O cristão e sua santificação
Após o derramamento do Espírito Santo sobre os irmãos na residência
dos Asbery e, como muitos ainda continuavam a freqüentar as orações, Seymour
procurou um novo espaço para as reuniões. Encontrou na Rua Azusa,
312, uma estrebaria de dois andares que, em seus primeiros dias, havia sido
um templo da igreja episcopal metodista africana. Em fins de abril, o
edifício estava limpo e organizado para acomodar cerca de 750 pessoas. Não
muitos dias depois, o mover do Espírito naquele lugar atraiu pessoas de todo
mundo. Em 18 de abril de 1906, o Daily Times, jornal de Los Angeles, publicou
uma reportagem de primeira página sobre o avivamento. Durante quase mil dias,
milhares de pessoas de todas as partes do globo visitaram a Rua Azusa e foram
profundamente tocadas pelo derramamento abrasador do Espírito Santo. Homens,
mulheres, crianças, negros, brancos, hispânicos, asiáticos, ricos, pobres,
analfabetos e doutores — todos foram alcançados pela promessa pentecostal de
Atos 2.
No
Antigo Testamento o conceito de santidade, santo ou santificado é expresso por
três palavras principais: qādash, qōdesh eqādôsh. O
verbo qādash ocorre
170 vezes no hebraico bíblico, com o sentido de “ser consagrado”, “ser santo”,
“ser santificado”. Na primeira ocorrência do termo (Gn 2.3) significa “declarar
algo santo” (Êx 20.8), mas também o estado daquele que é reservado
exclusivamente para Deus (Êx 13.2). No entanto, há 470 ocorrências do
substantivo qōdesh com
o significado de “consagração”, “santidade”, “qualidade de sagrado”, “coisa
santa”. A palavra é empregada para descrever tanto o que é separado para o
serviço exclusivo a Deus (Êx 30.31), quanto o que é usado pelo povo de Deus (Is
35.8; Êx 28.2, 38). Já o adjetivo qādôsh, isto
é, “santo”, “sagrado”, além de ocorrer 116 vezes é o vocábulo mais difundido
entre os estudantes das Escrituras Sagradas. Em Êxodo 19.6, primeira ocasião em
que se emprega o termo, designa o estado de santidade do povo de Deus (Nm 16.3;
Lv 20.26), e a santidade do próprio Deus (Is 1.4; 5.16; 40.25).
Muitos
não distinguem adequadamente as palavras santidade, santificação, santificar,
santíssimo, santo e santuário. Portanto, apresente nessa lição um quadro com
esses termos, incluindo o significado e uma referência bíblica ao vocábulo.
Esse recurso deve, preferencialmente, ser usado no final do tópico “Santidade,
Santificar e Santificação”. Reproduza o gráfico abaixo de acordo com os
recursos disponíveis.
Salvação
e santificação são as obras redentoras realizadas por Jesus no homem integral:
espírito, alma, e corpo. A Bíblia afirma que fomos eleitos “desde o princípio
para a salvação, em santificação do Espírito” (2 Ts 2.13). Esta verdade está
implícita no evangelho de João 19.34, que diz que do lado ferido do corpo de
Jesus fluíram, a um só tempo, sangue e água. Isto é, o sangue poderoso de
Cristo nos redime de todo pecado, mas a água também nos lava de nossas
impurezas pecaminosas. Cristo morreu “para nos remir de toda iniqüidade e
purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras” (Tt 2.14).
Portanto, a salvação e a santificação devem andar juntas na vida do crente.
SANTIDADE, SANTIFICAR E SANTIFICAÇÃO
1. A
santidade de Deus. A Bíblia diz que nosso Deus é santíssimo: “Santo,
santo, santo é o Senhor dos Exércitos” (Is 6.3; Ap 4.8). A santidade de Deus é
intrínseca, absoluta e perfeita (Lv 19.2; Ap 15.4). É o atributo que melhor
expressa sua natureza. No crente, porém, a santificação não é um estado
absoluto, é relativo assim como a lua, que não tendo luz própria, reflete a luz
do sol (ver Hb 12.10; Lv 21.8b).
Deus é
“santo” (Pv 9.10; Is 5.16), e quem almeja andar com Ele, precisa viver em
santidade, segundo as Escrituras.
2.
Santificar e santificação. “Santificar” é “pôr à parte, separar, consagrar
ou dedicar uma coisa ou alguém para uso estritamente pessoal”. Santo é o crente
que vive separado do pecado e das práticas mundanas pecaminosas, para o domínio
e uso exclusivo de Deus. É exatamente o contrário do crente que se mistura com
as coisas tenebrosas do pecado.
