entrar hoje’” (ANDRADE, C. Manual do Diácono. 1.ed. RJ: CPAD, 1999, pp.17,18). 
As implicações de Atos 6.Paternalismo. Talvez a primeira lição que deva ser aprendida é a de que a liderança espiritual da igreja precisa evitar o paternalismo. A maneira de se desenvolver uma igreja amadurecida não é impor soluções ‘de cima para baixo’, mas envolver a congregação na solução do problema, e confiar aos membros um papel significativo na tomada de decisões.
Confiança. Teria sido tão fácil tornar-se defensivo e argumentar em quem se deveria ou não colocar a culpa. Em lugar disso, a congregação concentrou-se no problema e os cristãos de fala aramaica demonstraram confiança em seus irmãos, ao fazer os cristãos de fala grega responsáveis pela distribuição a todos.
Prioridades. Os líderes espirituais da igreja precisam concentrar sua atenção ‘na oração e no ministério da palavra‘ (6.4). Mas as preocupações materiais dos crentes também precisam de atenção. E aqueles que lidam com as ‘coisas práticas’ precisam ser pessoas ‘cheias de fé e do Espírito Santo’.
Flexibilidade. Precisamos estar prontos para reagir às necessidades. Frequentemente, nossas igrejas estão encerradas em antigos programas ou antigos cargos. Em lugar de procurar com criatividade satisfazer as necessidades à medida que elas surgem, nós lutamos para manter o mecanismo da igreja. Este incidente na vida da Igreja Primitiva nos lembra de que as pessoas são mais importantes do que as constituições de nossa igreja, e que a inovação não é uma palavra feia” (RICHARDS, L. O. Comentário Histórico Cultural do Novo Testamento. 1.ed. RJ: CPAD, 2007, pp.263-64).


                       Quando a Igreja de Cristo é perseguida

eremos que os crentes da Igreja Primitiva enfrentaram forte oposição por parte das autoridades, todavia, aqueles irmãos não deixaram de testemunhar e proclamar o evangelho de Cristo. Eles não tinham suas vidas por preciosas, por isso, não temiam testemunhar de Jesus. Os crentes demonstravam, por intermédio do testemunho pessoal, o que Jesus havia feito em suas vidas. Não podemos nos esquecer de que fomos chamados para sermos testemunhas de Cristo. Muitas são as oportunidades que o Senhor tem nos dado para proclamarmos sua Palavra. Que não venhamos a ficar intimidados, deixando de testemunhar de Cristo, mesmo diante das críticas, maus exemplos de alguns ou qualquer tipo de perseguição. Sigamos de perto a postura dos primeiros crentes.

CONSEQUÊNCIAS DO MARTÍRIO DE ESTÊVÃO

   •   Jornada evangelística de Filipe (8.4-40);   •   A conversão de Saulo (9.1-30);
   •   A viagem missionária de Pedro (9.32—11.18);
   •   A fundação da Igreja em Antioquia da Síria (11.19).
Semeado em Jerusalém, o sangue de Estêvão frutifica a vocação universal da Igreja de Cristo. O que parecia mais uma seita judaica extrapola as fronteiras de Israel como Reino para conquistar o império. Nesse processo, Saulo de Tarso antagoniza um importante papel. Perseguindo, espalha a chama do evangelho. Mais tarde, já converso e perseguido, leva esta mesma flama até aos extremos da terra.
O martírio de Estêvão não foi em vão. Mais tarde, testemunharia Tertuliano (155-222), um dos mais importantes apologetas eclesiásticos: “Quanto mais nos esmagardes, tanto mais cresceremos, que é semente o sangue dos cristãos”.
Neste momento, a Igreja de Cristo é perseguida em todo o mundo. Sim, perseguem-nos não apenas física, mas cultural e institucionalmente. À semelhança dos cristãos primitivos, quanto mais tentam reprimir-nos localmente, mais universalmente nos espalhamos.

 OS EFEITOS DA MORTE DE ESTÊVÃO

O teólogo inglês Matthew Henry (1662-1714), um dos maiores comentaristas das Sagradas Escrituras, escreve mui sábia e apropriadamente: “Algumas vezes Deus levanta muitos ministros fiéis sobre as cinzas de um deles”. Haja vista o martírio de Estêvão. Se aos olhos humanos era uma simples execução, à vista divina aquela morte foi o caminho que conduziu muitos à vida, inclusive um homem fero e irreconciliável como Saulo de Tarso. Somente a história haveria de avaliar os efeitos do assassinato daquele justo.
Sobre Paulo. Como ouvir um discurso como o de Estêvão e não curvar-se às evidências do evangelho? Embora teimasse em não reconhecer a Jesus como o Messias de Israel, Saulo de Tarso não pôde ficar indiferente às palavras e ao martírio daquele santo. É o que depreendemos destas palavras do próprio Senhor: “Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões” (At 26.14). Aliás, o mesmo Saulo o confessa: “E, quando o sangue de Estêvão, tua testemunha, se derramava, também eu estava presente, e consentia na sua morte, e guardava as vestes dos que o matavam” (At 22.20).
A evangelização de Saulo teve início com o sermão de Estêvão, em Jerusalém, sendo complementada, em Damasco, por Ananias. Muito em breve o que localmente perseguira a Igreja, universalmente haveria de expandi-la de Antioquia a Roma.
Sobre a Igreja. Com os termos da Grande Comissão a ecoar-lhes nos ouvidos, sabiam os santos apóstolos que a Igreja não poderia circunscrever-se a Jerusalém (Mt 28.19,20). Mas quando sair à Judeia? Quando alcançar Samaria? E quando atingir os mais distantes lugares da terra? Estando ainda estas perguntas por se responder, eis que o martírio de Estêvão precipita a dispersão da Igreja de Jerusalém.
Ao relatar o evento, escreve Lucas: “Mas os que andavam dispersos iam por toda parte anunciando a palavra” (At 8.4). Por conseguinte, quando aqueles piedosos varões puseram-se a sepultar o corpo de Estêvão, não sabiam eles estarem, na verdade, semeando uma semente que, de imediato, multiplicar-se-ia dentro e fora dos termos de Jacó. Não foi exatamente isto o que ensinara o Senhor: “Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto” (Jo 12.24). Mais tarde, confirmaria o doutíssimo Tertuliano as palavras do Cristo: “O sangue dos mártires é a semente da Igreja”.
As perseguições à Igreja não ficaram no passado. Este sistema, que jaz no maligno, tudo faz por sufocar a Noiva do Cordeiro. Está você preparado a defender a sua fé? Morreria por amor a Cristo? Não podemos fugir a essa pergunta. Que a nossa confissão seja tão firme quanto à de Jan Hus (1369-1415), reformador protestante da antiga Boémia: “Com a maior alegria confirmarei com meu sangue a verdade que tenho escrito e pregado”.

