O AVIVAMENTO É PRODUZIDO
PELA PALAVRA DE DEUS
UM REAVIVAMENTO RELIGIOSO
LIDERADO POR ESDRAS (8.1—10.39)
Chegamos, agora, à
seção que é muitas vezes considerada a mais interessante e desafiadora do Livro
de Neemias, que abrange a nossa lição 09. J. SidlowBaxter intitula os
acontecimentos dessa parte como "um retorno ao movimento da Bíblia".
Muitas vezes, esses capítulos têm sido mencionados como o grandereavivamento e, certamente, eles têm todos os elementos de um verdadeiro despertamento:
(1) uma sincera
atenção à leitura e à exposição da Palavra de Deus;
(2) um enternecimento
dos corações, e a convicção do pecado sob o impacto da Palavra;
(3) o jejum e a
oração, a confissão do pecado e o reconhecimento da justiça e da misericórdia
de Deus; e
(4) um definitivo compromisso
de seguir o caminho que Deus determinou.
Também existe aqui o retrato da alegria
pela salvação, como visto em 8.10; porque a alegria do
Senhor é a vossa força.
1. A Leitura e a Exposição da Lei de Moisés (8.1-12)
O cenário do capítulo
8 parece fazer alusão ao último versículo do capítulo anterior (7.73): "E
chegado o sétimo mês, e estando os filhos de Israel nas suas cidades".
Quanto à importância religiosa do sétimo mês, Tisri, que corresponde a partes de setembro e outubro, veja Esdras 3. Podemos entender que, antes do período de treze ou mais anos em que
morou em Jerusalém, Esdras já havia ensinado outras pessoas, e assim
prosseguiu. Neste caso, as pessoas já conheciam o significado das festividades
que começavam com a Festa das Trombetas no primeiro dia do sétimo mês. De qualquer
maneira, Esdras entra agora em cena e, no início do sétimo mês, recebe dos
líderes judeus a solicitação de ler o livro da Lei. Enquanto isso, uma grande platéia havia se reunido - formada por homens e mulheres - em uma
área importante de Jerusalém para ouvir suas palavras. Foi erguida uma
plataforma elevada para essa finalidade diante da Porta das
Águas (3), cerca de
quinhentas jardas ao sul da área do Templo. Com a ajuda de inúmeros levitas,
que se postaram do seu lado direito e esquerdo, e depois das devidas
cerimônias, ele se colocou perante o público e leu a lei desde a alva até ao meio-dia. Quando Esdras abriu o livro (5) ele,
evidentemente, desenrolava um pergaminho e, com esse sinal, todas as pessoas se
levantaram.
A maneira pela qual
os levitas ajudaram Esdras não está muito clara. No versículo 8 ficamos cientes de que eles leram o livro, na Lei
de Deus, e declarando e explicando o sentido, faziam com que, lendo, se
entendesse. Parece
que a leitura e a interpretação foram feitas por muitos levitas; talvez,
Esdras tenha lido em hebraico e os levitas sido incumbidos de traduzir ou
parafrasear em caldeu ou aramaico, língua que havia se tornado popular durante
o exílio. Com algumas modificações, essa língua continuou a ser falada até os
dias de Jesus. Em todo caso, era necessário fazer com que o significado fosse
claro, e isso foi conseguido, pois o texto informa que todas as pessoas
entenderam.
O
primeiro resultado mencionado a respeito dessa leitura é que ela causou muita
tristeza, pois tomaram consciência de que a lei de Deus havia sido infringida.Porque todo o
povo chorava, ouvindo as palavras da Lei (9). Mas essa tristeza não
durou muito tempo: "Bem-aventurados os
que choram, porque eles serão consolados" (Mt 5.4). Quando Neemias e Esdras viram que o povo estava arrependido e
chorava, eles provavelmente disseram: Não vos entristeçais, mas alegrai-vos
porque Deus foi bondoso e perdoou o vosso pecado. Porque esse dia é consagrado ao nosso Senhor; portanto, não vos
entristeçais, porque a alegria do Senhor é a vossa força (10).
