O Segredo de John Hyde
Por:
John Hyde
”Meu pai era um pastor presbiteriano, e minha mãe, uma cristã
muito dedicada com uma linda voz consagrada ao Senhor. Quando jovem, decidi que
seria um missionário, um missionário que se sobressaísse. Eu queria brilhar
como missionário extraordinário. Terminei meu curso universitário e me saí
muito bem. Formei-me e me senti um tanto orgulhoso do título “bacharel” que
agora constava depois do meu nome.
Estava
determinado a dominar os idiomas indianos que teria de aprender; pois não
queria que nada, absolutamente, servisse de empecilho para que eu me tornasse
um grande missionário. Era essa minha ambição. Talvez não fosse um desejo
totalmente carnal, mas em grande parte era. Eu amava o Senhor e queria servi-lo
– e servi-lo de forma extraordinária –, no entanto meu ego estava na raiz da
minha ambição.
Meu pai
tinha um grande amigo, um colega pastor, cujo imenso desejo de ser missionário
nunca fora realizado. Ele tinha grande interesse em mim e estava encantado que
o filho do seu grande amigo tinha planos de ir à Índia como missionário. Ele me
amava, e eu também o amava e admirava.
No dia
em que subi a bordo do navio em Nova York, para empreender a missão da minha
vida na Índia, encontrei no meu camarote uma carta endereçada a mim. Reconheci
a caligrafia desse amigo do meu pai. Abri a carta, que não era muito grande, e
encontrei, em síntese, a seguinte mensagem: “Não deixarei de orar por você,
caro John, enquanto não estiver cheio do Espírito Santo”.
As palavras
mexeram com meu orgulho, e fiquei muito bravo. Amassei a carta e joguei-a num
canto do camarote. Subi ao convés do navio com espírito muito agitado. Imagine
só que absurdo: implicar que eu não estava
cheio do Espírito! Aqui estava eu, embarcando como missionário, determinado a
ser um excelente missionário – e ele tinha a coragem de insinuar que eu não
estava equipado adequadamente para a obra!
Andei
agitado para cima e para baixo naquele convés, uma batalha ardendo no meu
interior. Senti um enorme desconforto. Eu amava o homem que me escrevera aquele
bilhete. Sabia da vida santa que levava, e, lá no meu íntimo, desconfiava que
ele podia estar com a razão: eu não tinha mesmo condições de ser missionário.
Depois
de algum tempo, voltei para o camarote e fiquei de joelhos para procurar a
carta amassada. Peguei-a do chão e alisei-a; li o conteúdo novamente, vez após
vez. Ainda me senti irritado pelas palavras, porém a convicção crescia dentro
de mim de que esse homem estava certo e eu, errado. Esse processo continuou
durante dois ou três dias, deixando-me completamente agoniado. Tudo isso nada
mais era do que a bondade do Senhor atendendo às orações do amigo do meu pai,
que certamente havia batalhado em oração e tomado posse da vitória em meu
favor.
Finalmente,
quase em desespero, clamei ao Senhor para me encher com o Espírito Santo. No
mesmo instante, parecia que as nuvens escuras haviam desaparecido por completo.
Pude ver a mim mesmo e a minha ambição egoísta. Tive uma batalha até o final da
minha viagem no navio, mas, bem antes de chegar ao meu destino, decidi
firmemente que, fosse qual fosse o preço, eu realmente precisava ser cheio do
Espírito.
O
segundo momento culminante foi quando senti desejo de dizer ao Senhor que
estava disposto até a ser reprovado nos meus exames nos idiomas na Índia e a
ser um missionário trabalhando em silêncio e anonimato; que eu faria qualquer
coisa e seria qualquer coisa, mas precisava receber o Espírito Santo a qualquer
custo.
Num dos
primeiros dias na Índia, enquanto estava hospedado com um outro missionário
experiente, saí com ele para um culto ao ar livre. O missionário pregou, e fui
informado de que ele estava falando a respeito de Jesus Cristo como o Salvador
que liberta do pecado.