QUANDO A IGREJA É PERSEGUIDA

Quem ainda não leu o excelente livro Torturado por Amor a Cristo? Escrito pelo pastor romeno Richard Wurmbrand (1909-2001), mostra-nos o quanto a Igreja de Cristo sofreu nos países comunistas. Atrás da cortina de ferro, eram os cristãos perseguidos física, cultural e institucionalmente.
 Perseguição física. Neste exato momento, muitos são os missionários, pastores e leigos que, torturados e até mortos por causa da santíssima fé, fazem boa e ousada confissão ante o verdugo (1 Tm 6.13). Se pudéssemos ouvir-lhes o clamor! Oremos por nossos irmãos na China, na Coreia do Norte, em Cuba e nos países muçulmanos. Em cada uma dessas nações, há uma igreja de Esmirna (Ap 2.8-11). Deixemos, pois, o conforto de Laodiceia e saíamos a espalhar a boa semente do Evangelho.
Perseguição cultural. Embora vivamos num contexto cultural, não podemos nos conformar, sob hipótese alguma, com a cultura do presente século (Rm 12.1,2). Então, como devemos agir? Se, de fato, somos o sal da terra e a luz do mundo, transformemos a cultura que nos busca envolver através da proclamação da Palavra de Deus (Mt 5.13).
As manifestações culturais deste mundo apregoam sutil e quase que, imperceptivelmente, o relativismo moral, a substituição dos valores bíblicos por uma ética leniente e permissiva e a entronização do homem no lugar que pertence exclusivamente a Deus. Como não podemos nos conformar com tais coisas, somos alijados da vida cultural da sociedade. Não agiam assim os gregos em relação ao Evangelho (1 Co 1.22-24). O que os inquisidores deste mundo não sabem é que a loucura de Deus é mais sábia do que os homens (1 Co 1.25).
Perseguição institucional. Os interesses do Reino de Deus jamais se coadunarão com os deste mundo. Por isso, levantam-se alguns potentados, buscando amordaçar a Igreja de Cristo. Tentam eles, sob o apanágio de um humanitarismo falso e aparatoso, impedi-la de protestar, por exemplo, contra o homossexualismo. Outros buscam descriminalizar práticas como o aborto e o uso de drogas. E outros ainda afadigam-se em varrer das escolas qualquer vestígio do criacionismo bíblico.
Diante de todos esses ataques institucionais, lembremo-nos da exortação do pastor batista norte-americano, William S. Plumer (1759-1850). Alerta-nos ele: “Perseguição não é novidade... a ofensa da cruz jamais cessará”.

 COMO ENFRENTAR A PERSEGUIÇÃO

Assim devemos, portanto, enfrentar a perseguição:
 Evangelizando e fazendo missões. Se bem atentarmos, constataremos: a Igreja só começou a evangelizar e a fazer missões depois da perseguição que lhe moveram as autoridades judaicas após a morte de Estêvão (At 8.4,5; 13.1-3). O que estamos esperando? É hora de atravessarmos as fronteiras com o Evangelho de Cristo.
Apresentando uma apologia de nossa fé. Contra a perseguição cultural e institucional, a recomendação de Pedro é clara e urgente: “Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” (1 Pe 3.15 — ARA).
 Conservando nossa identidade como povo de Deus. Somos perseguidos, porque somos um povo especial, zeloso e de boas obras (Tt 2.14). Enfim, representamos tudo o que o mundo odeia. Nós, luz; eles, ainda em trevas. Porfiemos por uma vida santa e justa.
O Diabo tudo fez por matar a Igreja em seu nascedouro. O que ele não sabia, ou fingiu esquecer, é que as portas do inferno jamais prevalecerão contra a Igreja de Cristo. O Diabo não pôde emudecer a Filipe nem a Paulo. Como diria o teólogo A. W. Tozer (1897-1963): “O fogo de Deus não pode ser apagado pelas águas da perseguição dos homens”. 
 “Os escritos de Basílio sobre a perseguição de Deoclécio dão uma ideia geral do que foram as crueldades e os horrores daqueles dias: ‘As casas dos cristãos eram deixadas em ruínas; seus bens, pilhados. Seus corpos caíam nas mãos dos ferozes lictores, que os dilaceravam como bestas selvagens, e arrastavam as matronas pelos cabelos através das ruas, insensíveis às súplicas por clemência, viessem elas dos idosos ou daqueles de tenra idade. Os inocentes eram submetidos a tormentos reservados apenas aos mais vis criminosos; os calabouços eram lotados com habitantes dos lares cristãos, que agora jaziam desolados; os desertos sem caminhos e as cavernas das florestas enchiam-se de fugitivos, cujo único crime fora a adoração a Jesus Cristo’” (REILLY, A. J. Os Mártires do Coliseu. 1.ed. RJ: CPAD, 2005, p.38). 

                                     A conversão de Paulo

As autoridades religiosas de Jerusalém outorgaram a Saulo cartas que lhe garantiam o direito de prender os cristãos. Todavia, no caminho de Damasco, Saulo teve um encontro memorável com Jesus. Este encontro mudou radicalmente sua vida. Diante do Rei dos reis, Saulo, o perseguidor de cristão, se prostra. Um dia, todos terão que se curvar diante de Jesus. As convicções religiosas de Saulo também são lançadas ao chão naquele momento. Embora cego, Saulo sai daquele encontro transformado e “enxergando” a realidade! Esse novo homem ficou três dias sem comer ou beber nada, certamente pensando em tudo que lhe aconteceu. Mais tarde Paulo aprendeu o que é padecer pelo Senhor. Por intermédio desse “vaso escolhido” a igreja tornou-se basicamente gentia.

RESUMO DA VIDA DE PAULO

  •  Nascido em Tarso, Capital da Cilícia (22.3);
  •  Fariseu (23.6);
  •  Cidadão romano (22.25-28);
  •  Fazedor de tendas (18.3);
  •  Aluno de Gamaliel (22.3);
  •  Guardava a Lei (26.5);
  •  Um encontro com Jesus mudou sua vida (9);
  •  Foi batizado (9.18);
  •  Suas últimas palavras (2 Tm 4.6-8).
Paulo é considerado, depois de Jesus, o personagem mais importante da historia da Igreja Cristã (At 24.5). Ele escreveu quase a metade dos livros do Novo Testamento e foi responsável direto pela evangelização dos gentios. Dezessete dos vinte e oito capítulos de Atos dos Apóstolos são dedicados à conversão e ao ministério do apóstolo dos gentios (At 9; 13-28).Sabemos mais a respeito de Pauto do que dos demais apóstolos. Aprendamos, pois, com a vida e a obra de Paulo!

 SAULO DE TARSO

Na comunidade judaica, Paulo era conhecido por um nome bem hebreu: Saulo (At 9.1,4,11). Ele provinha de uma família benjamita que, apesar de viver na Diáspora, era mui fiel à tradição (Fp 3.5). Tendo em vista sua formação cultural e religiosa; mostrou-se mais do que hábil para atuar como o apóstolo dos gentios.
A formação cultural de Paulo. Instruído aos pés de Gamaliel (At 22.3), Saulo pertencia ao partido religioso mais conceituado do Judaísmo — os fariseus (At 26.5; Fp 3.5). Ele conhecia profunda e intimamente o Antigo Testamento (Rm 1.17; 3.4,5,10-18; 9.6-33), as tradições de seu povo (At 26.24: 28.17,18; Gl 1.13-14) e a língua hebraica (At 22.1,2). Era tão bem versado no meio religioso de Israel que, dos principais sacerdotes, recebera autorização para perseguir os discípulos de Cristo (At 26.10).
As evidências indicam que Paulo cursou a universidade de Tarso. Haja vista o seu domínio do idioma grego e dos autores clássicos, dos quais cita pelo menos dois: Aratos e Epimênides (At 17.28; Tt 1.12). Cidadão romano, falava também mui provavelmente o latim.
 Paulo, cidadão romano. Natural de Tarso, na Cilícia (At 9.11; 21.39; Gl 1.21), Paulo tornara-se, por nascimento, cidadão de Roma, pois a cidade era província romana (At 22.25-29). Naquele tempo, a nacionalidade romana era adquirida de três maneiras: por direito de nascença, por concessão imperial e por aquisição pecuniária (At 22.28; 23.27; 24.7,22).
Embora conhecesse muito bem os seus direitos como romano (At 22.25-29; 25.10-12,21,27), era-lhe a cidadania celeste (Ef 2.19; Fp 3.20) mais importante do que os privilégios concedidos pelos homens. Esta é a razão pela qual renunciou a todas as regalias terrenas para assumir a cruz de Cristo (Fp 3.7-9). Como tem agido você como cidadão do céu? 