A
santificação do crente tem dois lados: sua separação para a posse e uso de
Deus; e a separação do pecado, do erro, de todo e qualquer mal conhecido, para
obedecer e agradar a Deus.
A TRÍPLICE SANTIFICAÇÃO DO CRENTE
De
acordo com a Bíblia, a santificação do crente é tríplice: Posicional,
progressiva e futura.
1.
Santificação posicional (Hb 10.10; Cl 2.10; 1 Co 6.11). No seu aspecto
posicional, a santificação é completa e perfeita, ou seja, o crente pela fé
torna-se santo “em Cristo”. Deus nos vê em Cristo perfeitos (Ef 2.6; Cl 2.10).
Quando estamos “em Cristo”, não há qualquer acusação contra nós (Rm 8.33, 34),
porque a santidade do Senhor passa a ser a nossa santidade (1 Jo 4.17b).
2.
Santificação progressiva. É a santificação prática, aplicada ao viver
diário do crente. Nesse aspecto, a santificação do crente pode ser aperfeiçoada
(2 Co 7.1). Os crentes mencionados em Hebreus 10.10 já haviam sido
santificados, e continuavam sendo santificados (vv.10,14 - ARA).
O
crescimento do crente “em santificação” ocorre à medida que o Espírito o rege
soberanamente e, o crente, por sua vez, o busca, em cooperação com Deus: “Sede
vós também santos em toda a vossa maneira de viver” (1 Pe 1.15).
a) O lado divino da santificação progressiva. São
meios, os quais o Senhor utiliza para santificar-nos em nosso viver diário.
Esses recursos divinos são: (1) O sangue de Jesus Cristo (Hb 13.12; 1 Jo
1.7,9); (2) a Palavra de Deus (Sl 12.6; 119.9; Jo 17.17; Ef 5.26); (3) o
Espírito Santo (Rm 1.4; 1 Pe 1.2; 2 Ts 2.13); (4) a glória de Deus manifesta
(Êx 29.43; 2 Cr 5.13,14); (5) e a fé em Deus (At 26.18; Fp 3.9; Tg 2.23; Rm
4.11).
b) O lado humano da santificação. Deus
é quem opera a santificação no crente, embora haja a cooperação deste. Os meios
coadjuvantes de santificação progressiva são: (1) O próprio crente. Sua atitude
e propósito de ser santo, separado do mal para posse de Deus são
indispensáveis. É o crente tendo fome e sede de ser santo (Mt 5.6; 2 Tm 2.21,
22; 1 Tm 5.22); (2) O santo ministério. Os obreiros do Senhor têm o dever de
cooperar para a santificação dos crentes (Êx 19.10,14; Ef 4.11,12); (3) Pais
que andam com Deus. Assim como Jó (Jó 1.5), os pais devem cooperar para a
santificação dos filhos. Eunice, por exemplo, colaborou para a integridade de
Timóteo, seu filho (2 Tm 1.5; 3.15). Por outro lado, pais descuidados podem
influenciar negativamente seus filhos, como no caso de Herodias que influenciou
a Salomé (Mc 6.22-24); (4) As orações do justo (Sl 51.10; 32.6). A oração
contrita, constante e sincera tem efeito santificador; (5) A consagração do
crente a Deus (Lv 27.28b; Rm 12.1,2). A rendição incondicional do crente a Deus
tem efeito santificador nele.
3.
Santificação futura. “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo
o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis
para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5.23).
Trata-se da santificação completa e final (1 Jo 3.2). Ver também: Ef 5.27; 1 Ts
3.13.
ESTORVOS À SANTIFICAÇÃO DO CRENTE
Estorvos
são embaraços que impedem o cristão de viver em santidade. Vejamos alguns
deles:
1.
Desobediência. Desobedecer de modo consciente, contínuo e obstinadamente à
conhecida vontade do Senhor (Êx 19.5,6).
2.
Comunhão com as trevas. Comungar com as obras infrutíferas das trevas (Rm
13.12); com os ímpios, seus costumes mundanos e suas falsas doutrinas (Ef 5.3;
2 Co 6.14-17).
3.
Erros a respeito da santificação. O próprio Pedro enganou-se a respeito da
santificação (At 10.10-15). Vejamos o que não é a santificação bíblica.
a) Exterioridade (Mt 23.25-28; 1 Sm 16.7). Usos,
práticas e costumes. Este último, quando bom, deve ser o efeito da
santificação, e não a causa (Ef 2.10).
b) Maturidade cristã. Não é pelo tempo que algo
se torna limpo, mas pela ação contínua da limpeza. A maturidade cristã varia,
como se vê em 1 Jo 2.12, 13: “Filhinhos”; “pais”; “mancebos”; “filhos”.
c) Batismo com o Espírito Santo e dons espirituais. O
batismo com o Espírito Santo e os dons espirituais em si mesmos, não equivalem
à santificação como processo divino e contínuo em nós (At 1.8; 1 Co 14.3).