Depois
de terminada a pregação, um homem com aparência ilustre, falando bom inglês,
perguntou ao missionário se ele mesmo já tivera tal experiência de salvação do
pecado. A pergunta foi direto ao meu coração, porque, se a mesma pergunta
tivesse sido dirigida a mim, eu teria sido obrigado a confessar que Jesus ainda
não me salvara totalmente, já que ainda havia pecado na minha vida. Reconheci
que teria sido uma terrível desonra ao nome de Cristo se eu fosse obrigado a
confessar que estava pregando Jesus, proclamando aos outros que era um Salvador
perfeito, enquanto eu mesmo não estava liberto.
Voltei
ao meu quarto e me tranquei lá dentro. Disse para o Senhor que teria que
acontecer uma de duas coisas: ou ele me libertava de todos os meus pecados,
especialmente daquele que me atormentava constantemente, ou eu teria de voltar
para minha terra e buscar uma outra atividade lá. Declarei que não podia ficar
diante das pessoas para pregar o Evangelho enquanto eu mesmo não pudesse
testemunhar do seu poder e eficácia na minha vida.
Fiquei
lá durante algum tempo, enfrentando essa questão e reconhecendo que era
extremamente razoável que tomasse tal posição. O Senhor me assegurou que era
capaz e desejoso de me libertar de todo o pecado e que realmente era sua
vontade que eu estivesse na Índia. E, de fato, ele me libertou de tal forma que
nunca mais duvidei da sua obra completa. Posso agora ficar diante de quem quer
que seja e testemunhar, sem hesitar, da vitória que recebi. É meu prazer hoje
testificar desse fato e contar a todos da maravilhosa fidelidade de Cristo meu
Senhor e Salvador.
John
Hyde (1865-1912) foi missionário durante quase vinte anos na Índia. Foi chamado
“O Homem que Orava”, pois a oração passou a ser sua ocupação principal. Suas
orações produziram resultados impressionantes: um avivamento em 1910 na Índia e
muitas conversões diárias.
Arrependimento na China
Por:
Jonathan Goforth (1859-1936
)
Jonathan
Goforth foi missionário na China, junto com sua esposa Rosalind Goforth, de
1888 a 1934. Durante a Rebelião Boxer de 1900, ele e sua família foram
milagrosamente salvos da morte e conseguiram escapar. Quando retornaram depois,
Deus os usou poderosamente em evangelismo e avivamentos na China.
A
comunidade cristã em Shinminfu fora terrivelmente perseguida durante a rebelião
Boxer de 1900 na China. Cinqüenta e quatro pessoas foram martirizadas.
Aquelas que sobreviveram prepararam uma lista com 250 nomes das pessoas que
participaram, de alguma maneira, no massacre. A idéia era de que, um dia, elas
conseguiriam vingar-se dos assassinos.
Estávamos
no meio de um avivamento nessa mesma cidade, alguns anos depois. No quarto dia
das reuniões, à tarde, chegamos a um ponto crítico. Tive a sensação de que era
uma testemunha num cenário de julgamento. Após três horas de reunião, dei a
bênção para tentar despedir o povo.
Imediatamente,
surgiram clamores de todas as partes da congregação. “Por favor, tenha piedade
de nós e permita que a reunião continue. Não temos conseguido dormir há várias
noites, e assim será esta noite também se você não nos der uma chance de nos
livrarmos de nossos pecados.”
Pedi a
uma missionária que levasse as senhoras e as garotas para a ala feminina da
escola e ficasse lá com elas até as coisas se acalmarem. Não vi nenhuma outra
possibilidade de levar a reunião a um encerramento.
Enquanto
as senhoras e as garotas saíam uma por uma, um dos evangelistas veio para a
frente e ajoelhou-se. Ele confessou vários pecados, aparentemente de forma bem
sincera, porém a carga que visivelmente pesava sobre sua consciência não
parecia ter sido aliviada em nada.
“Já que
você confessou seus pecados”, eu disse para ele, “Deus é fiel e justo para
perdoar-lhe de todos e para purificá-lo de toda injustiça. Vá em paz.”
“Mas
não confessei o pior de todos”, ele exclamou em lágrimas. “Eu não quero
perdoar.”
“Então,
evidentemente Deus não pode perdoar você”, respondi.