                                  A CONVERSÃO DE PAULO

A conversão de Paulo está narrada em três capítulos de Atos dos Apóstolos (9.3-18; 22.6-21 e 26.12-18). Vejamos os relatos segundo o desenvolvimento cronológico dos fatos.
 O Encontro com Jesus. Saulo solicita autorização aos principais sacerdotes, afim de perseguir os discípulos de Cristo que se achavam em Damasco (At 9.1-2; 22.5; 26.10-11). Já próximo da cidade, ele e seus companheiros são envolvidos subitamente por uma luz do céu, muito mais forte que o sol (At 9.3; 22.6; 26.13). E todos caem por terra (At 9.4; 22.7; 26.14). Em língua hebraica, Jesus deu-se-Ihe a conhecer (At 26.14,15).
Os que o acompanhavam não viram a ninguém. Aturdidos, ouviram, sim, a voz, mas não entenderam a mensagem (At 9.7; 22.9; cf. Jo 12.28-30). Paulo, então, é confrontado por Jesus Cristo (At 9.5; 22.7; 26.14,15) e por este é comissionado a levar o evangelho tanto aos filhos de Israel como aos gentios (At 26.16-18). Em seguida, o Senhor orienta-o a seguir viagem até Damasco, onde receberia novas instruções (At 9.6; 22.10).
Erguendo-se, Saulo nada enxerga. Conduzido por seus auxiliares até Damasco, na cidade permanece durante três dias sem nada ver, sem nada comer e sem nada beber (At 9.8,9; 22.11).
Ananias visita a Paulo. Enquanto isso, o Senhor em visão aparece a Ananias, homem piedoso e justo que morava em Damasco, e ordena-lhe que vá à casa de Judas, que ficava na rua Direita, e pergunte “por um homem de Tarso chamado Saulo”. Naquele instante, este orava e via numa visão a Ananias que, entrando em seus aposentos, impunha-lhe as mãos para que voltasse a enxergar (At 9.10-12; 22.12).
Ananias, então, retruca. Sabe ele qual o propósito de Paulo na cidade (At 9.13-14). O Senhor, porém, afiança-lhe que o perseguidor será doravante um vaso escolhido para tornar o evangelho conhecido em todo o mundo (At 9.15-16; 26.16-18). Imediatamente Ananias vai ao encontro de Saulo e, impondo-lhe as mãos, confirma a comissão que ele recebera do Senhor, recobra-lhe a visão e batiza-o (At 9.17-18; 22.13-16).
Saulo, de perseguidor a perseguido. Já refeito, Saulo busca congregar-se com os irmãos em Damasco (At 9.19). Apesar dos temores iniciais, os discípulos acabam por estender-lhe a destra de comunhão. Em ato contínuo, põe-se ele a testemunhar de Cristo a todos nas sinagogas da cidade (At 9.20). Os judeus perturbam-se com a sua conversão (At 9.21-22). E intentam tirar-lhe a vida (At 9.23). Tal plano chega ao conhecimento de Saulo (At 9.23-24). Para o livrarem da cilada, os irmãos descem-no de noite num cesto pelo muro (At 9.25). E ele segue em direção a Jerusalém (At 9.26; 22.17).

PROPÓSITOS DA VOCAÇÃO DE PAULO

Os objetivos de Cristo ao confrontar Saulo na estrada de Damasco são desenvolvidos nas três narrativas de sua conversão de Atos dos Apóstolos (9.3-18; 22.6-21; 26.12-18).
 Conhecer a vontade de Deus. Saulo teria de conhecer realmente a vontade de Deus concernente a Israel, a Igreja e ao mundo (At 22.14,15). Mais tarde, em sua Epístola aos Efésios, revela a sua compreensão concernente à Igreja de Deus, formada não por uma nação, mas constituída igualmente por judeus e gentios. Tudo isso revelou-lhe o próprio Senhor. Tem você procurado saber a vontade divina para a sua vida?
 Tornar-se ministro e testemunha de Jesus. Consciente de sua vocação, põe-se Paulo a testemunhar de Cristo não somente diante dos gentios, mas também perante Israel. Faz ele apologia do evangelho ante os reis e filósofos. É um verdadeiro campeão de Deus (At 9.15; 22.15,21; 26.16-18). Como está o seu testemunho cristão? Acha-se preparado para defender a sua fé?
Sofrer a favor de Cristo e do evangelho. Em virtude de sua audácia, muito sofre por amor a Cristo (Gl 6.17). O que dantes perseguira a Igreja de Cristo, vê-se de repente perseguido por causa deste mesmo nome. No capítulo 11 de sua Segunda Epístola aos Coríntios, discorre ele acerca das muitas perseguições por ele sofridas, quer por parte de seus patrícios, quer por parte dos gentios. Mesmo perseguido, o evangelho foi poderosamente anunciado através de suas
A conversão e vocação de Paulo ensinam-nos que Deus chama e capacita a quem ele quer para ministérios específicos. Ele transforma o mais terrível dos homens num “vaso escolhido”, a fim de que proclame o seu Evangelho até aos confins da terra.Você foi chamado para anunciar a mensagem da cruz? Obedeça, já. É o tempo de segar. 

A conversão de Saulo.“Saulo (posteriormente chamado de Paulo, o equivalente grego do nome ‘Saulo’), que é mencionado pela primeira vez como tendo participado do apedrejamento de Estêvão era tão zeloso das suas crenças religiosas que iniciou uma campanha de perseguição contra todos os que acreditavam em Cristo, todos que eram do ‘Caminho’ (versão RA) (veja o testemunho de Paulo em Filipenses 3.6). A expressão ‘o Caminho’ se referia ao ‘caminho do Senhor’ ou ‘o caminho da salvação’. Por que os judeus em Jerusalém queriam perseguir os cristãos a uma distância tão grande como Damasco? Há várias possibilidades: (1) para prender os cristãos que tinham fugido; (2) para evitar a chegada do cristianismo a outras cidades importantes; e (3) para impedir que os cristãos causassem qualquer problema com Roma. [...] Damasco [era] uma cidade comercial importante, estava situada cerca de 280 quilômetros a nordeste de Jerusalém, na província romana da Síria. [...] Saulo pode ter pensado que ao eliminar o cristianismo em Damasco, ele poderia impedir a sua disseminação a outras regiões. Já próximo do seu destino, quase ao meio-dia, quando o sol estava a pino [...], Saulo repentinamente se encontrou cercado por um resplendor de luz. Embora o texto não afirme abertamente que Saulo viu a Cristo, este fato fica implícito, uma vez que ver o Senhor ressuscitado era um requisito para o apostolado do Novo Testamento (1 Co 9.1; 15.8)” (Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Vol.1. 1.ed. RJ: CPAD, 2009, pp.662-63). 

               O Evangelho propaga-se entre os gentios

Deus não faz acepção de pessoas (At 10.34). Criador de tudo quanto existe, a todos preserva pela sua bondade e justiça (At 17.25-28). Ele ama a todos indistintamente e deseja a salvação de toda a humanidade (Jo 3.16) através de Jesus Cristo (Mt 1.21; At 4.12). Esta é a mensagem que os apóstolos de Nosso Senhor proclamaram aos gentios. No Filho, todos somos amados pelo Pai, sem quaisquer distinções. Está você também disposto a anunciar o evangelho até aos confins da terra? Há muita terra ainda a ser conquistada.