Isso parece ser uma
simplificação do processo pelo qual uma alma oprimida pelo pecado passa a
entender a disposição divina de perdoar e, de repente, troca a sua tristeza
pela alegria. Embora isso não demande um longo período de tempo, basta,
entretanto, que exista uma completa sinceridade. Parece que foi isso o que
aconteceu com aqueles que ouviram a leitura da lei feita por Esdras. A relação
entre essa experiência e a posterior busca a Deus, descrita no restante deste
capítulo, e também nos dois capítulos seguintes, que estão muito ligados ao
primeiro, também pode ser justamente questionada. Mas creio que a resposta
reside no fato de que,além da experiência
inicial do perdão, existe uma exigência subseqüente de obediência e de busca na
alma que leva a um definitivo compromisso com a plenitude da vontade de Deus
para a nossa vida. Isso é representado, pelo menos simbolicamente,
através da comemoração da Festa dos Tabernáculos (8.13-18), do jejum, da
confissão dos pecados e do reconhecimento da bondade de Deus no capítulo 9 e,
finalmente, na celebração da aliança no capítulo 10.
As belas palavras do
capítulo 10: por que a alegria do Senhor é a vossa
força, têm sido usadas como
base para muitos sermões. Na verdade, a vida cristã seria uma melancólica
rotina, se não fosse pelas fontes de alegria que sempre e, em pouco tempo,
refrigeram a alma (Is 41.18; Jo 4.14). Alan Redpath sugeriu quatro
segredos relacionados à alegria para a vida cristã:
(1) a alegria baseada
no perdão;
(2) a alegria que
pode ser cultivada em meio à aflição;
(3) a alegria que
depende da obediência a Deus e não de um bem-sucedido serviço cristão; e,
finalmente
(4) a alegria que não
depende das circunstâncias. "Fiel é Deus, que vos não deixará tentar
acima do que podeis" (1 Co 10.13).
Enviar porções (12) significa compartilhar com os menos afortunados (cf. 10).
2. A Celebração da Festa dos Tabernáculos (8.13-18)
No restante do
capítulo 8 encontramos um relato da fiel celebração da importante Festa dos
Tabernáculos. A expressão ramos de árvores espessas (15), provavelmente, significa "árvores frondosas". A
importância dessa festa está explicada em Levítico 23.40-43. De acordo com a
explicação do versículo 17, parece que essa festa em particular nunca havia
sido celebrada, nessa ocasião, de forma tão perfeita, desde os dias de Josué, filho de Num (17). A maneira esplêndida como essa festividade foi
comemorada nessa ocasião está aqui enfatizada, e não o fato de ela ter sido
celebrada. Era provada a sinceridade do povo, que havia chorado e agora se
alegrava com a leitura da lei. Eles caminhavam na luz de forma obediente, e
Deus era, por isso, glorificado. A solenidade da festa... segundo o rito (18), isto é, "o término da festa que acontecia no oitavo dia de
acordo com o costume" (Berk.).
No versículo 18,
observamos que a leitura da lei era feita diariamente, desde o primeiro dia até ao derradeiro da festa. Isso nos dá a
entender a importância e o valor da leitura da Bíblia Sagrada. A obra The Preacher's Homiletic Commentary, na matéria "Daily Bible Reading", apresenta quatro razões para o cultivo desse hábito, e quatro regras a
serem observadas em sua prática. Devemos ler a Bíblia regularmente:
(1) "Por causa
de seu infinito valor e preciosidade";
(2) "Porque ela
edifica a nossa vida interior e espiritual - a vida de Deus na alma";
(3) "Porque todos os grandes avivamentos têm estado
associados a um elevado respeito pela Palavra escrita";
(4) "Porque é
através dessa Palavra que você será julgado".