4.
Áreas da vida não santificadas. Alguns aspectos reservados da vida do
crente que não foram consagrados a Deus, devem ser apresentados ao Senhor. Como
por exemplo, a mente, sentidos, pensamento, instintos, apetites e desejos,
linguagem, gostos, vontade, hábitos, temperamento, sentimento. Um exemplo disso
está em Mateus 6.22,23.
NECESSIDADE DE O CRENTE SANTIFICAR-SE
Para
esse tópico aconselhamos a leitura meditativa de 2 Coríntios 7.1 e 1
Tessalonicenses 4.7.
1. A
Bíblia ordena. A Bíblia afirma que temos dentro de nós a “lei do pecado”
(Rm 7.23; 8.2). Daí, ela ordenar que sejamos santos (1 Pe 1.16; Lv 11.44; Ap
22.11), pois o Senhor habita somente em lugar santo (Is 57.15; 1 Co 3.17).
2. Os
santos serão arrebatados. O Senhor Jesus que é santo, virá buscar os que
são consagrados a Ele (1 Ts 3.13; 5.23; 2 Ts 1.10; Hb 12.14). Por isso, a
vontade de Deus para a vida do crente é que ele seja santo, separado do pecado
(1 Ts 4.3).
3. A
santidade revelada de Deus. Uma importante razão pela qual o crente deve
santificar-se é que a santidade de Deus, em parte, é revelada através do
procedimento justo e da vida santificada do crente (Lv 10.3; Nm 20.12). Então,
o crente não deve ficar observando, nem exigindo santidade na vida dos outros;
ele deve primeiro demonstrar a sua!
4. Os
ataques do Diabo. Devemos atentar para o fato de que, o Diabo, centraliza
seus ataques na santificação do crente. A principal tática que o adversário
emprega para corromper a santidade é o pecado da mistura. Isso ele já propôs
antes a Israel através de Faraó (Êx 8.25). Esta mistura, inclui: da igreja com
o mundanismo; da doutrina do Senhor com as heresias; da adoração com as músicas
profanas; etc.
Em
muitas igrejas hoje, a santificação é chamada de fanatismo. Nessas igrejas
falam muito de união, amor, fraternidade, louvor, mas não da separação do
mundanismo e do pecado. Notemos que as “virgens” da parábola de Mateus 25
pareciam todas iguais; a diferença só foi notada com a chegada do noivo.
Santificação e Pentecostes
1. Santificados antes do Pentecostes. Lendo
a Bíblia cuidadosamente, vemos que os discípulos eram pessoas salvas e
santificadas e haviam recebido a unção do Espírito antes do dia de Pentecostes.
Em João 17.15-17, Jesus ora: ‘Santifica-os na verdade; a tua palavra é a
verdade’. Jesus é a Palavra e a verdade, por isso os discípulos foram
santificados pela verdade na mesma noite em que ele orou por eles (Jo
20.21-23). Os discípulos, portanto, já estavam cheios da unção do Espírito
Santo antes do dia de Pentecostes, e isso os sustentou até que foram dotados
com poder do alto. No primeiro capítulo de Atos, Jesus orienta os discípulos a
esperarem pela promessa do Pai. Não era para esperar pela santificação. O
sangue de Cristo já havia sido derramado na cruz do Calvário. Ele não ia enviar
o seu sangue para limpá-los da carnalidade, mas o seu Espírito, para dotá-los com
poder.
2. A Santificação. Não há nada mais doce,
mais sublime ou mais santo neste mundo do que a santificação. O batismo com o
Espírito Santo é o dom de poder na alma santificada, capacitando-a para pregar
o Evangelho de Cristo ou para morrer na fogueira. O batismo reveste o crente
até o dia da redenção, de modo que ele esteja pronto para encontrar-se com o
Senhor Jesus à meia-noite ou a qualquer momento, porque tem óleo em sua
vasilha, junto com a sua lâmpada.
Você é
participante do Espírito Santo no batismo pentecostal da mesma maneira que foi
participante do Senhor Jesus Cristo na santificação” (SEYMOUR, W. J. Santificados
antes do Pentecostes. In KEEFAUVER, L. (ed.). O avivamento da Rua
Azusa— Seymour. RJ:
CPAD, 2001, p.80-3).
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