 OS GENTIOS NO ANTIGO TESTAMENTO

Toda a humanidade descende de um único casal a quem Deus formara segundo a sua imagem e semelhança (Gn 1.27; 5.2). Embora criado santo, justo e bom para a glória do Senhor (Gn 5.1; Sl 115.1), o homem desobedeceu-lhe as ordens e veio a conhecer experimentalmente o pecado. Com a sua apostasia, fez com que a maldade tomasse conta do mundo (Gn 4.8,23). A Deus, então, não restou outra alternativa senão destruir a primeira civilização através de um dilúvio universal (Gn 6-9).
 Um novo começo com Noé. Apenas Noé e a sua família salvaram-se daquele cataclismo. Por intermédio dos filhos do piedoso e santo patriarca: Jafé (Gn 10.2-5), Cam (Gn 10.6-20) e Sem (Gn 10.21-31), vieram a formarem-se as nações com as suas respectivas geografias (Gn 10 - 11). Infelizmente, a humanidade porfiou em desobedecer a Deus (Gn 11.1-9). Em meio a essa desolação espiritual e moral, Deus santifica um descendente de Sem, Abraão, para que dele uma nova nação fosse formada (Gn 12.1-3). Em Abraão, fomos todos abençoados.
A exclusividade dos descendentes de Abraão (Gn 15.5,6). Ao chamar Abraão, o Senhor dá início à história de Israel (Gn 12.1-3). Seu propósito à nação judaica (Gn 18.18; 22.18) era torná-la uma propriedade peculiar, um reino sacerdotal e um povo santo (Êx 19.5,6). Ele a constituiu para que esta lhe fosse uma possessão distinta e particular (Is 44.1-2), a fim de que, por seu intermédio, alcançasse os gentios.
A partir de então, todas as demais etnias passaram a ser conhecidas como gôyim — gentios (Gn 15.18-21). Isso não significa, porém, que Deus não ame as demais nações. Ele as ama, sim! E de tal maneira amou-as, que deu o seu Único Filho, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Além do mais, em Abraão foram benditas todas as nações da terra (Gn 12.3).

 OS GENTIOS EM O NOVO TESTAMENTO

O Novo Testamento faz questão de realçar o amor de Deus não somente por Israel, mas por todos os povos. João 3.16 deixa isso bem claro. Não resta dúvida: a salvação vem dos judeus, mas não se restringe aos judeus, mas através dos judeus deve alcançar a todos os não-judeus.
Nos Evangelhos. Nos evangelhos há várias referências aos gentios (Mt 6.7,32: Mc 10.33; Lc 12.30; 18.32). Descritos às vezes com certa reserva (Mt 20.19; Mc 10.33), são eles vistos como a grande seara a ser alcançada pelos apóstolos que, no cumprimento da Grande Comissão, deixariam Jerusalém e a Judeia para evangelizar e ensinar todas as nações (Mt 28.18-20). Aliás, Isaías já destacava a missão do Cristo entre os gentios (Is 42.1-4). Durante o seu ministério terreno, o Senhor Jesus agraciou alguns destes como a mulher cananeia (Mt 15.21-28) e o centurião (Lc 7.1-10).
Nos Atos dos Apóstolos. Embora Atos 1.8 estabeleça a obrigatoriedade da missão entre os gentios, somente no capítulo 9 e versículo 15, após a conversão de Paulo, é que se declara aberta e enfaticamente a evangelização das nações (ver At 13.44-47). A resistência inicial dos apóstolos em discipulá-Ios (At 10.9-16) é vencida quando Cornélio, sua família e demais assistentes, recebem o batismo com o Espírito Santo (At 10.44-48). O fato trouxe perplexidade no colégio apostólico (At 11.1-3,18), mas após a apologia de Pedro (At 11.4-17 ver 15.7-11), a Igreja glorificou a Deus pelo fato de os gentios serem também objeto do amor de Deus (At 10.45).
 Missão e Salvação entre os Gentios. Se Pedro, com o evangelho da circuncisão, é proeminente nos capítulos de 1 a 12 de Atos, nos capítulos de 13 a 28, destaca-se Paulo com o evangelho da incircuncisão (Gl 1.7). O primeiro diz respeito aos judeus, o segundo aos gentios (At 13.44-47). Trata-se, porém, de um só evangelho — o evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Paulo estava consciente de que fora chamado por Deus para anunciar o evangelho aos gentios (At 9.15), sem os entraves da lei (At 15.19,28,29; Rm 4.9-16). Em suas viagens missionárias, não foram poucos os gentios que se converteram ao Senhor (At 11.1,18) e de bom grado ouviram a exposição da graça divina (At 13.42).
Você se preocupa com a evangelização transcultural? Se você não foi chamado ao campo, coopere financeiramente com a Obra Missionária e ore pelos que se acham além-fronteira falando do amor de Deus. A responsabilidade pelo “Ide” também é sua.

 JUDEUS E GENTIOS UNIDOS POR DEUS MEDIANTE A CRUZ

 A Igreja de Deus. Ao defender a difusão do Evangelho entre as nações, afirmou Pedro: “[...] Deus visitou os gentios, para tomar deles um povo para o seu nome” (At 15.14). Esse povo é a Igreja formada por judeus e gentios em Cristo (Rm 9.24-33). De ambos, fez Ele um só povo, derribando a parede de separação que estava no meio, e, pela cruz, reconciliou ambos com Deus em um corpo (Ef 2.14-16).
Dessa maneira, o Espírito Santo revela a Paulo (Ef 3.4,5) que os gentios não são mais estrangeiros (gôyim) e nem forasteiros, mas concidadãos dos Santos, da família de Deus (Ef 2.11-22; 1 Pe 2.5), co-herdeiros e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho (Ef 3.6).
Expansão da Igreja entre os gentios. Através de suas viagens missionárias, Paulo propagou o evangelho entre os povos e culturas conhecidos naqueles dias (Rm 15.19,20). Em várias regiões, estabeleceu ele igrejas constituídas notadamente por gentios (Rm 16.4).

A evangelização dos povos é o maior desafio da igreja moderna. A responsabilidade é nossa. O Senhor confiou-nos a Grande Comissão para que, sem remissões, alcancemos os confins da terra. Ele deseja que todos os gentios sejam salvos. Você sabia que muitos povos ainda não ouviram falar de Jesus? Como responderá você a esse grande desafio? Se o Senhor o chama à Obra Missionária, responda prontamente: “Eis-me aqui, Senhor. Envia-me a mim”. 
 “Israel e a Igreja.Nos capítulos iniciais de Atos dos Apóstolos, a recepção judaica à mensagem do evangelho foi poderosa e inquietou os líderes judaicos. Mas, depois, iniciou-se a reação e a perseguição judaicas para que a Igreja se dispersasse. Em alguns locais, a mensagem foi tirada da sinagoga e oferecida diretamente aos gentios que responderam de forma favorável (At 13.46; 18.6; 28.28). Esse padrão híbrido de recepção judaica, perseguição e busca dos gentios foi comum, em especial, no ministério de Paulo. Os apóstolos iniciaram na sinagoga, pois criam que a mensagem de Cristo era também para os de Israel. As igrejas locais desenvolveram-se por necessidade de sobreviver em face da rejeição. Essas realidades fizeram com que Lucas, em Atos dos Apóstolos, falasse de forma reiterada sobre os mensageiros da Igreja ‘se voltarem para os gentios’ e ‘advertirem Israel’. Esses temas, com frequência, aparecem lado a lado e dominam o último terço do livro de Atos dos Apóstolos. Eles mostram que a Igreja não era Israel e que essa distinção tornou-se uma realidade do ponto de vista histórico” (ZUCK, R. B., et al. Teologia do Novo Testamento. 1.ed. RJ: CPAD, 2008, pp. 160-61). 
 “A inclusão dos Gentios na Única e Nova Humanidade em Cristo (Ef 2.13-18).Paulo continua a descrever como a obra da redenção torna as pessoas um só povo em Cristo. O verso 13 começa com duas frases importantes: ‘Mas, agora’ que aparece em contraste com ‘antes’ (v.11) e ‘naquele tempo’ (v.12); e ‘em Cristo Jesus’, que aparece em contraste com ‘sem Cristo’ (v.12). Essas duas expressões enfatizam como a situação dos gentios seria drasticamente modificada, de estarem ‘longe’ para chegarem ‘perto’. Essa nova aproximação de Deus é tanto ‘em Cristo Jesus’ como ‘pelo sangue de Cristo’. Essa última se refere ao evento histórico da morte de Jesus na cruz; e a primeira está relacionada à conversão dos infiéis e sua presente união com Cristo. Os cinco versos seguintes explicam o que foi alcançado pela morte redentora de Cristo na cruz.
Os versos 14-18 revelam o âmago da mensagem de reconciliação de Paulo, e como Deus deu início ao ser eterno plano de reconciliação cósmica (embora não universal) (1.10). A palavra principal nessa passagem é paz, e ela aparece quatro vezes (vv.14,15, e duas vezes no verso 17).
O verso 14 começa com uma declaração enfática: ‘Porque ele [Cristo] é a nossa paz’. Cristo, e somente Cristo, nos deu a solução para esse problema que infesta a raça humana, isto é, a separação de Deus e de outras pessoas. Ele é a Reconciliação do povo com Deus e a Reconciliação das pessoas, umas com as outras. Assim, o evangelho torna-se uma mensagem de reconciliação (2 Co 5.17-21). Por causa de seu sangue redentor (2.14), nesse ponto de Efésios Paulo anuncia, em dois sentidos, o próprio Cristo Jesus como sendo a ‘nossa paz’:
 Como pecadores, Ele nos reconcilia com Deus pela cruz (v.16) e
 Reconcilia grupos mutuamente hostis entre si (tais como judeus e gentios) e ‘de ambos os povos faz um’ (v.14b; também vv.15-18).
A reconciliação é o tema central desta passagem. Nada, a não ser o evangelho, poderá nos oferecer, genuinamente, a paz com Deus (Rm 5.1), ‘e nada, a não ser o evangelho, poderá remover as barreiras que dividem a humanidade em grupos hostis em sua própria época’ (Bruce, 1961, 54). A paz entre judeus e gentios exigia a destruição da ‘parede de separação que estava no meio’ (v.14c). Nenhuma distinção de cor, conflito étnico, separação por classes ou divisão política era mais absoluta que a barreira entre judeus e gentios no primeiro século d.C. Bruce acrescenta: ‘O maior triunfo do evangelho na era apostólica foi que ele venceu essa antiga e longa desavença e permitiu que judeus e gentios se tornassem verdadeiramente um único povo em Cristo’” (Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. 2.ed. RJ: CPAD, 2004, pp.1219-20). 