“É
impossível, humanamente, que eu perdoe”, ele explicou angustiado. “No tempo dos
Boxers, um homem veio e assassinou meu pai. Desde então, senti que era minha
obrigação vingar-me de sua morte. Faz poucos dias que um amigo me escreveu
dizendo: ‘Onde está sua lealdade de filho? Seu pai foi assassinado, e você
continua sem vingá-lo. Você nem é digno de ser meu amigo’. Assim, eu não posso
perdoar àquele homem. Preciso destruí-lo.”
“Receio
dizer-lhe, então”, eu disse, “que a Palavra de Deus é muito clara quando afirma
que o Senhor tampouco perdoará a você.”
Depois
disso, ele não respondeu mais nada, porém continuou ali de joelhos, chorando.
Em
seguida, um garoto, aluno da escola, levantou-se e disse: “Em 1900, os Boxers
vieram à minha casa e mataram meu pai. Durante todos esses anos, sempre achei
que não havia outro caminho a seguir, a não ser vingar aquele mal depois que eu
me tornasse homem. Agora, porém, nesses últimos dias, o Espírito Santo me fez
sentir tão incomodado que não consigo comer ou dormir ou fazer outra coisa. Sei
que ele está instando comigo para perdoar aos assassinos por amor de Jesus. Por
favor, orem por mim.”
Um
outro moço contou como seu pai, sua mãe e seu irmão mais velho também foram
mortos pelos Boxers. No total, nove garotos foram à frente aquele dia para
contar como pais, mães, irmãos e irmãs haviam sido assassinados diante de seus
olhos, e como desde então eles haviam vivido na esperança de que um dia
conseguiriam vingar essas mortes. Mas todos confessaram que estavam se sentindo
muito mal, profundamente incomodados e sem paz, e pediram que orássemos por
eles a fim de que tivessem graça para perdoar àqueles que lhes haviam feito
tanto mal.
Depois
que as senhoras e garotas saíram, a reunião continuou por mais duas horas e
meia. Houve uma corrente ininterrupta de confissões até o fim. E durante todo
esse tempo, o evangelista que não conseguia perdoar estava ajoelhado ali na
frente, chorando. No final da reunião, ele finalmente se colocou em pé e olhou
para a congregação. Seu rosto estava cansado e angustiado.
“Já
tomei minha decisão”, ele bradou. “Não vou descansar enquanto não matar o homem
que assassinou meu pai.”
Achei
que nunca mais o veria.
Quando
voltei para o auditório das reuniões, porém, no dia seguinte, lá estava ele
perto da plataforma, com o rosto brilhando como a luz da manhã. Ele pediu minha
permissão para dizer algumas palavras antes de iniciar a pregação.
Virando-se
para o grupo de alunos, ele disse: “Eu queria convidar os garotos que
confessaram ontem e pediram graça para perdoar aos assassinos de seus pais e
familiares para que viessem aqui à frente, por favor.”
Os nove
rapazes saíram de seus lugares e ficaram enfileirados à frente da congregação.
Eu ouvi
suas confissões ontem à noite, garotos”, o evangelista começou. “Ouvi vocês
dizerem que estavam dispostos a perdoar àqueles que mataram seus familiares.
Depois vocês me ouviram, um líder na igreja, declarar que eu não poderia
perdoar e que não descansaria enquanto não tivesse me vingado do homem que matou
meu pai.
Quando
cheguei em casa depois da reunião, pensei em como o diabo tiraria proveito do
meu exemplo para tentar ridicularizar vocês na posição que tomaram. As pessoas
diriam que vocês são jovens demais para conhecer a própria mente ou coração.
Olhariam para mim como um homem inteligente que certamente conhecia o próprio
coração e diriam: ‘É claro que ele não acredita naquela conversa tola sobre
perdoar seus inimigos’.
Portanto,
a fim de que o diabo não tire proveito para induzi-los a andar no caminho
errado, eu comprei estes nove hinários que vou dar de presente a vocês, na
esperança de que, cada vez que os abrirem para louvar a Deus com os hinos
nestas páginas, vocês se lembrem de como eu, um evangelista, recebi a graça de
Deus para perdoar ao assassino do meu pai.
Logo em
seguida, a lista contendo os nomes das pessoas contra quem os cristãos haviam
planejado se vingar foi apresentada, na frente da congregação, e foi rasgada em
pedaços pequeninos, para serem jogados fora e esquecidos para sempre.
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