Essa leitura deve ser
feita:
(1) "Com reverência";
(2) "Com especial
afeto e, em oração";
(3) "Com a
dedicação de tempo a esta importante e preciosa leitura"; e
(4) "Com o intuito de sempre manter em mente o propósito
da Bíblia Sagrada", isto é, conceder a Deus a oportunidade de falar
conosco através dela.
3. A Confissão do Povo (9.1-38)
A alegre Festa dos
Tabernáculos havia chegado ao fim. Agora, era justo que as pessoas dedicassem
mais atenção às advertências recebidas durante os vários dias em que Esdras
recitara a lei de Deus. Depois de um breve intervalo, logo depois da Festa dos
Tabernáculos, isto é, no vigésimo quarto dia desse movimentado mês, o
povo retornou, provavelmente, a convite de Esdras para passar um dia em jejum e
oração, e, em um profundo exame da alma.
Sob a liderança dos levitas (5), talvez com Esdras
como seu principal porta-voz, eles relataram detalhadamente, as muitas
ocasiões, através de toda a história de sua nação, durante as quais Deus
providencialmente cuidou deles. Eles reconheceram que, apesar de sua rebeldia e
dos muitos atos de desobediência, o Senhor havia sido extremamente
misericordioso. Admitiram, livremente, que sua atual aflição se devia a seus
próprios pecados e aos de seus antepassados. Foi somente pela grande
misericórdia de Deus que eles não foram completamente destruídos (31). Em
seguida, cheios de humildade, e sem implorar qualquer alívio de sua aflição,
prometeram estabelecer um pacto de lealdade e obediência, com a ajuda de Deus,
para as épocas vindouras.
Era
através desses remanescentes de Israel que o Messias, o Salvador do mundo, chegaria.Vemos, portanto, como foi importante que, depois de um longo período,
acontecesse uma completa reconciliação entre Deus e o povo que Ele havia
escolhido, apesar de toda a rebeldia e de todos os pecados praticados por este
povo. Essas considerações também servem para realçar a importância dos dois
grandes líderes dessa época, Esdras e Neemias. De acordo com as palavras de
Ezequiel, eles estiveram "tapando o muro", ao trazerem a nação de
volta para Deus e ao assegurarem a continuidade do movimento redentor. Isso tudo aconteceu em um momento em que, sob um
ponto de vista exclusivamente humano, toda esperança de um reavivamento espiritual e nacional da nação de
Israel parecia totalmente perdida. Embora o Templo já estivesse
restaurado, sabemos que o coração das pessoas estava muito longe de Deus. Para eles, as Escrituras haviam se tornado um livro
sem utilidade. As defesas de Jerusalém estavam em um estado tão deplorável, que seria
impossível restaurar a importância dessa cidade como a capital da nação. Também,
a prática de casamentos mistos com pessoas de nações pagãs parecia resultar em
uma gradual absorção das famílias israelitas por outras nações vizinhas. Esse fato vem salientar a importância de seus atos no versículo 2: "A geração de Israel se apartou de todos os estranhos (ou "A
raça de Israel se separou de todos os estrangeiros", Moffatt).
Parece apropriado
pensar sobre esses acontecimentos e os dos capítulos seguintes (9 e 10), como uma representação, pelo menos simbólica, das mais profundas
experiências religiosas dos cristãos. Os elementos que vimos nesses capítulos
podem ser entendidos como:
(1) A convicção de
uma arraigada tendência em direção ao pecado e à desobediência;
(2) Uma sagrada
tristeza e a confissão do pecado;
(3) O reconhecimento
da santidade de Deus, manifestada através da justiça e da misericórdia em todos
os seus atos para com os homens; e
(4) Um total compromisso ou consagração pessoal a Deus
através da fé, na confiança de que, com a sua ajuda, é possível viver livre do
pecado.