                O primeiro Concílio da Igreja de Cristo

A igreja de Jerusalém corria o risco de se transformar num movimento religioso como outro qualquer da Judeia. Se não fosse a sábia decisão dos Apóstolos, dos líderes e da comunidade palestínica, a Igreja de Cristo estaria fadada a um fortuito fracasso já em seus primórdios. Porém, o Espírito Santo conduziu o Concílio de Jerusalém, abalizando-o por uma sábia decisão: “Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor maior encargo além destas coisas essenciais: que vos abstenhais das coisas sacrificadas a ídolos, bem como do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitas; destas coisas fareis bem se vos guardardes. Saúde” (At 15.28,28 — ARA).

O CONCÍLIO DE JERUSALÉM

Contexto.A conversão dos gentios; a tensão entre judeus e gentios; a insistência dos crentes judaizantes tradicionalistas para que os gentios adotassem o estilo de vida judaico; o combate violento de Paulo contra o evangelho judaizante; a necessidade de uma resolução que legislasse sobre o tema. 
A questão levantada.Para os gentios serem salvos, era necessário se tornar um judeu? Atualmente, é necessário alguma outra coisa, fora de confessar a Cristo, para ser salvo?

O debate.De um lado os fariseus cristãos apoiavam a visão dos judaizantes; do outro, Paulo e Barnabé enfatizavam que Cornélio e sua família foram aceitos por Deus como gentios.Em harmonia com as Escrituras, a contribuição do apóstolo Tiago foi preponderante para a resolução apostólica em conjunto com a igreja: 1) não se devia pedir aos gentios que adotassem a “cultura” judaica, pois isto “perturbaria” (15.19) a liberdade em Cristo; 2) As recomendações estabelecidas foram: não comer carne sacrificada a ídolos; não ingerir sangue e não comer carne sufocada; não praticar relação sexual ilícita. Estas resoluções deixam patentes a verdadeira liberdade que há em Cristo Jesus e o verdadeiro princípio de respeito à vida que Deus exige de nós! 
Sob as instâncias de Paulo e Barnabé, os apóstolos convocam o Concílio de Jerusalém, para tratar de uma questão que vinha perturbando os crentes gentios: Deveriam estes também observar os costumes e ritos judaicos? Isto porque, “alguns que tinham descido da Judeia ensinavam assim os irmãos: Se vos não circuncidardes, conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos” (At 15.1).
As decisões desse concílio, realizado no ano 48, foram mais do que vitais à expansão do Cristianismo até aos confins da terra.

 O QUE É UM CONCÍLIO

 Definição. Originária do vocábulo latino concilium, a palavra concílio significa conselho, assembleia. O concílio, por conseguinte, é uma reunião de representantes da Igreja, cujo objetivo é deliberar acerca da fé, doutrina, costumes e disciplina eclesiástica.
 Os concílios no Antigo Testamento. O primeiro concílio da velha aliança deu-se quando Moisés congregou os anciãos de Israel para declarar-lhes o plano de Deus para libertar os hebreus do Egito (Êx 4.29). A partir daí, muitos foram os concílios convocados quer pelos reis, quer pelos profetas, para tratar das urgências nacionais e das crises que surgiram ao longo da história de Israel no Antigo Testamento (2 Cr 34.29: Ed 10.14; Ez 8.1).
 Os concílios em o Novo Testamento. Os apóstolos reuniram-se em três ocasiões distintas, para decidir sobre pendências na comunidade cristã. A primeira vez para eleger Matias em lugar de Judas Iscariotes e aguardar a chegada do Consolador; a segunda para instituir o diaconato; e a terceira, para discutir as imposições que os judaizantes buscavam impor sobre os cristãos gentios (At 1.12-26; 6.1-15; 15.6-30).


 A IMPORTÂNCIA DO CONCÍLIO DE JERUSALÉM

A terceira reunião dos apóstolos, que viria a ser conhecida como o Concílio de Jerusalém, foi tão importante e vital à Igreja de Cristo que dela dependia o futuro do Cristianismo. Se os apóstolos houvessem cedido à pressão dos judaizantes, a religião do Nazareno extinguir-se-ia em mera seita judaica. Mas os dirigentes da Igreja, instrumentalizados pelo Espírito Santo, houveram-se com sabedoria e firmeza, possibilitando que o Reino de Deus, transcendendo as fronteiras de Israel, se universalizasse até aos confins da terra.
O Concílio de Jerusalém foi modelar desde a convocação até as suas derradeiras decisões.
 Convocação. O Concílio de Jerusalém foi convocado pelos apóstolos sob as instâncias de Paulo e Barnabé. Enviados pelas igrejas de Antioquia, Síria e Cilícia, requeriam eles fosse tomada uma resolução urgente quanto a este problema: deveriam os gentios observar também os costumes e ritos judaicos, incluindo a circuncisão?
 Presidência. Sendo a figura de Pedro preponderante entre os santos da circuncisão, conclui-se tenha ele presidido o Concílio de Jerusalém. Em todos aqueles acalorados debates, o apóstolo agiu com sabedoria, moderação. Tudo fez por preservar a unidade da Igreja no Espírito Santo.
 Debates. As discussões são acaloradas. Extremados na defesa do farisaísmo, exigiam os judaizantes: “É necessário circuncidá-los e determinar-lhes que observem a lei de Moisés” (At 15.5 — ARA).
Em seguida, Pedro levanta-se e põe-se a historiar como os gentios, por seu intermédio, vieram a converter-se a Cristo. Para calar a boca aos adversários, indaga o apóstolo: “Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais puderam suportar, nem nós? Mas cremos que fomos salvos pela graça do Senhor Jesus, como também aqueles o foram” (At 15.10,11 — ARA).
Depois da exposição de Pedro, os também apóstolos Paulo e Barnabé tomam a palavra. Faz Lucas esta observação: “Então toda a multidão silenciou, passando a ouvir a Barnabé e a Paulo, que contavam quantos sinais e prodígios Deus fizera por meio deles entre os gentios” (At 15.12 — ARA).
 O pronunciamento decisivo de Tiago. Apesar de sua reputação conservadora, sai Tiago irmão do Senhor, em defesa dos santos gentios e da universalidade da igreja de Cristo: “Pelo que, julgo eu, não devemos perturbar aqueles que, dentre os gentios, se convertem a Deus, mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, bem como das relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e do sangue” (At 15.19,20 — ARA). 

A CARTA DE JERUSALÉM.Encerrados os debates, decidem os apóstolos enviar uma encíclica às igrejas de Antioquia, Síria e Cilícia, por intermédio de Paulo, Barnabé, Judas e Silas, expondo as resoluções tomadas no Concílio de Jerusalém (At 15.27-30). Resoluções estas, aliás, que se fizeram universais tanto em relação ao tempo quanto ao espaço; tornaram-se contemporâneas dos cristãos de todas as eras. Em resumo, o documento trata dos seguintes temas:
Da salvação pela graça. Deixam os apóstolos bem patente o seu apoio ao evangelho que Paulo proclamava aos gentios: a salvação pela graça (At 15.11).
 Da comida sacrificada aos ídolos. A carta circular dos apóstolos é bem clara: “Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos” (At 15.29). Terá essa recomendação alguma serventia para nós hoje? Além das festas juninas e dos doces distribuídos no dia de Cosme e Damião, há muitos banquetes consagrados aos deuses das riquezas, às divindades do poder corrupto e corruptor, e aos demônios da permissividade moral e do relativismo ético. Outrossim, cuidado com os restaurantes que, logo na entrada, expõem a sua divindade como se fora um mero folclore. Não é folclore; é demônio mesmo.
Da ingestão de sangue e de carne sufocada. Parece uma recomendação banal? Nada na Bíblia pode ser banalizado. Ouçamos e obedeçamos à encíclica apostólica: “Que vos abstenhais [...] do sangue, da carne de animais sufocados” (At 15.29 — ARA). Receitas culinárias que empregam o sangue como um de seus ingredientes contrariam as leis divinas. Leia Gênesis 9.4.
Das relações sexuais ilícitas. Num século tão promíscuo e leniente como este, a recomendação dos santos apóstolos não haverá de ser esquecida: “[...] que vos abstenhais das relações sexuais ilícitas” (At 15.29). O que é uma relação sexual lícita? É a praticada no âmbito do casamento entre um homem e uma mulher. Logo, o sexo antes e fora do casamento é ilícito e pecaminoso (Êx 20.14; Ap 22.15). Pecado também é o homossexualismo tanto masculino quanto feminino (Lv 18.22; Rm 1.26-27; 1 Co 6.9).
A voz dos apóstolos não pode ser calada pela “lei da mordaça”.Que o exemplo dos santos apóstolos mova a Igreja de Cristo a livrar-se de toda briga local, a fim de mostrar a sua vocação universal e eterna. O mesmo Espírito que dirigiu o Concílio de Jerusalém faz-se presente no meio de seu povo, inspirando os ministros do Evangelho a tomarem decisões de conformidade com a Bíblia Sagrada. Interessante, o concílio convocado para combater o legalismo judaizante tornou a Igreja de Cristo mais santa e pura.

“A decisão do Espírito Santo.‘Na verdade pareceu bem ao Espírito Santo, e a nós, não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias: que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da fornicação [relações sexuais ilícitas — ARA]; das quais coisas fazeis bem se vos guardares’ (At 15.28,29). A expressão ‘pareceu bem ao Espírito Santo’ significa: O Espírito Santo, na sua atuação entre os gentios já testemunhara que estes foram libertos do jugo da Lei mosaica (At 10.44-48). O Espírito Santo, cuja orientação foi prometida aos apóstolos e outros líderes [e à Igreja], já testemunhara ao coração deles que os gentios deviam ser livres do fardo (Mt 18.20; Jo 16.13). [Ou seja] Os gentios foram isentos da obrigação de observar os costumes judaicos. [...] Estes convertidos já possuíam a vida e a liberdade espiritual. Por que enterrar esta vida com formulários mortos?” (PEARLMAN, M.Atos. E a Igreja se fez Missões. 1.ed. RJ: CPAD, 1995, pp. 169-70). 

                           As viagens missionárias de Paulo 

 A Igreja Primitiva cumpriu a Grande Comissão enviando Paulo e Barnabé para a obra que o Senhor os chamara. Assim, Paulo alcançou as nações de sua época. Nós, como Igreja do Senhor, também devemos fazer a nossa parte, pois ainda existem muitas nações e povos que precisam ser alcançados com o Evangelho de Cristo. Atualmente na “Janela 10x40” existem milhares de pessoas que se encontram em trevas espirituais. Como elas ouvirão o Evangelho se não há quem pregue? (Rm 10.14). E como pregarão, se a Igreja do Senhor não enviar e sustentar os missionários? (Rm 10.15). Ouçamos a voz do Espírito Santo, pois Ele continua a falar à sua Igreja: “Separai meus servos para a obra que os tenho chamado”. 
A Igreja Primitiva evangelizou o mundo gentio em aproximadamente trinta anos. O imperativo missionário de Atos 1.8 era, e sempre será, uma demanda que não admite contestação ou indolência. Movidos pelo Espírito Santo, os discípulos saíram a evangelizar e a discipular a todos os povos. Nenhuma nação deixou de ser contemplada.

A PRIMEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA (At 13 — 14)

 De Antioquia a Chipre (At 13.1-12). A primeira viagem missionária de Paulo ocorre logo após ter sido ele comissionado pelo Espírito Santo (vv.2,3). Orientado pelo mesmo Espírito, o apóstolo, juntamente com Barnabé, embarca em Selêucia, porto marítimo de Antioquia, em direção à Ásia Menor (v.4). Com isto, Lucas demonstra ser o Espírito de Cristo o verdadeiro protagonista de Atos dos Apóstolos (v.9).
Já em Chipre, cidade natal de Barnabé (At 4.36), desembarcam em Salamina, onde havia uma considerável população judaica. Ali anunciam a Palavra do Senhor à sinagoga local. Depois, viajando em direção à ilha de Pafos, proclamam o Evangelho de Cristo às suas aldeias e povoados.
De Chipre a Antioquia da Pisídia (At 13.13-52). De Pafos, subindo o rio Cestro, Paulo chega a Perge, região da Panfília, cuja população era devota de Diana (Ártemis). Após uma viagem de 160 quilômetros, o apóstolo chega a Antioquia da Pisídia, onde havia uma grande comunidade judaica e um posto militar romano.
Na sinagoga local, Paulo proclama o evangelho aos judeus da Diáspora, conduzindo muitos à conversão. Não poucos prosélitos também aderem à fé. No sábado seguinte, uma grande multidão congrega-se, a fim de ouvir a Palavra de Deus. Os judeus incrédulos, porém, saem a blasfemar e a incitar a cidade contra o apóstolo.
De Icônio ao regresso a Antioquia (At 14.1-28). Localizada no entroncamento de Éfeso, Tarso e Antioquia, era Icônio uma cidade mui estratégica à difusão do evangelho. Como de costume, Paulo põe-se a evangelizar os judeus da dispersão. Muitos crêem. Outros, porfiando em sua incredulidade, incitam as gentes contra os apóstolos.
Temendo por suas vidas, Paulo e Barnabé deixam Icônio e dirigem-se a Listra e a Derbe, cidades da Licaônia.
Em Listra, que tinha como padroeiro a Zeus, o maioral dos deuses gregos, os apóstolos pregam e restauram a saúde a um coxo de nascença. Abismados pelo milagre, os licaônios atribuíram o prodígio à manifestação de Zeus e Hermes (At 14.11,12). E já completamente fora de si, puseram-se a oferecer sacrifícios aos apóstolos que, energicamente, impediram-nos (At 14.15).
Logo em seguida, os que eram adorados como deuses são tratados como a escória da humanidade. Uma multidão, procedente de Antioquia e Icônio, incita as pessoas a apedrejarem a Paulo, que é dado como morto (At 14.19). No entanto, a semente ali plantada haveria de florescer e frutificar. 