Também lhes deste reinos e povos (22) significa "distribuiu entre eles cada canto da terra" (Moffatt). A frase: deste-lhes libertadores (27) pode ser entendida como "deste-lhes libertadores que os
salvaram das mãos de seus adversários" (Smith-Goodspeed). A localização da declaração parentética no versículo 29 faz com que
seu significado seja pouco claro. Podemos entendê-lo da seguinte forma:
"Eles se recusaram a obedecer aos teus mandamentos... os quais, se um
homem guardar, viverá" (Berk.).
4. O Pacto é Selado (10.1-39)
Na conclusão da
oração registrada no capítulo 9 foi estabelecido um pacto de lealdade. Vemos,
agora, que esse pacto foi colocado em prática, selado (1), isto é, registrado
oficialmente com um selo pessoal pelos seguintes representantes do povo:
(1) Neemias, o Tirsata, isto é, o governador, 1;
(2) os sacerdotes, 1-8;
(3) os levitas, 9.13; e
(4) Os chefes do
povo, isto é, os líderes das principais famílias (14-27).
O resto do povo, os que
tinham capacidade para entender firmemente aderiram... e convieram... num juramento, isto é, assumiram um juramento sob pena de serem amaldiçoados, de que andariam na lei de Deus, que foi dada pelo ministério de Moisés,
servo de Deus; e de que guardariam e cumpririam todos os mandamentos do Senhor (28,29). Existem muitos nomes comuns de judeus nessa relação. Os mais conhecidos -Jeremias (2), Daniel e Baruque (6) - não devem ser confundidos com os homens importantes
que tiveram o mesmo nome, e que ficaram conhecidos através de outras passagens
da Bíblia Sagrada.
Vários assuntos
especialmente mencionados no pacto podiam ser particularmente aplicados ao povo
durante esse período:
(1) casamento misto
com pagãos;
(2) profanação do sábado;
(3) pagamento do
imposto do Templo;
(4) fornecimento de
azeite para o altar; e,
(5) atendimento às necessidades daqueles que
ministravam perante o Senhor.
Essas necessidades deveriam ser
atendidas através do pagamento de dízimos e da contribuição ao Templo por meio
de todas as primícias de suas terras, e dos primogênitos dos filhos de todos os
animais. Tanto em Esdras como em Neemias está evidente a necessidade de
insistir na lei contra o casamento misto com os pagãos. Podemos entender que
também havia muita negligência em relação ao sábado, à manutenção dos serviços
no templo, e àqueles que ali ministravam. A esses assuntos também foi dada
grande importância nos demais capítulos de Neemias (12.44-47; 13.10-12,15-22).
A oferta da lenha (34) pode ser
explicada como "a ordem pela qual a casa de nossos pais, em épocas
regulares, deveria fornecer madeira para as ofertas, levando-as até a casa de
Deus, para ser queimada no altar do Senhor" (Berk.). Em todas as cidades de nossa lavoura (37), isto é, "em todas as nossas cidades rurais".
"Uma vida
consagrada", diz J. Stafford Wright, "é uma vida prática. Assim como a obediência
seguiu o arrependimento na restauração da época de Neemias, quando nos
entregamos totalmente ao Senhor devemos, da mesma maneira, traduzir essa emoção
em ações práticas".
Em relação à
desafiadora afirmação final desse capítulo, assim não
desampararíamos a casa do nosso Deus (39), a obra The Preacher's HomileticalCommentary nos dá quatro razões
para freqüentarmos regularmente a igreja, e podemos parafraseá-las da seguinte
maneira:
(1) Porque Deus
ordenou que houvesse uma adoração pública, e esta é uma exigência de sua
Palavra;
(2) Porque as
manifestações da presença de Deus nos trabalhos da igreja fazem com que todo
cristão verdadeiro deseje estar presente, a fim de não perder uma bênção
espiritual;
(3) Porque é
particularmente na adoração pública que os dons individuais do Espírito são
manifestados; e,
(4) Porque o verdadeiro
cristão considera a casa de Deus como o similar mais próximo do Céu.
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