A SECUNDA VIAGEM MISSIONÁRIA (At 15.36 — 18.28)

 Em direção à Ásia (15.36 — 16.8). Após a ruptura com Barnabé, prossegue Paulo na companhia de Silas, que também era profeta (At 15.32). Em Listra, une-se a eles um jovem greco-hebreu — Timóteo, a quem o apóstolo escreveria duas epístolas.
Deixando Antioquia, passaram pela Síria e Cilicia. Confortando as igrejas na fé, informando-as acerca da resolução do Concílio de Jerusalém (16.4,5). Em ato contínuo, atravessam a região da Frígia e da Galácia. Mas o Espírito Santo, sempre na direção dos atos de seus apóstolos, interrompe-lhes a jornada, conduzindo-os por um itinerário que haveria de mostrar-se vital à expansão do Cristianismo.
 Em direção à Europa (16.12 — 18.18). Em Trôade, Paulo é orientado, numa visão, a seguir para a Macedônia. Rumo a Filipos, passa pela Samotrácia e por Neápolis, até chegar a Filipos. Esta foi a primeira cidade da Europa a receber o evangelho. E Lídia, a primeira européia a receber a Cristo, constrange os apóstolos a hospedarem-se em sua casa.
Nessa cidade, Paulo expulsa o espírito de adivinhação de uma jovem que, por intermédio desse artifício, dava grandes lucros a seus senhores (At 16.16-18). Vendo estes que a fonte de seu ganho secara, incitaram a cidade contra os apóstolos que, levados ao tribunal, foram postos em prisão.No cárcere, Paulo e Silas adoravam a Deus quando um terremoto abriu-lhes as portas da cadeia. O episódio constrangeu o carcereiro e toda a sua família a converterem-se a Cristo (At 16.31). Já libertos, seguiram eles a Tessalônica, passando por Anfípolis e Apolônia. E dali, prosseguiram a pé por 64 quilômetros até a cidade.
 Regresso (18.18-22). De Atenas, dirigiu-se Paulo a Corinto, a mais importante metrópole da Grécia. Na cidade, fez contatos com Áquila e Priscila. Aos sábados, consagrava-se ele a proclamar o evangelho aos judeus e gentios ali residentes. Seu grande esforço resultou na conversão do principal da sinagoga — o irmão Crispo. A permanência de Paulo em Corinto foi de um ano e seis meses. Despedindo-se da igreja ali estabelecida, dirigiu-se a Éfeso, na província da Lídia. Em seguida, retorna a Antioquia via Jerusalém. 

 TERCEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA (At 18.23 — 28.31)

 De Antioquia a Macedônia (18.23 — 20.3). De Antioquia, Paulo dirigiu-se a Éfeso, objetivando confirmar a igreja local. Como alguns discípulos nada sabiam sobre o Espírito Santo, pôs-se o apóstolo a doutriná-los acerca da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Em seguida, orou para que o Espírito de Deus sobre eles viesse. Imediatamente, começaram a falar noutras línguas e a profetizar.
Como resultado de seu trabalho, a superstição é vencida na cidade.
 De Filipos a Jerusalém (20.6 — 21.17). Nessa seção de Atos, Paulo encerra a sua terceira viagem missionária. Visita a Macedônia e a Grécia. Logo a seguir, retorna a Ásia (20.1-6). Alguns fatos marcaram-lhe o regresso: seu longo discurso, a ressurreição de Êutico e o comovente discurso aos anciãos de Éfeso. Apesar de alertado divinamente sobre os perigos que o aguardavam em Jerusalém, chega à Cidade Santa.
Paulo em Jerusalém. Em Jerusalém, Paulo reúne os anciãos da Igreja em casa de Tiago e narra o que Deus fizera aos gentios através de seu ministério. Ante o relato, os presbíteros preocupam-se com a reação dos judeus a respeito de Paulo. O temor não era infundado: Paulo é acuado e agredido pela multidão. Todavia, o Senhor preserva-lhe a vida, providenciando para que seja levada a Roma, onde era mister que proclamasse o evangelho. 
Nas viagens missionárias de Paulo, vemos clara e meridianamente os Atos do Espírito Santo. Sim, o Espírito Santo continua a operar maravilhas no campo missionário, fazendo o evangelho chegar aos confins da terra. Quando intimado pelo Senhor, não se furte. Responda: “Eis-me aqui, envia-me a mim”. 
A Primeira Viagem Missionária.Como pôde o apóstolo Paulo, em tão pouco tempo, evangelizar os principais centros do Império Romano e, finalmente, instalar-se em Roma com a irresistível mensagem do Evangelho? Ou melhor: como pôde um único homem revolucionar toda a sua época? A resposta não exige muita abstração. Em primeiro lugar, era Paulo um mensageiro extraordinário do Senhor, através do qual foi o evangelho universalizado. Além disso, utilizou-se ele da infra-estrutura do império para viajar de cidade em cidade, de província em província e de reino em reino.
Providencialmente, não precisava de nenhum passaporte especial: era um cidadão romano. Somente um Deus, que é a mesma sabedoria, haveria de predispor todas as coisas a fim de que a mensagem da cruz chegasse aos confins da terra. [...] Em Antioquia, o apóstolo Paulo desempenhou uma importante etapa de seu ministério. E daqui, partiu ele para a sua primeira viagem missionária. Após o Concílio de Jerusalém, retornou à cidade com as resoluções tomadas pelos apóstolos e anciãos (At 15.23). Sua segunda viagem missionária também teria Antioquia como ponto de partida. Atualmente, Antioquia não passa de uma modesta povoação. Para nós, no entanto, será conhecida sempre como a igreja missionária por excelência” (ANDRADE, C. Geografia Bíblica. 11.ed. RJ: CPAD, 2001, pp.227-29).

                      Paulo testifica de Cristo em Roma

A respeito da viagem de Paulo a Roma. Veremos que essa não foi uma viagem fácil. Paulo enfrentou grande perigo, todavia o Senhor o guardou e o levou em segurança até o seu destino final. Em Roma, Paulo ficou em prisão domiciliar e teve a oportunidade de se reunir com os líderes da comunidade judaica, testemunhando de Cristo e dando continuidade à obra do Senhor.
 O apóstolo Paulo não era prisioneiro de César ou de Roma; era-o de Cristo (Ef 3.1; Fm 9). Do relato lucano, concluímos: os fatos que o conduziram a Roma não eram incidentais, mas propositais, pois foram dirigidos por Deus (At 23.11). Se era urgente fosse o evangelho anunciado em Jerusalém, a capital religiosa dos judeus, era premente que a palavra da salvação alcançasse Roma, a capital política do Império.
Assim chega o evangelho à capital do Império Romano. O mensageiro na verdade achava-se preso, mas a mensagem da cruz tinha livre curso em Roma, Ninguém era capaz de detê-la. A Palavra de Deus avançava sem impedimento algum.

 VIAGEM DE PAULO A ROMA (At 27.1 — 28.10)

Constrangido a apelar para César, o apóstolo Paulo é conduzido agora pelas autoridades romanas à capital do império. O que parecia um simples traslado de preso, haveria de ser registrado pela história como o início da maior expansão do Cristianismo que, conquistando toda a Europa Ocidental, não tardaria a chegar aos pontos mais ignorados do planeta.
 De Cesareia a Roma (27.1-44). Em sua viagem, o apóstolo conta com a assistência de Lucas e de um crente macedônio chamado Aristarco (ver 19.29; 20.4; Cl 4.10; Fm 24). Como diz o sábio rei de Israel, é na angústia que nasce o irmão (Pv 17.17; 18.24). Além disso, o centurião que lhe cuida da segurança, trata-o com deferência e humanidade. Permite-lhe inclusive que visite a igreja em Sidom. Quando Deus nos envia, até os inimigos fazem-se amigos e os amigos tornam-se irmãos.
Açoitada pela voragem do mar, segue a nau lenta e dificultosamente até Mirra, na Lícia. Desta cidade, zarpam em direção da Itália em um navio procedente de Alexandria. Embora prisioneiro, o apóstolo mantém o controle da situação. Mostra uma autoridade moral e espiritual que viria a surpreender a todos naquela nau. Haja vista a advertência que faz ao centurião quanto aos perigos que os aguardavam em seu trajeto a Roma. O militar, que de início prefere ouvir o piloto a Paulo, ver-se-á mais adiante obrigado a reconhecer a oportunidade de seu conselho.
 Paulo na ilha de Malta (At 28.1-10). Forçados a desembarcar em Malta, localizada ao sul da Sicília, todos são tratados com singular bondade pelos naturais da terra. Ali, opera o Senhor, por intermédio de Paulo, sinais e maravilhas. Aquele que se mostrara imune à víbora que se achava oculta nos gravetos, cura o pai de Públio, magistrado local, e recupera a saúde a muitos ilhéus. Dessa maneira, semeia Paulo uma igreja que não tardaria a florescer. Apesar das dificuldades que você enfrenta, querido missionário, Deus quer operar o sobrenatural por seu intermédio.
Paulo chega a Roma (At 28.11-15). Decorridos três meses, o navio que conduziria Paulo a Roma, zarpa generosamente suprido pelos malteses. Desembarcam em Siracusa, chegam a Régio e aportam em Putéoli. Aqui, instados pelos irmãos, o apóstolo juntamente com seus companheiros hospedam-se por sete dias.
Já em Roma, encontra-se com alguns irmãos na praça de Ápio. O Senhor jamais abandona os seus mensageiros, mesmo distantes da pátria querida, faz-nos Ele sentir-nos em casa. Você passa por alguma provação? Parece que o trabalho não avança? Não se deixe abater. A Palavra de Deus jamais voltará vazia. Você ficará surpreso com o que o Cristo está para realizar através de seu ministério.

 O EVANGELHO É PROCLAMADO NA CAPITAL DO IMPÉRIO (At 28.16-31)

Se o Senhor decretou fosse o evangelho conhecido em toda a Roma, por que manteve encarcerado o seu maior campeão? Neste momento, talvez esteja você aprisionado a entraves burocráticos dentro e fora de nossas fronteiras. Não se desespere. Ninguém haverá de algemar a mensagem da cruz. Não há protocolo capaz de barrar a vontade de Deus.
 Prisão domiciliar (28.16). Como não recaía sobre Paulo nenhuma acusação de crime capital, era-lhe permitido morar por sua própria conta. Apesar de vigiado por um soldado, tinha liberdade de ler, escrever, receber visitas e, naturalmente, evangelizar. Terá aquele militar se convertido a Cristo? Não tenho dúvidas. Mesmo sem liberdade, o Senhor deixa-nos livres para realizar a sua obra.
 Apologia entre os judeus (28.17-22). De sua prisão domiciliar, Paulo convoca os líderes da comunidade judaica para expor-lhes os eventos que o trouxeram sob algemas a Roma. Como apóstolo dos gentios, aproveita ele para anunciar que Jesus era, de fato, o Messias de Israel. Alguns deixam-se persuadir, outros preferem continuar na incredulidade. Entre os gentios, contudo, o evangelho põe-se a expandir até mesmo na elite romana. Na exposição da Palavra de Deus, seja um autêntico apologeta. Apresente, com mansidão e firmeza, as razões da esperança cristã.
 Progresso do evangelho em Roma (28.23-31). Roma era o centro político, econômico e cultural do mundo. Apesar de sua grandeza e não obstante a sua importância, a cidade fizera-se notória pela lassidão moral e pela degenerescência de seus costumes. Em seus termos, os cultos mais extravagantes e as mais exóticas religiões. E os deuses encontradiços em cada praça e logradouro?
Gente de toda parte misturava-se pelas ruas de Roma. Berço de notáveis oradores, políticos, generais e juristas, era a cidade marcada pela injustiça, ignorância e por uma soberba tola e animalesca. Haja vista as deferências cultuais que recebiam imperadores como Nero e Calígula.Todavia, ali estava um poder que haveria de sobrepor-se sobre a todos os mais afamados símbolos e potentados romanos: o Evangelho de Cristo Jesus. Haveria este de avançar com muito mais determinação do que as mais aguerridas legiões romanas. Avançaria sim e conquistaria nações sem impedimento algum.
Se Lucas deixa em aberto os Atos dos Apóstolos, por que iríamos nós fechar as portas que o Espírito Santo nos abre todos os dias? Sim, portas à evangelização nacional e portas às missões transculturais. Aproveitemos, pois, o Centenário das Assembleias de Deus no Brasil, para dar continuidade à evangelização dos povos. Atos 1.8 é uma ordenança que não pode ser esquecida. Se nos dispusermos a ir, todos os impedimentos ser-nos-ão tirados. 
Paulo em meio à tempestade.“A experiência de Paulo na tempestade, dentro da vontade de Deus, contrasta com a de Jonas, que estava em desobediência. Comparando as duas, notamos: Paulo viajava para cumprir sua sagrada vocação. Jonas fugia da chamada que recebeu. Este se escondeu e dormiu durante a tempestade. Aquele dirigia as operações e encorajava os passageiros. A presença de Jonas no navio era a causa da tempestade. O navio em que Paulo viajava seria preservado de todo dano se os tripulantes respeitassem seu aviso (At 27.9,10). Jonas foi forçado a dar testemunho acerca de Deus (Jn 1.8,9). Paulo, com boa vontade e coragem, falou acerca da sua visão e do seu Deus. A presença de Jonas no navio ameaça a vida dos gentios. A presença de Paulo era uma garantia para a vida dos seus companheiros de viagem. O navio em que Jonas viajava recebeu alívio quando ele foi jogado no mar. A conversão de Paulo salvou a tripulação do navio no qual era prisioneiro. Há muita diferença em atravessar uma tempestade dentro e fora da vontade de Deus! Paulo, andando segundo o querer de Deus, em comunhão com Ele tornou-se bênção para todos quantos atravessavam o perigo com ele. Conforme Paulo anunciou, todos escaparam ilesos para a terra. Ficaram na ilha durante o inverno, um período de três meses. Mais uma vez foi manifestada a presença de Deus através de Paulo” (PEARLMAN, M. Atos. 1.ed., RJ: CPAD, 1995, pp. 248-49). 
       Malta — “A ilha e pequena, com cerca de 29 quilômetros de extensão e 13 de largura. Está situada entre a Silícia e a costa africana. Provavelmente, seja o local identificado como a ‘baía de São Paulo’. Na época de Paulo, Augusto alojou, no local, veteranos aposentados do exército. A população falava, além do grego, sua língua original fenícia” (RICHARDS. L. O. Guia do Leitor da Bíblia. Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. 1.ed., RJ: CPAD. 2005, p.733).
       Roma — “Antiga rainha do mundo, acha-se edificada às margens esquerdas do Rio Tibre, sobre sete colinas. A cidade é mencionada nos Atos, na Epístola de Paulo aos Romanos e na Segunda Epístola a Timóteo.
No tempo de Pompeu, muitos foram os judeus levados a Roma como cativos. Para eles, o governo reservara um território na margem direita do Tibre. Apesar de desfrutarem dos favores de Júlio César e Augusto, foram os judeus perseguidos por Cláudio que resolveu expulsá-los da capital do império (At 18.2).Muitos, todavia conseguiram permanecer em Roma, pois quando Paulo aqui chegou, como prisioneiro do Império, encontrou uma considerável colônia judaica (At 28.17)” (ANDRADE, C. Geografia Bíblica. A geografia da Terra Santa é uma das maneiras mais emocionantes de se entender a história sagrada. 11.ed., RJ: CPAD, 2001, p.248).

 

 


             

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